CRE aprova indicado para dirigir a Abin e discute hackeamento de mensagens

Da Redação | 26/06/2019, 15h16

Durante a sabatina do delegado da Polícia Federal, Alexandre Ramagem, indicado para o cargo de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), nesta quarta-feira (26), na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), senadores sugeriram que o órgão desenvolva ações para impedir que conversas privadas de autoridades nacionais sejam interceptadas e divulgadas. Ao final da sabatina, o nome de Ramagem, que atuou em áreas administrativas e policiais da Abin e integrou a equipe de investigação da Operação Lava Jato, foi aprovado por unanimidade pela CRE. A análise da indicação segue agora ao Plenário do Senado.

Para o presidente da CRE, Nelsinho Trad (PSD-MS), a Abin precisa prevenir "interceptações criminosas" de mensagens privadas e até confidenciais de autoridades, referindo-se às supostas mensagens trocadas pelo então juiz Sergio Moro quando atuou na Operação Lava-Jato, que vêm sendo divulgadas por meios de comunicação.

O senador Jaques Wagner (PT-BA) também abordou o assunto, ressalvando, porém, que ainda não se sabe se o conteúdo divulgado pelo site noticioso The Intercept é fruto de hackeamento ou outro tipo de vazamento de informações. Wagner lembrou que o Wikileaks divulgou em 2013 documentos do governo norte-americano, que espionou telefones e e-mails da ex-presidente Dilma Roussef, de vários ministros e diretores de órgãos e empresas do governo, como o Banco Central e a Petrobras.

Na resposta, Ramagem admitiu que o Brasil encontra-se atrasado na prevenção contra ataques cibernéticos.

— É um grande infortúnio o que ocorre agora e o que ocorreu antes, divulgado pelo Wikileaks. Se tem um lado positivo, levanta a preocupação nas instituições. Precisamos caminhar muito para que haja obstrução contra a inteligência adversa. Não temos os investimentos de que grandes potências dispõem para a inteligência, mas não estamos sob total risco. Temos que tentar deixar mais cara a possibilidade de ataques ocorrerem. Os ataques são naturais, é o jogo das nações na busca por informações visando a interferência externa, em busca de ganhos próprios e contra o desenvolvimento dos outros, mesmo de nações aliadas — explicitou o indicado.

EUA x China

Também em resposta a Wagner, Ramagem tratou da entrada da tecnologia 5G (de transmissão de dados por dispositivos móveis) no Brasil, setor alvo de intensa disputa comercial e geopolítica entre os Estados Unidos e a China. Wagner lembrou que a China está muito avançada no domínio da nova tecnologia se comparada aos EUA, com o triplo de patentes registradas, e este seria o real motivo das recentes disputas comerciais entre as duas nações.

Ramagem confirmou que os EUA dão prioridade máxima a essa agenda, por temerem que a China adquira poder de espionagem. Ele adiantou como o Brasil vem tratando a entrada da tecnologia 5G no país.

— A disputa entre EUA e China é pela dominação econômica mundial, de sofisticada inteligência estratégica e tentativas cibernéticas. A inteligência estratégica pode nos servir na atuação dos mercados de carne suína, aço e soja neste jogo. Já a questão 5G é a grande guerra cibernética, uma batalha na qual não se sabe de fato dos problemas apontados pelos EUA quanto à espionagem, ou se temem a dominação. Eles alertaram Alemanha e Grã-Bretanha, que seguraram o desenvolvimento do 5G. Tem propaganda até de que a tecnologia faz mal à saúde. O Brasil está tratando o tema de forma devida. Há leilões [para exploração do serviço 5G] agendados para verificar se a tecnologia vai entrar como auxílio, dada sua intensidade, ou se estaremos sujeitos à dominação de espionagem —concluiu Ramagem.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)