Transferência de embaixada em Israel marca sabatina com diplomatas para países árabes

Da Redação | 12/06/2019, 14h14

A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) aprovou nesta quarta-feira (12) a indicação dos diplomatas Antonio Patriota e Ruy Pacheco Amaral para chefiarem as embaixadas brasileiras no Egito e na Jordânia, respectivamente.

Durante a sabatina, os diplomatas foram indagados por Esperidião Amin (PP-SC) e Antonio Anastasia (PSDB-MG) sobre a iniciativa do governo brasileiro, ainda não concretizada, de transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Até o momento, foi anunciada por parte do Brasil apenas a abertura de um escritório comercial na cidade. A imensa maioria dos países preferem manter suas embaixadas em Tel Aviv, pois a Palestina reivindica parte da soberania sobre Jerusalém, com base em resoluções da ONU.

Ambos os diplomatas deixaram claro não terem qualquer prerrogativa decisória sobre o assunto, mas com base na experiência que possuem em negociações com as nações árabes, informaram que a causa palestina é o único assunto que unifica esses países.

— Só um tema une absolutamente o mundo árabe, e este tema é a defesa da causa palestina. Eu atuava no Egito quando o Brasil anunciou (em abril) a abertura do escritório em Jerusalém, e recebi das mãos do secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Gheit, a nota oficial deles sobre isso antes dela ser divulgada. Primeiro, ele me falou sobre a tristeza que sentia com a decisão do Brasil. A nota basicamente expressava, com equilíbrio, que o Brasil, na ótica deles, dava um passo na direção errada, que não contribuirá na relação com o mundo árabe — informou Amaral.

Já Patriota lembrou que o anúncio da transferência da embaixada, ainda durante a fase de transição dos governos, provocou o adiamento indefinido da visita oficial do então chanceler Aloysio Nunes Ferreira ao Egito. E acrescentou que o comércio entre o Brasil e as nações da Liga Árabe gira em torno de U$ 20 bilhões por ano, com U$ 7 bilhões de superávit para o Brasil.

Polêmicas religiosas

O senador Zequinha Marinho (PSC-PA), que faz parte da Frente Parlamentar Evangélica, solicitou aos diplomatas que atuem junto às nações árabes visando coibir uma perseguição a missionários cristãos, que julga haver em muitos destes países.

— Irã e Síria, por exemplo, não reconhecem oficialmente a existência do Estado de Israel. E todo cristão, a base cristã, é amiga de Israel. Precisamos conversar mais com nossos amigos muçulmanos para que não persigam nossos missionários. Nosso único objetivo é pregar a palavra de Deus, não temos objetivos políticos nem de discórdia ou desentendimento — garantiu.

Mas a fala do senador foi contestada por Esperidião Amin, para quem a maioria das nações árabes são vítimas de estereótipos divulgados pelo mundo ocidental.

— Estive no ano passado na Síria, semidestruída pela guerra civil. Visitei duas igrejas cristãs em Damasco e 11 templos cristãos no total na Síria. Todos estes lugares são muito respeitados pela população. Mais de 10% da população no Egito é cristã e convive em harmonia com a maioria muçulmana. Na Jordânia, os cristãos são 7%, enquanto em Israel são só 2%. O vice-presidente do Iraque na época de Saddam Hussein, Tarik Aziz, era católico. Criou-se um estereótipo de que as nações de maioria islâmica são teocráticas, mas apenas algumas o são. No Líbano, por exemplo, há uma divisão de poderes em que o presidente da República e o chefe das Forças Armadas são cristãos católicos, num regime parlamentarista — esclareceu Amin.

Antonio Patriota ainda ressaltou que só no Egito vivem mais de 10 milhões de cristãos coptas, que possuem ótimas relações com o governo do país. E acrescentou que o diplomata egípcio Boutros-Ghali, que chegou a ser secretário-geral da ONU (entre 1992 e 1996), também era cristão.

Relações com o Brasil

A análise das indicações de Patriota e Amaral segue agora ao Plenário do Senado. Em caso de aprovação, Amaral garantiu que irá priorizar o aumento de exportações do agronegócio brasileiro para a Jordânia, país marcado por território desértico e com necessidade de importação de vários produtos básicos.

— O potencial é enorme. Ele hoje são grandes importadores, por exemplo, de soja e açúcar, mas quase nada vem do Brasil. Também existe um mercado grande de produtos de defesa que temos plenas condições de suprir, pois esta é uma necessidade para qualquer nação situada no Oriente Médio — informou.

Já Patriota destacou que o Egito é a nação árabe e africana que mais importa produtos brasileiros, e só perde para a China na importação de carne. Este potencial de mercado para o Brasil tornou-se ainda mais promissor graças à efetivação de um acordo comercial entre Mercosul e Egito, em vigor desde 2017.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)