Em audiência, líderes indígenas criticam atuação da Funai e pedem mais proteção

Da Redação | 10/03/2020, 14h38

Em audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) nesta terça-feira (10), lideranças indígenas pediram à Fundação Nacional do Índio (Funai) mais diálogo e proteção. A instituição, que tem como missão proteger e promover os direitos dos povos indígenas no Brasil, foi acusada de negociar com o agronegócio sem representação dos índios.

O senador Paulo Rocha (PT-PA) ressaltou a necessidade de respeitar e proteger os povos originários e suas terras e afirmou que o governo do presidente Jair Bolsonaro ameaça os indígenas. Segundo o senador, os índios cumprem um papel muito importante na proteção das florestas brasileiras.

— Queremos que a Funai cumpra o seu papel constitucional. Nós fundamos, e foi um processo democrático no nosso país. Assim como foi criado o Ministério da Saúde, para tratar da questão da saúde, o Ministério da Educação, para tratar da questão da educação, o Ministério da Agricultura, para tratar da agricultura, foi criada a Funai para tratar da questão indígena — pontuou Paulo Rocha.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) relatou que tem acompanhado a situação dos povos indígenas de perto. Para ele, o poder público e as instituições responsáveis estão violando os direitos dessa população.

— Nesse final de semana eu estive em Mato Grosso do Sul visitando os guaranis-kaiowás. Eu não tenho dúvida de falar que o momento é sério e que os povos originários estão sendo exterminados, eles estão sendo dizimados pelo próprio poder público. Não só pelos fazendeiros, mas também pelo poder público e pelas instituições legalmente constituídas — declarou Contarato.

Lideranças indígenas também criticaram a atuação do governo e da Funai nos assuntos referentes aos povos originários. A representante do povo munduruku, Alessandra Munduruku, declarou que a Funai está negociando com o agronegócio sem consultar os povos indígenas.

— A Funai era do índio, agora é do agronegócio— afirmou a líder, que também criticou o suposto desenvolvimento levado pelo “homem branco” aos territórios ocupados pelos índios. — O desenvolvimento para a gente é de morte. Um desenvolvimento para o índio beber água suja — ressaltou Alessandra.

Autonomia

Representando a Funai, o antropólogo Cláudio Eduardo Badaró disse que a tarefa institucional da entidade é respeitar as leis e normas e abrir-se para o novo. De acordo com o antropólogo, o futuro dos povos indígenas no Brasil é incerto, mas caminha para ser promissor, devido à autonomia atribuída a eles. Para Badaró, há uma desvalorização do trabalho feito pela Funai.

— O que nos preocupa é quando nós temos um discurso açodado, desesperado e acusatório e não levamos em conta o trabalho maravilhoso que vem sendo feito por essa equipe maravilhosa que temos na Funai — declarou.

Para o líder kaiapó Bepnhóti Atydiar, o atual governo quer acabar com as terras indígenas e não há fiscalização da Funai. Ele declarou que vai lutar para evitar a apropriação dos territórios indígenas pelo agronegócio.

— Hoje o governo está olhando só para aquele indígena que quer se envolver com mineração, garimpo e criação de gado — destacou Bepnhóti Atydiar.

Fernando de Oliveira sob a supervisão de Sheyla Assunção

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)