Senadores defendem cancelamento do Carnaval, mesmo com perdas econômicas

Bárbara Gonçalves | 12/02/2021, 09h44

Principal evento do calendário turístico brasileiro, o Carnaval e suas festividades foram cancelados em todo o país, na tentativa de frear o contágio pela covid-19. Até mesmo o ponto facultativo no trabalho foi revogado em 23 estados, para evitar que a população faça uso do feriado para viajar ou promover aglomerações.

Apesar dos impactos econômicos do cancelamento da festa, principalmente nas cidades turísticas, senadores defenderam as medidas como forma de desacelerar a pandemia, em meio ao aumento de casos e mortes em decorrência do coronavírus.

Representante de Pernambuco — um dos estados que promovem as maiores festividades carnavalescas do país, nas cidades de Recife e Olinda —, o senador Humberto Costa (PT) considerou que as decisões são acertadas. Ele advertiu que o registro de casos no Brasil vem aumentando de forma “exponencial”, com uma média móvel de mais de mil mortes por dia, e avalia que a festa deve ser suspensa, como forma de evitar “tragédia maior”. Pernambuco está entre os estados com alta nas mortes em razão do vírus.

O senador reconheceu os impactos econômicos gerados aos setores de cultura, turismo, comércio e serviços, diretamente ligados à movimentação nesse período, mas sugeriu que os recursos públicos, antes direcionados por estados e municípios para a promoção das festas, sejam realocados na prestação de auxílio financeiro aos trabalhadores desses segmentos.

— Nós sabemos da repercussão econômica disso, e em muitos lugares o Carnaval é vital para a sobrevivência de uma parte expressiva da população. No entanto, as prefeituras e os governos estaduais, em especial, sempre aplicaram muitos recursos na festa. Eles podem transformar esses recursos em ajuda, especialmente para aqueles segmentos que no Carnaval têm sua sobrevivência, por intermédio de algum tipo de auxílio econômico ou de auxílio cultural — sugeriu em entrevista à Agência Senado.

Em 2020, ao menos R$ 8 bilhões foram movimentados na economia do país durante o Carnaval. Um aumento de 48% em comparação ao ano anterior e um recorde, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC).

A CNC estima que os setores de transportes, hospedagem e alimentação serão os mais impactados pelo cancelamento da folia e a suspensão do feriado em algumas regiões do país.

“Além da movimentação nas capitais do Nordeste, no Rio de Janeiro e em São Paulo, muitas pessoas aproveitam o maior feriado do calendário para fugir das festas, o que movimenta o turismo também no interior e nas pequenas cidades”, disse Fabio Bentes, economista da CNC. Segundo Bentes, o carnaval é responsável, tradicionalmente, por 30% de todo o faturamento do turismo em fevereiro.

Bahia

Assim como em Pernambuco, a Bahia revogou o ponto facultativo do serviço público no estado. Até que o país volte a oferecer segurança sanitária, estão suspensos os desfiles de blocos e trios, que levam milhares de foliões pelas avenidas e pontos turísticos de Salvador.

De acordo com o senador Angelo Coronel (PSD-BA), a folia, que concede à capital o título de maior Carnaval do mundo, movimenta a economia do estado, impactando diretamente na vida financeira de milhares de famílias baianas que vivem da renda da folia.

— Isso movimenta em torno de R$ 2,5 bilhões no período do Carnaval, gerando em torno de 215 a 250 mil empregos diretos e indiretos. Então, o Carnaval sendo suspenso, pelas questões que nós sabemos da falta de imunização do povo brasileiro, vai gerar um grande prejuízo para a economia do estado da Bahia e principalmente para Salvador — disse.

Ainda segundo o senador, a capital da Bahia recebe em torno de 2,3 milhões de turistas, que também aproveitam o longo período de feriado para visitar outros pontos turísticos do estado, como a ilha de Morro de São Paulo ou a Chapada Diamantina.

Rio de Janeiro

Na cidade do Rio de Janeiro, tanto os tradicionais desfiles das escolas de samba quanto as festas e bloquinhos de rua foram cancelados. Segundo a Riotur, a capital carioca movimentou R$ 4 bilhões durante o Carnaval de 2020.

O senador Carlos Portinho (PL-RJ) reconheceu que a indústria do setor e aqueles que dependem diretamente dele estão sentindo os impactos da ausência dos festejos, mas ressaltou que neste momento é preciso priorizar a vida dos brasileiros, evitando festas e viagens:  

— Temos que conter a disseminação do vírus e temos que compreender que festas e aglomerações não contribuem para isso. A indústria do Carnaval sofre, como todo o setor cultural e de eventos, uma crise aguda. A questão econômica, que afeta diversos setores, e o auxílio do governo, de que a população precisa, não podem ser esquecidos.

Vacinação

Na avaliação dos senadores, todos os esforços dos governos, autoridades e órgãos públicos, principalmente do governo federal, precisam estar concentrados na rápida imunização da população. Eles argumentaram que somente a plena vacinação do povo brasileiro vai garantir que o Carnaval, assim como outras programações e atividades, possam ser retomados quanto antes.

— E precisamos continuar cobrando que o governo faça o que é sua responsabilidade, que é garantir vacina para toda a população para que nós possamos ter essas festas que celebram a nossa cultura, voltando numa condição plena — cobrou Humberto Costa.

O país iniciou a imunização contra covid-19 em 17 de janeiro. De acordo com o balanço da vacinação contra o coronavírus do consórcio de veículos de imprensa, publicado na quarta-feira (10), 4,3 milhões de pessoas já receberam a primeira dose de vacina. O número representa 2,04% da população brasileira.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)