Diabéticos serão 700 milhões no mundo até 2045, alerta debate na CAS

Da Redação | 27/11/2019, 14h52

O atual número de 463 milhões de diabéticos no mundo deverá aumentar em 51% até o ano de 2045, passando para 700 milhões. Esse alerta foi feito por especialistas ouvidos em audiência pública da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) nesta quarta-feira (27). O debate sobre a prevenção do diabetes e o acesso aos tratamentos da doença atendeu requerimento dos senadores Jorge Kajuru (Cidadania-GO) e Romário (Podemos-RJ), que preside o colegiado. 

Presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Hermelinda Pedrosa ressaltou que um em cada nove brasileiros tem diabetes e o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial da doença. A especialista reconheceu o desafio do país para enfrentar o problema, pela sua diversidade e dimensões continentais. Mas defendeu um rastreamento integrado e medidas para prevenção e capacitação dos profissionais da saúde em todas as regiões. 

— Há um desequilíbrio no controle. Apenas 10% dos pacientes com diabetes tipo 1 estão dentro das metas. Esse é um dado funesto, porque traz outra série de complicações. Os estados do Norte e Nordeste têm um quadro muito pior — destacou. 

Representando a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o médico Fábio Viegas informou que 69,3% do total de mortes no Brasil são atribuídas a doenças crônicas não transmissíveis, entre elas o diabetes, que corresponde a 5,3%. A despesa anual do Ministério da Saúde com insulinas, em 2018, foi de R$ 338 milhões, e R$ 96.9 milhões por ano é o custo estimado total de internações devido ao diabetes. Segundo Viegas, em 2018 foram realizadas 30.497 internações com amputações em pacientes diabéticos no país.

— Vejam o impacto que essa doença leva, não somente ao SUS, mas também à saúde suplementar. O paciente com diabetes e com obesidade fica na intersecção de políticas públicas, sem ser diretamente atendido por nenhuma delas — afirmou. 

Viegas defendeu que a cirurgia metabólica seja inserida como opção de tratamento do diabetes. Segundo ele, o procedimento é simples e resulta em benefícios para pacientes que não conseguem controlar o tipo 2 da doença. Segundo Fábio, são altas as chances de remissão da enfermidade com a medida, inclusive em pacientes obesos. 

— Não temos que falar de cura, mas de controle. E esses níveis [de controle] chegam acima de 70%. É uma alternativa que, sim, deve ser considerada. 

Novembro Azul

O representante da Associação de Diabetes Juvenil, Heithor Zanini, frisou a importância da campanha Novembro Azul no combate ao diabetes e da sanção da Lei 13.895/2019, que institui a Política Nacional de Prevenção ao Diabetes e de Assistência Integral à Pessoa Diabética. Zanini disse, no entanto, que ainda é necessário melhorar as políticas públicas. Ele sugeriu, por exemplo, que a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao SUS passe por uma reformulação e tenha representantes de cada secretaria do Ministério da Saúde. 

— Mas se tivéssemos que escolher o problema agudo, crítico e urgente em relação ao tratamento de diabetes no país, seria a dispensação das insulinas análogas de ação rápida. As entregas de outubro, dezembro e março somam 3,9 milhões de canetas. Em estoque ainda há 2,9 milhões. É claramente um gargalo que dificulta o acesso dos pacientes a um melhor tratamento.

Ação multidisciplinar

Integrante do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, Maria José Oliveira Evangelista observou que mudar estilos de vida não é tarefa simples. Segundo ela, não basta que os profissionais de saúde orientem os pacientes a parar de fumar, de beber e diminuir a ingestão de açúcares, por exemplo. Mas o autocuidado apoiado, que sugere uma mudança gradativa de costumes, segundo a debatedora, é um caminho para diminuir os índices de diabetes no país. 

Maria José pediu aos parlamentares que destinem emendas para a aquisição de equipamentos e insumos e defendeu a regionalização dos atendimentos, para que os pacientes não precisem percorrer longas distâncias. Ela sugeriu ainda o fortalecimento da atenção primária, bem como a integração das consultas, em caráter multidisciplinar.   

— É preciso que um centro, em qualquer lugar, não atenda apenas aos pacientes de alto risco, mas faça educação permanente junto à equipe da atenção primária, dos ambulatórios, e seja aquele formador, porque não temos pessoas formadas adequadamente no país inteiro. 

Médico cirurgião do aparelho digestivo, Áureo Ludovico observou que o diabetes é um problema de dimensão mundial. Segundo ele, países como a Índia têm quase o equivalente à população brasileira de diabéticos. Por isso, o médico disse que o problema não tem foco único e deve ser tratado de modo compartilhado com todas as entidades e pessoas ligadas ao assunto. 

— Todos têm importância na abordagem. Não há como tratar esse problema sem uma atenção combinada ou todos dando a mão e entendendo de forma a ajustar a nossa postura a cada situação. Essa é uma doença que tem a alternativa de remissão, mas, infelizmente, representa apenas uma parte do tratamento. Os órgãos competentes devem “abrir a cabeça” para todas as alternativas de tratamento, encaixando a todos, porque todos são importantes — pontuou. 

A oftalmologista Francyne Veiga Cyrino destacou o risco de cegueira entre os diabéticos. Ela citou a importância de mutirões em várias partes do país que ajudam no diagnóstico precoce, com vistas a minimizar complicações futuras nesses pacientes. E defendeu a realização de mais campanhas de conscientização pelo Brasil. 

Governo

O diretor de Programa da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Lucas Wollmann, mostrou ações do governo para melhorar o tratamento e diminuir os índices de diabetes no país. Entre essas iniciativas, ele destacou o programa Saúde na Hora, que oferece mais cobertura na atenção primária, o Médicos pelo Brasil, que levará profissionais para áreas mais carentes, e o Previne Brasil, que foca nos resultados de saúde da população. 

Wollmann garantiu que há medicamentos para tratamento do diabetes disponíveis no SUS e que o ministério tem um pacote de ações direcionadas a gestores, profissionais e pacientes, com definições sobre a atribuição de cada integrante dessa rede. O intuito do governo, segundo o debatedor, é dar transparência e clareza nas informações e orientar melhor a sociedade sobre os serviços. 

Romário explicou que a audiência pública desta quarta-feira precisou ser adiantada, devido à sessão do Congresso Nacional para análise de vetos presidenciais. Ele falou que discutir o diabetes é importante para toda a sociedade e disse que pretende aprofundar o debate na CAS em 2020.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)