Senadores lamentam mortes de Aldir Blanc e Flávio Migliaccio

Nelson Oliveira | 04/05/2020, 18h24

A importância do poeta, letrista e cronista Aldir Blanc (73) para a cultura brasileira foi lembrada nesta segunda-feira (4) por senadores que lamentaram sua morte. Nas redes sociais ou em depoimentos colhidos pela Agência Senado, os parlamentares ressaltaram a amplitude de sua obra, mencionaram versos célebres do compositor e se solidarizaram com a família de Blanc, que faleceu esta madrugada no Rio de Janeiro, onde residia, em decorrência da covid-19.

Ele estava sendo atendido desde o dia 15 de março no Centro de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), em Vila Isabel, depois de ser internado no dia 10 daquele mês na emergência do Hospital Miguel Couto, ambas instituições públicas. Como não tinha plano de saúde, quando seu estado se agravou foi necessária uma campanha para conseguir tratamento em UTI. De início, Blanc foi diagnosticado com pneumonia e infecção urinária. Diabético, resistiu por 24 dias ao colapso causado em seu organismo pelas complicações do coronavírus.

“Caiu a tarde feito um viaduto. Perdemos Aldir Blanc para a covid-19. É uma dor assim, pungente... Vai com ele uma genialidade musical sem tamanho. O Brasil fica menos colorido, menos arte, menos feliz hoje. Meus sentimentos à família e amigos. Obrigado por tudo, mestre”, publicou em sua conta no Twitter o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

O texto mescla os elogios do parlamentar a dois versos da célebre composição O Bêbado e a Equilibrista, parceria com João Bosco, considerada o hino da anistia política instituída em 1979 como um dos passos para o fim do regime militar (1964-1984):

“Caía a tarde feito um viaduto/e um bêbado trajando luto/me lembrou Carlitos” e “Sei que uma dor assim pungente/Não há de ser inutilmente”.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) seguiu linha semelhante ao citar literalmente versos da mesma canção:

“'A esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar'. É com esse lindo trecho do hino da anistia, escrito por ele, que me despeço de Aldir Blanc. Deus o tenha! Continuará sendo voz visionária entre nós. Sua arte é imortal!”, publicou o senador na rede social.

—  O Brasil perde uma figura de altíssima relevância para a cultura nacional. Não somente por seus versos ricos e cheios de significados de suas composições musicais, como O Bêbado e a Equilibrista, mas por sua obra como um todo, passando pela literatura e pelas crônicas que marcaram a vida e história de muitos brasileiros — disse à Agência Senado o senador Dario Berger (MDB-SC). 

Também do MDB, o senador Eduardo Braga (AM) escreveu no Twitter que o Brasil tem um “dia triste” para sua cultura em razão da perda da poesia de Blanc e do talento do ator Flávio Migliaccio (85).

Migliaccio trabalhou no cinema, no teatro e na televisão, inclusive como roteirista, diretor e produtor. Seu papel mais recente foi Mamede Al Aud na novela Órfãos da Terra, veiculada em 2019 pela Rede Globo. Pela emissora, ele havia interpretado, entre outros personagens, o turco Chalita, da série Tapas & Beijos (2011). As crianças foram o público-alvo de algumas célebres interpretações dele, como a do ingênuo Xerife, da novela O Primeiro Amor (1972), que teve como sequência o seriado Shazan, Xerife e Companhia, no qual Migliacio atuou ao lado de Paulo José.

Outro sucesso junto ao público infantil foi o personagem Tio Maneco, que ganhou o mundo e lhe rendeu prêmio. O artista morreu em seu sítio de Rio Bonito (RJ). De acordo com o noticiário, a Polícia Militar relatou suicídio como causa da morte. Migliaccio teria deixado uma carta apelando por proteção para as crianças. 

 — Hoje é um dia muito triste para a cultura brasileira, perdemos Flávio Migliaccio, que tanto nos divertiu em inúmeros papéis ao longo de sua carreira no teatro e na TV, e também o músico Aldir Blanc, que não resistiu a esse mal que aterroriza o mundo — disse a senadora Eliziane Gama (MA), líder do Cidadania no Senado. 

Para a senadora, Aldir foi um dos grandes nomes da música popular brasileira, “letrista e compositor brilhante", dotado de “genialidade”. Da obra de Blanc, a parlamentar destacou os clássicos Mestre-sala dos Mares, Dois pra lá, Dois pra cá e O Bêbado e a Equilibrista.

— Por meio de suas músicas, sua memória será eterna. Que Deus conforte a dor das famílias e dos milhares de fãs  —  disse a senadora pelo Maranhão.

Formado em Medicina (1966), com especialização em psiquiatria, Aldir Blanc abandonou a carreira médica em 1973, passando a dedicar-se à atividade de letrista. Chegou a atuar por pouco tempo como baterista. Seu primeiro sucesso, em parceria com Bosco, foi Bala com Bala, na voz de Elis Regina, responsável também por popularizar a canção que seis anos depois faria um réquiem às vítimas da ditadura militar e celebraria a “esperança equilibrista” num futuro luminoso para o Brasil.

Da parceria com João Bosco, sobressairiam ainda De Frente Pro Crime, Caça à Raposa e Kid Cavaquinho, todas com forte conteúdo social e político, as principais marcas da poesia dele, de par com o lirismo ácido. Vascaíno apaixonado, Blanc também publicou crônicas, algumas falando do time do coração. Além de estudioso incansável dedicou-se à observação da vida e da cultura do Rio de Janeiro, principalmente nos subúrbios e favelas.

Ouça análise da obra de Aldir Blanc em programa da Rádio Senado

Ouça o especial de 2016 da Rádio Senado sobre os 70 anos de Aldir Blanc

 

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)