Ex-coordenadora do PNI defende vacinação de gestantes

Da Agência Senado | 08/07/2021, 16h16

A ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) Francieli Fantinato defendeu nesta quinta-feira (8) a vacinação de grávidas contra o coronavírus. Durante depoimento à CPI da Pandemia, ela lembrou que o Ministério da Saúde suspendeu a imunização de gestantes com doses da AstraZeneca depois que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu a aplicação produto naquele público-alvo.

— A vacina é altamente favorável. A gestante em casa está em risco maior de contaminação por covid-19 e não podemos colocar em dúvida a importância da imunização desse público — afirmou.

Nesta quinta-feira, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou que grávidas sem comorbidades devem receber apenas os imunizantes Pfizer ou CoronaVac. Segundo ele, as vacinas AstraZeneca e Johnson não devem ser aplicadas em gestantes.

A vacinação de mulheres grávidas foi o que motivou a convocação de Francieli Fantinato para depor à CPI. O requerimento do senador Otto Alencar (PSD-AM) destaca que a então coordenadora do PNI recomendou “a vacinação de gestantes que tinham recebido a primeira dose da AstraZeneca com qualquer vacina que estivesse disponível, sem comprovação de segurança ou eficiência”.

Durante o depoimento, a enfermeira defendeu a “intercambialidade” entre imunizantes diferentes. Segundo ela, depois da suspensão da aplicação da AstraZeneca pela Anvisa, o PNI avaliou que seria “um ganho epidemiológico” dar seguimento à imunização de gestantes com produtos de outras marcas.

— O cenário epidemiológico era de que, a cada 100 mil gestantes, estavam morrendo 19. Optamos naquele momento por fazer a intercambialidade: inicia com uma vacina e conclui com outra. Temos isso com meningite, febre amarela, hepatite A e B. No dia seguinte, a Comunicação do [então] ministro [Eduardo Pazuello] pediu que retirasse a nota porque queria rediscutir a intercambialidade. Acatei e fomos rediscutir — lembra.

Francieli Fantinato disse que países como França, Alemanha, Finlândia e Suécia já estavam adotando a intercambialidade. Apesar disso, o Ministério da Saúde resolveu mudar a orientação: as gestantes que já tomaram a primeira dose da AstraZeneca só vão completar o ciclo de vacinação 45 dias após o parto. Segundo a pasta, a combinação de vacinas não está autorizada para nenhum público-alvo.

Intervalo maior

Durante ao reunião da CPI, o senador Otto Alencar criticou o fato de o Ministério da Saúde ter estendido de 21 para 90 dias o intervalo entre a primeira e a segunda doses da vacina Pfizer. Segundo o parlamentar, não há estudos que recomendem o adiamento. Francieli Fantinato disse que a decisão não foi dela, mas do ministro Marcelo Queiroga. Ela destacou, no entanto, que estudos indicam “a efetividade alta já com a primeira dose” do imunizante.

O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), perguntou por que o Brasil adquiriu apenas 10% das doses oferecidas pelo consórcio Covax Facility. Francieli Fantinato afirmou que a justificativa apresentada pelo então secretário-executivo do Ministério da Saúde, coronel Elcio Franco, foi a seguinte: “Não tem como colocar todos os ovos na mesma cesta”.

A ex-coordenadora do PNI disse ainda que a decisão de retirar a população carcerária do grupo prioritário de imunização foi tomada por Elcio Franco sem justificativa técnica. Para Randolfe Rodrigues, “não há dúvida” de que o militar será o primeiro indiciado da comissão.

— Ele era o executor, ele que deu cabo. Ele que foi responsável pelo projeto de morte. Ele é um dos que tem que sentar no Tribunal de Haia. Como ele estava lá cumprindo ordens, o que essa CPI tem que investigar é de quem ele seguiu as ordens — disse.

Durante a reunião desta quinta-feira, o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse que Francieli Fantinato será excluída da lista de investigados pela comissão. Ela depôs amparada por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF), que lhe garantia o direito de não responder às perguntas dos senadores.

O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) disse que a decisão inicial da CPI de tratar Francieli Fantinato como investigada pode ter contribuído para a exoneração dela da coordenação do PNI. Ele cobrou que a “cúpula da CPI” dispense o mesmo “tratamento respeitoso” a todos os convocados.

Girão perguntou por que apenas 110 milhões de doses das 144 milhões distribuídas foram efetivamente aplicadas na população. Francieli Fantinato afirmou que pode estar havendo atraso na atualização dos dados.

— Nós somos um país continental, temos diversas formas de entrada de dados. Ela pode não ocorrer na mesma velocidade da vacinação — afirmou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)