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Reconhecendo falta de incentivos, senadores destacam superação de atletas olímpicos

Paula Pimenta
Publicado em 8/8/2021

Em Tóquio, os atletas brasileiros apresentaram o melhor desempenho do país em Olimpíadas, com 21 medalhas conquistadas. O feito inédito foi reverenciado pelos senadores, que exaltaram os atletas pela superação e, principalmente, pelo desafio diante da falta de fomento ao esporte nacional e da pandemia de covid-19.

Ex-atleta olímpica, a senadora Leila Barros (sem partido-DF) afirmou que, dos 309 atletas brasileiros em Tóquio, 131 não têm patrocínio, 36 realizaram permutas, 41 promoveram "vaquinhas" para arrecadar recursos, 33 conciliam o esporte com outro emprego e 78 nem sequer estão incluídos no Programa Bolsa Atleta.

Leila Barros participou de três Olimpíadas como integrante de seleção feminina de vôlei (Barcelona 1992, Atlanta 1996 e Sidney 2000), com duas medalhas de bronze nas últimas participações. Em discurso emocionado no Plenário na última quinta-feira (5), a senadora destacou que ações de incentivo ao esporte deveriam ser adotadas pelo Executivo ou pelo Legislativo.

Ítalo Ferreira, Rebeca Andrade, Ana Marcela Cunha, Martine Grael e Kahena Kunze estão entre os brasileiros que conquistaram medalhas de ouro (Fotos; Jonne Roriz/COB, Mirian Jeskey/COB, Jonne Roriz/COB e COI)

Desde 1998, a partir da sanção da Lei Pelé, compete ao governo federal apresentar periodicamente o Plano Nacional de Desporto, o que até hoje não foi feito, lembra Leila.

— Estamos aguardando esse Plano Nacional de Desporto há 23 anos! Eu garanto a vocês que é algo fundamental para estruturar e organizar o esporte nacional, criando uma verdadeira sinergia entre os principais atores do setor.

Superação

A representatividade de Leila Barros foi ressaltada por diversos senadores, que também reconheceram as dificuldades financeiras e sociais enfrentadas por muitos atletas brasileiros.

O senador Eduardo Braga (MDB-AM) declarou que “as Olimpíadas trouxeram esperança, orgulho, garra, força para que o povo brasileiro se inspire naqueles atletas que venceram o desafio da pandemia, venceram o desafio de não ter como treinar, de não ter apoio financeiro para poder nivelar as nossas condições [de competir] para com as de outros países”.

O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) ponderou que o Brasil poderia obter resultados ainda melhores se houvesse uma política de apoio aos esportes.

— Durante os quatro anos [entre uma Olimpíada e outra], há muito sofrimento, muita dificuldade, falta de patrocínio, falta de incentivo, falta de tudo; nem sequer temos uma política pública de Estado para o esporte. E aí tem que se arrumar um jeitinho: o Exército contrata um, a Marinha contrata o outro.

Já o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) questionou o que pode ser feito para promover um planejamento melhor para os atletas brasileiros. Ele citou o caso de Darlan Romani, que em Tóquio conquistou a quarta colocação no arremesso de peso.

— O cara treinava no quintal da sua casa. Pelo amor de Deus! E aí o técnico dele o treinava pelo telefone. Ele arrumou um jeito de se superar e quase ganhou dos gringos lá. Ele recebeu até mais glórias com toda essa exposição.

A falta de incentivos também foi criticada pela senadora Kátia Abreu (PP-TO):

— Quando chegam as Olimpíadas, a gente torce, a gente se mata e fica roendo as unhas. Mas, antes das Olimpíadas, a gente não lembra que esses atletas existem. Não existem políticas públicas para ampará-los, e, depois, a gente cobra medalha de meninos que saem da favela, de meninos e meninas de periferia.

O senador Antonio Anastasia (PSD-MG) fez questão de recordar que “as Olimpíadas, quando concebidas na Antiguidade Clássica, tinham inclusive uma característica interessantíssima, que foi relembrada agora: a trégua da paz”.

— Durante o período das Olimpíadas, as cidades-estados gregas não poderiam criar beligerância entre si, não podiam guerrear. Era um período de paz. Nada mais simbólico do que isso agora, especialmente para o Brasil, porque nós precisamos disso.

Fã declarada da “Leila do Volêi”, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) elogiou a atuação olímpica de Leila Barros.

— Então, Leila, eu quero dizer para você, amiga, que você é um orgulho para o Brasil e você é um orgulho para o Brasil por tudo na vida: pela alegria que você nos deu, pela felicidade, pela sua vibração, pela sua garra. Quem não lembra de você puxando aquela rede ali contra Cuba, não é? Quem não lembra de você recebendo as medalhas, não é?

