Biblioteca do Senado disponibiliza boletim com títulos de autoras negras

Da Comunicação Interna | 25/11/2019, 10h08

Em homenagem ao Dia da Consciência Negra e em cumprimento às ações do Plano de Equidade de Gênero e Raça do Senado, a Biblioteca Acadêmico Luiz Viana Filho lançou, nessa quarta-feira (20), o primeiro Boletim de Bibliografias Selecionadas – Autoras Negras: Protagonismo Feminino. Foram selecionadas 15 obras de autoras negras de diversos países que estão entre as mais de 100 obras disponíveis no acervo das bibliotecas da Rede Virtual de Bibliotecas (RVBI) sobre o assunto.

Segundo a bibliotecária Stella Vaz, uma das responsáveis pela seleção das obras que estão no boletim, os títulos foram escolhidos pelo grau de relevância que as autoras representam para a sociedade, à exemplo da norte americana Toni Morisson, a primeira mulher negra a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura.

— A ideia desse boletim é justamente dar publicidade a essas obras e visibilidade do protagonismo feminino negro — explica Stella.

Além de escritoras internacionais, constam no boletim oito autoras brasileiras, entre elas Cristiane Sobral cujas obras estão diversificadas em gêneros distintos como poesia, conto, teatro e literatura infantil. O boletim destacou sua obra Não vou mais lavar os pratos, um livro que contém 123 poemas ligados ao cotidiano e que aborda motes como maternidade, memórias da infância, relações familiares e a situação atual da mulher negra.

Para Cristiane, as autoras negras ainda compõem um percentual muito pequeno na literatura brasileira.

— Elas ainda são pouco divulgadas e pouco conhecidas do grande público, pouco discutidas nas universidades e escolas. Embora exista a Lei 10.639 [de 2003] que institui a obrigatoriedade da história da África e do negro nas escolas, a presença de autoras negras é ainda muito pequena — revela a escritora.

Em suas viagens pelo país, Cristiane tem descoberto um número expressivo de autoras negras, porém fora do circuito das editoras tradicionais.

— O que significa que a nossa invisibilidade não é inexistência, nós somos muitas por esse país, nós escrevemos, e muitas vezes não temos acesso ao mercado editorial tradicional, mas produzimos publicações independentes — afirma.

Cristiane elogia a iniciativa do Senado e entende que esta é uma oportunidade de as mulheres negras serem vistas como contadoras, escritoras, ficcionistas e inventoras de suas próprias narrativas.

— São muito importantes quaisquer projetos que possam dar visibilidade à escrita de autoras negras que contribuem para contar a história do povo negro nesse país, que compõe cerca de 54,1% da população. Somos mais de 100 milhões de brasileiros — destaca.

Cristiane é carioca, moradora de Brasília e escritora há 19 anos e atualmente uma das vozes mais contundentes da literatura negra do país.

Já para Stella Vaz, a visibilidade editorial das mulheres tem sido uma conquista recente, associando-se à negritude, onde a invisibilidade torna-se evidente. A bibliografia selecionada sinaliza um esforço da Biblioteca do Senado para contribuir com essas conquistas

— Desse modo, a Biblioteca se associa ao Plano de Equidade de Gênero e Raça do Senado Federal, que visa a construir uma cultura organizacional que expresse valores de igualdade, equidade e respeito — ressalta Stella.

Patrícia Coelho, coordenadora da Biblioteca do Senado, também destaca a importância desse trabalho e entende que o racismo, os estereótipos atribuídos à cultura negra e outros temas fazem parte da escrita das mulheres que figuram no Boletim.

— É o empoderar por meio da escrita, da literatura, da poesia e de outros gêneros literários. É um pincelamento do protagonismo feminino negro no mercado editorial. É um modo negro e feminino de ver o mundo — afirma.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)