Especialistas fazem análise crítica da participação do Brasil no Brics

Da Comunicação Interna | 11/11/2019, 15h45

Especialistas e parlamentares debateram, na tarde dessa quinta-feira (7), no Senado, os aspectos econômicos, tecnológicos e políticos das relações entre os países que compõem o grupo Brics. O debate, que fez parte da programação do "Encontro Interlegis: Brics – Riscos e oportunidades – para onde vai o Brasil?", foi encerrado pelo economista e consultor de finanças Ricardo Amorim.

O termo Brics foi criado em 2001 para designar um conjunto de países emergentes no cenário econômico internacional: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que, juntos, representam mais de 40% da população mundial, ocupam um quarto do território global e possuem um PIB combinado de aproximadamente US$ 18 trilhões, segundo dados oficiais.

Um dos palestrantes foi o cientista político e deputado estadual Heni Ozi Cukier (Novo-SP), que fez uma análise crítica, a partir do ponto de vista estratégico e político, do significado do Brics e dos possíveis ganhos do Brasil com a participação no grupo.

— Quando a gente vai para o campo das relações econômicas, podemos dizer que o Brics tem algumas razões para existir, como a ideia de transformar a governança global e a cooperação econômica Sul-Sul [entre países em desenvolvimento do Hemisfério Sul], na qual o Brasil já se aventurou e não deu muito certo. Por isso, acredito que privilegiar as relações comerciais com o Sul-Sul dá impressão de que o Brasil coloca as grandes potências econômicas em segundo plano.

Sobre os aspectos políticos do Brics, o deputado apontou questões que considera preocupantes, como o risco de o Brasil comprometer algumas das relações comerciais que possui com os demais países participantes do grupo e as chances de ficar numa “posição desconfortável com outros países mais naturalmente próximos da nossa cultura, localização geográfica e interesses”.

— A questão da democracia me parece bem comprometedora quando você tem no grupo países como Rússia e China, que são os líderes dessa recessão democrática que estamos acompanhando no mundo. São esses países que estão comandando isso. Me parece estranho o Brasil estar nesse grupo — afirmou.

O advogado e servidor do Senado Victor Nepomuceno destacou que o Brics possui problemas estruturais complexos e, segundo ele, de difícil solução. De acordo com o servidor, as barreiras do grupo passam pelo viés ideológico, por conta das políticas de governo que são divergentes, e pela incompatibilidade de posicionamentos entre os países participantes.

— Temos pontos de divergência que hoje não estão causando problema, mas acredito que eles trazem uma certa letargia no crescimento dessa associação. Tanto que não temos uma grande decisão global que o Brics tenha interferido ou tomado até hoje. Então, qual é a essência desse grupo mesmo? — questionou Nepomuceno, que trabalha no gabinete da senadora Soraya Thronicke (PSL-MS).

Tecnologia

Diretamente de Florianópolis (SC), o empresário Rodrigo Osmar Carelli salientou que, no âmbito da segurança cibernética, não há perspectivas de desenvolvimento tecnológico entre os participantes do grupo.

— Eles não se preocuparam sobre como seria essa cooperação. Acredito que a abertura para a participação de mais países poderia ajudar nesse sentido — comentou.

Paulo Rogério Foina, que possui pós-doutorado em computação, ressaltou a importância de o Brasil estar preparado para aproveitar eventuais vantagens da associação ao Brics, a exemplo do expressivo crescimento tecnológico da China nos últimos anos.

— Hoje, a China é a maior potência tecnológica, e nós precisamos de investimento [para acompanhar]. A gente até investe, mas investe mal. Precisamos melhorar isso — disse.

Brexit

Nesta segunda-feira (11) o Interlegis discute o Brexit (processo de saída do Reino Unido da União Europeia) em mais uma edição do "Encontro Interlegis". O evento, marcado para as 15h no auditório do Interlegis, reunirá Vijay Rangarajan, embaixador do Reino Unido no Brasil; o embaixador Carlos Perez, do Ministério das Relações Exteriores (MRE); Arthur Vittemberg, da Instituição Chieving Alumini; e o consultor do Senado Márcio Pereira Garcia

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)