Leila Barros e Eliziane Gama durante sessão plenária no Senado (Fotos: Marcos Oliveira/Agência Senado)

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse a Leila Barros que “o sentimento da senadora, sua emoção, seu vigor, sua eloquência representam o sentimento do Senado em relação ao esporte brasileiro, aos nossos atletas olímpicos, que, independentemente de medalhas, já são vitoriosos e representam muito bem o nosso país”.

— Vossa Excelência também já representou muito bem o nosso país, assim como o nosso colega senador Romário [PL-RJ]. Todas as nossas honras aos atletas brasileiros, sejam os atletas olímpicos, sejam os profissionais, sejam os atletas amadores, todos aqueles que fazem do esporte uma fonte constante e perene de esperança no Brasil — afirmou Pacheco.

As manifestações de congratulações aos atletas olímpicos, assim como aos senadores Leila e Romário, também foram compartilhadas em Plenário por Esperidião Amin (PP-SC), Marcos Rogério (DEM-RO), Nilda Gondim (MDB-PB), Paulo Paim (PT-RS), Rogério Carvalho (PT-SE), Rose de Freitas (MDB-ES) e Zenaide Maia (Pros-RN).

Resultado olímpico

Encerradas neste domingo (8), as Olimpíadas de Tóquio contaram com a participação de 11 mil esportistas, de 204 países, durante 19 dias de jogos. A delegação brasileira teve 309 atletas, que representaram o país em 35 modalidades diferentes, inclusive em esportes que fizeram sua estreia nestes jogos olímpicos — como o surfe, que garantiu medalha de ouro com Ítalo Ferreira, e o skate, agraciado com três medalhas de prata, conquistadas por Kelvin Hoefler, Rayssa Leal e Pedro Barros.

O Brasil teve outras participações ímpares, como a conquista inédita de medalhas na ginástica artística feminina por Rebeca Andrade: ela obteve o ouro no salto e a prata no individual geral. Além disso, o país garantiu o ouro pela primeira vez na maratona aquática feminina, com Ana Marcela Cunha, e comemorou o bicampeonato das velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze na classe 49er FX. Ouro também com Isaquias Queiroz, na canoagem C-1 1000m; Hebert Conceição, no boxe peso médio e a seleção masculina de futebol. O voleibol feminino e a boxeadora peso leve Beatriz Ferreira garantiram a prata.

A medalha de bronze foi conquistada por esportistas do judô (uma para o feminino e outra para o masculino); do tênis em dupla feminino (uma), da natação masculina (duas); do atletismo masculino (duas); e do boxe masculino (uma). Ao todo, foram sete medalhas de ouro, seis de prata e oito de bronze (veja tabela ao final da matéria). Essa marca é a melhor já obtida pelo país e superou os 19 pódios conquistados na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016.

Campeã mundial de boxe, Beatriz Ferreira ficou com a prata no último dia de competições (Foto: Gaspar Nóbrega/COB)

Mensagem olímpica

Para a senadora Leila Barros, os Jogos de Tóquio ressaltaram “o propósito de enviar ao mundo uma forte mensagem de luta por igualdade, inclusão e respeito às diversidades”.

— A Olimpíada no Japão se tornou a primeira na qual mulheres e homens puderam carregar juntos a bandeira nacional durante o desfile de abertura. E, para minha enorme felicidade, como ex-atleta olímpica, já temos a melhor participação das mulheres brasileiras em Olimpíadas.

Darlan Romani conquistou o quarto lugar no arremesso de peso (Foto: Wagner Carmo/CBAt)

A medalha, segundo Leila, é importante por valorizar a competição e consolidar a vitória.

— Porém, são vencedores e dignos de todo o nosso respeito todos os que estão ali representando o nosso país, o nosso Brasil em Tóquio. As Olimpíadas são repletas de histórias incríveis, superação, dor, vitórias e derrotas. São anos de esforço, resiliência, treinamento e absoluta, absoluta, dedicação! — declarou a senadora, que dedicou ao esporte 25 dos seus 50 anos incompletos.

Seleção feminina de vôlei após a vitória nas semifinais: elas trouxeram a medalha de prata de Tóquio (Foto: FIVB)

A senadora salientou ainda que os Jogos no Japão demonstraram ao mundo uma constante preocupação com a covid-19.

