Indicação de Fabio Kanczuk ao Banco Central passa na CAE e vai ao Plenário

Rodrigo Baptista | 29/10/2019, 13h47

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou nesta terça-feira (29), após sabatina, o nome de Fabio Kanczuk para assumir a Diretoria de Política Econômica do Banco Central (BC). Foram 16 votos favoráveis e 4 contrários. A Mensagem 79/2019 com a indicação segue para votação no Plenário do Senado.

Se aprovado pelo Plenário, ele atuará ao lado do presidente do banco, Roberto Campos Neto, e de outros sete diretores.

Indicado pela Presidência da República, Kanczuk respondeu a uma série de questionamentos dos senadores durante a sabatina. O assunto mais recorrente nas perguntas foi o problema do spread bancário — diferença entre os juros que os bancos pagam para captar recursos e os juros que cobram quando emprestam esse dinheiro. Primeiro a levantar a questão, o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) ressaltou que, apesar de o Comitê de Política Monetária (Copom) ter adotado um ciclo de redução da taxa básica de juros (Selic) ao longo de 2019, o custo do crédito no Brasil prossegue alto.

—  O que é que podemos fazer para que os juros se tornem civilizados para a economia, para o consumidor e para as empresas na economia real? Esse spread não encontra paralelo no mundo — indagou o senador.

Rose de Freitas (Podemos-ES) e Elmano Férrer (Podemos-PI) também perguntaram como fazer para reduzir os juros para empresários e pessoas físicas.

Em resposta, Kanczuk apontou, como algumas das razões que impedem a cobrança na ponta de juros mais próxima da Selic, a alta inadimplência e a dificuldade de bancos e financeiras de receberem as garantias dadas pelos clientes na hora de contratar um empréstimo.

Cadastro positivo

Segundo o indicado, o BC está trabalhando para resolver o problema do spread. Para ele, o cadastro positivo, ainda que não tenha impactado significativamente o setor inicialmente, pode ajudar a reduzir os juros, quando se consolidar. Ele disse ainda que o aumento da concorrência no mercado de crédito com o crescimento das fintechs (startups de tecnologia voltadas para o mercado financeiro) vai tornar o crédito mais barato.

— É com open banking e fintechs que vamos ganhar a batalha do spread. De forma geral, o que precisa é ter uma atenção muito grande contra práticas anticompetitivas — defendeu.

Alguns senadores não ficaram satisfeitos com as respostas e disseram que poderão barrar futuras indicações, se o problema não for sanado pelo BC.

Rose de Freitas garantiu não ter nada contra o indicado, mas lamentou que o problema dos juros altos se arraste há décadas. Ela pediu que o indicado leve o “recado” dos senadores ao BC.

— Que não passe mais nenhum diretor do Banco Central sem que tudo que for debatido e prometido seja cumprido — disse a senadora.

Esperidião Amin (PP-SC) afirmou que o Brasil é “prisioneiro do juro” desde os anos 1990. O Banco Central, segundo ele, nunca conseguiu resolver o problema, que tem gerado frustração nos brasileiros.

— O Banco Central como instituição não me agrada, o desempenho não me agrada. No próximo [indicado], eu vou ter que descontar essa frustação do brasileiro que não vê ação coerente para civilizar o juro. O próximo do Banco Central que aparecer aqui e a situação estiver a mesma, eu vou votar contra —  disse o senador.

Ao comparar os juros cobrados no Brasil com os de países vizinhos, Rogério Carvalho (PT-SE) afirmou que os empréstimos são mais caros aqui pela “cartelização” do sistema financeiro.

— A inadimplência é uma grande desculpa, porque nos países vizinhos a inadimplência é a mesma e os juros são mais baixos. Eu diria que o problema é a cartelização do nosso sistema financeiro — apontou.

Perfil

O relator da indicação na CAE, senador Otto Alencar (PSD-BA), destacou “o alto nível de qualificação profissional e a formação acadêmica e técnica” do indicado para a diretoria do BC.

Fabio Kanczuk nasceu em 1969, em São Paulo. Graduou-se como engenheiro eletrônico no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em 1991. Concluiu mestrado e doutorado em economia pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles, nos anos de 1995 e 1998, respectivamente.

Atuou como professor da Universidade de São Paulo (1991 a 2012) e foi professor visitante na escola de negócios de Harvard (2001 a 2002) e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2000 a 2001), além de professor assistente na Universidade da Califórnia (1995 a 1997).

Kanczuk também foi consultor independente na Syllabus Engenharia Econômica (2014 a 2016) e sócio e economista-chefe na Brazil Warrant Gestão de Investimentos (2012 a 2014), na Reliance Asset Management (2007 a 2012) e na MCM Consultores Associados (2002 a 2007). Atuou ainda na Rosenberg & Associados. Declarou ser sócio da Syllabus.

Em 2018, foi diretor-executivo para o Brasil e outros oito países junto ao Banco Mundial, tendo sido secretário de Política Econômica no período de outubro de 2016 a setembro de 2018.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)