Para CRE, Brasil não deve tomar partido no conflito entre Rússia e Ucrânia

Da Redação | 04/07/2019, 14h44

A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) aprovou nesta quinta-feira (4) o relatório de Jaques Wagner (PT-BA) sobre um pedido do Parlamento da Ucrania, para que o Senado brasileiro manifestasse oficialmente uma condenação à Rússia por "repressões políticas contra cidadãos da Ucrânia, agressão armada e que liberte presos políticos ucranianos".

Wagner, em seu relatório, que também será encaminhado ao Ministério das Relações Exteriores, considerou "uma temeridade que o Brasil tome partido em um conflito entre duas nações, com as quais nosso país tem boas relações". O principal motivo para a solicitação do Parlamento da Ucrânia está ligada a conflitos ocorridos na região da Crimeia em novembro do ano passado.

Entenda o conflito

Segundo o governo da Ucrânia, 23 tripulantes de embarcações da Marinha foram presos em 25 de novembro de 2018, após os barcos terem sido alvejados por forças russas no estreito de Kerch, na Crimeia. A Ucrânia defende que o fechamento do estreito é uma violação da lei internacional, já que entende que a Crimeia é parte de seu território. Por outro lado, a Rússia argumenta que o estreito de Kerch é território russo, pois a Crimeia foi reincorporada ao país após plebiscito em 2014, com o apoio de 97% dos eleitores da região.

— O interesse maior do Estado brasileiro é manter relações com Rússia e Ucrânia num bom nível. Inclusive nossa Constituição deixa claro que, nas relações internacionais, devemos seguir os princípios da não-intervenção e solução pacífica de conflitos. Se bem que, nos últimos tempos, esses princípios não estejam sendo observados pela política externa brasileira, com a inclinação a tomar partido nas disputas geopolíticas mundiais, o que é um desvio das nossas tradições. Mas avalio que o Senado não deve cometer estes mesmos desvios — deixou claro Wagner na defesa do seu relatório, que acabou aprovado e na prática nega o pedido feito pelo Parlamento da Ucrânia.

Interesses poderosos

Wagner ainda acrescenta que, no Ocidente, atribui-se quase exclusivamente à Rússia a responsabilidade por uma série de conflitos recentes relacionados à Ucrânia. Mas ele entende que uma análise mais acurada do desenrolar dos conflitos indicam que sua origem está na estratégia agressiva dos EUA visando acuar a Rússia.

O senador baiano lembra que o leste da Ucrânia, assim como a Crimeia, é majoritariamente russo dos pontos de vista cultural e político, preferindo aliar-se a Moscou. Por outro lado o oeste da Ucrânia é majoritariamente pró-Ocidente, preferindo alianças com os Estados Unidos e a União Europeia. Wagner ainda lamenta que desde 2014 mais de mil pessoas já morreram em combates relacionados a esse conflito.

"A Ucrânia afundou economicamente após o fim da União Soviética em 1992. Hoje é um país extremamente empobrecido, que jamais conseguiu se reerguer como a Rússia fez a partir do ano 2000, quando Vladimir Putin chegou à presidência da República. A economia ucraniana é inteiramente dependente de Moscou, com quem tem uma pesada dívida. A Ucrânia também depende de gás e petróleo que são fornecidos pela Rússia. Sem eles, a Ucrânia para", aponta o relatório aprovado pela CRE.

Estratégia Brzezinski

Wagner também argumenta que a atual estratégia dos EUA voltada para a Ucrânia foi concebida no final da década de 1990 pelo diplomata de origem polonesa Zbigniew Brzezinski, ex-assessor da Presidência da República norte-americana em temas de segurança nacional. Documento de sua autoria avalia que a Eurásia é o eixo geoestratégico do mundo, por ser rico em recursos naturais e conectar os grandes polos econômicos do mundo. Portanto, "é vital que os EUA tenham o controle desse supercontinente, caso queiram permanecer como a única e inconteste superpotência".

A estratégia Brzezinski defende a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) até a Ucrânia, como apontou Wagner. O diplomata chegou a propor esforços para que a Rússia fosse dividida em três países diferentes, separando suas partes europeia, asiática e a criação de uma República da Sibéria.

"Essa geoestratégia vem sendo seguida pelos EUA. A Otan já se expandiu bastante rumo ao leste europeu, em direção à Rússia. Polônia, República Tcheca, Hungria, Eslováquia, Bulgária, Romênia, Letônia, Estônia e Lituânia já fazem parte do grande bloco militar. Caso a Ucrânia entre na Otan, o bloco poderá estacionar mísseis e tropas militares a apenas 500 quilômetros de Moscou. Algo inaceitável para a Rússia", conclui o relatório aprovado.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)