— Temos assistido aos rígidos protocolos de segurança implementados pelas autoridades japonesas, a começar pelos belíssimos estádios e arenas sem público, passando pela enorme preocupação demonstrada pelo comitê organizador local e pelo COI [Comitê Olímpico Internacional] com as medidas de prevenção. Fica aí um exemplo claríssimo para o Brasil, que, apesar do momento de queda do número de casos e de óbitos, continua sendo um dos países mais afetados pela pandemia.

Em prol do esporte

Leila disse esperar que os “bons ventos de Tóquio” possam assegurar que o próximo ciclo olímpico tenha mais atenção e mais incentivo. Ela argumentou que o setor privado precisa associar cada vez mais sua imagem à capacidade transformadora do esporte.

Tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei do Senado (PLS) 68/2017, que prevê a instituição da Lei Geral do Esporte. Se aprovado, segundo Leila, o texto irá promover aperfeiçoamentos essenciais no sistema esportivo nacional.

— Vamos cuidar da base até o topo dessa pirâmide. Vamos investir naqueles que nos inspiram, mas também vamos dar oportunidades para aqueles que estão ali sonhando. É fundamental consolidar essas políticas de fomento às modalidades esportivas e de apoio financeiro aos atletas de alto rendimento por tempo suficiente e sem interrupções.

Os skatistas Pedro Barros, Rayssa Leal e Kelvin Hoefler em ação em Tóquio, onde ganharam medalhas de prata (Fotos: COI, COI e Rodolfo Videla/rededoesporte.gov.br)

Veja abaixo as conquistas das Olimpíadas de Tóquio 2020:

CONQUISTAS DAS OLIMPÍADAS DE TÓQUIO 2020
Medalha de Ouro
OURO
Ítalo Ferreira SURFE
masculino
Medalha de Ouro
OURO
Rebeca Andrade GINÁSTICA
salto sobre a mesa
Medalha de Ouro
OURO
Martine Grael e Kahena Kunze VELA
classe 49er FX
Medalha de Ouro
OURO
Ana Marcela Cunha NATAÇÃO
maratona aquática
Medalha de Ouro
OURO
Isaquias Queiroz CANOAGEM
C-1 1000m
Medalha de Ouro
OURO
Hebert Conceição BOXE
peso médio (-75kg)
Medalha de Ouro
OURO
Seleção masculina de futebol
Aderbar Santos, Brenno Fraga, Lucão Galdino, Daniel Alves, Guilherme Arana, Abner Vinícius, Gabriel Menino, Gabriel Martinelli, Ricardo Graça, Nino Mota, Diego Carlos, Bruno Fuchs, Douglas Luiz, Bruno Guimarães, Matheus Henrique, Claudinho Leonel, Reinier Jesus, Malcom Filipe, Matheus Cunha, Antony Matheus, Paulinho Sampaio, Richarlison Andrade
FUTEBOL
campo masculino
Medalha de Prata
PRATA
Kelvin Hoefler SKATE
street masculino
Medalha de Prata
PRATA
Rayssa Leal SKATE
street feminino
Medalha de Prata
PRATA
Rebeca Andrade GINÁSTICA
individual geral
Medalha de Prata
PRATA
Pedro Barros SKATE
park masculino
Medalha de Prata
PRATA
Bia Ferreira BOXE
peso leve (-60kg)
Medalha de Prata
PRATA
Seleção feminina de voleibol
Macris Carneiro, Roberta Ratzke, Rosamaria Montibeller, Ana Cristina Menezes, Gabi, Natália Pereira, Fernanda Garay, Carol Silva, Carol Gattaz, Bia Correa, Camila Brait
VOLEIBOL
quadra feminino
Medalha de Bronze
BRONZE
Daniel Cargnin JUDÔ
peso meio-leve (-66kg)
Medalha de Bronze
BRONZE
Mayra Aguiar JUDÔ
peso meio-pesado (-78kg)
Medalha de Bronze
BRONZE
Fernando Scheffer NATAÇÃO
200m livre masculino
Medalha de Bronze
BRONZE
Laura Pigossi e Luisa Stefani TÊNIS
dupla feminina
Medalha de Bronze
BRONZE
Bruno Fratus NATAÇÃO
50m livre masculino
Medalha de Bronze
BRONZE
Alison dos Santos ATLESTISMO
400m com barreiras
Medalha de Bronze
BRONZE
Abner Teixeira BOXE
peso pesado (-91kg)
Medalha de Bronze
BRONZE
Thiago Braz ATLETISMO
salto com vara

Fonte: Comitê Olímpico Internacional / Tóquio 2020


Reportagem:  Paula Pimenta

Editora de fotografia: Marri Nogueira 

Editores: Mayra Cunha e Ricardo Koiti

Montagem de infomateria: Kátia Moreira e Caio Bueno

Crédito da foto de abertura: COI