Senado poderá escolher 18 de abril como Dia Nacional do Espiritismo

Da Redação | 11/06/2019, 14h12

Representantes da comunidade espírita defenderam em audiência pública, nesta terça-feira (11), o reconhecimento do dia 18 de abril como o Dia Nacional do Espiritismo no Brasil. A data remete ao lançamento de O Livro dos Espíritos (na língua francesa, Le Livre des Esprits) em Paris, no ano de 1857.

A audiência pública, promovida pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), teve a participação de senadores e de representantes da comunidade espírita. Eles lembraram que o país tem cerca de 4 milhões de espíritas identificados no último censo do IBGE, mas acreditam que os simpatizantes chegam a 40 milhões. O debate foi presidido pelo senador Eduardo Girão (Pode-CE), que lembrou que a ideia não é criar um feriado, mas apenas ter um dia para debater as ideias do espiritismo.

Representante da Comunhão Espírita de Brasília, Jefferson Rodrigues Bellomo explicou que o dia é importante por três motivos: reconhecer o espiritismo como parte da cultura brasileira, valorizar a ação social promovida por grupos espíritas e reduzir o preconceito.

— O Brasil foi naturalmente acolhedor ao cristianismo e à mediunidade. Apesar de sermos um país laico, a religião faz parte da nossa cultura. Além disso, o espiritismo se reverte em ação social numa caridade que incentiva creches, orfanatos, asilos, assistência a moradores de rua, e isso desonera o Estado. Por fim, um dia de conscientização pode diminuir o sistema beligerante e quase tribal das redes sociais que incentiva até ataques terroristas contra centros espíritas.

A compreensão sobre os princípios que regem o espiritismo também foi a justificativa de Paulo Maia Costa, presidente da Federação Espírita do Distrito Federal, para defender a ideia do Dia do Espiritismo. Ele comentou que muitas pessoas têm uma noção errada do que é o espiritismo e sintetizou os fundamentos da doutrina:

— Nós temos o mesmo Deus; cremos que a alma não perece, é imortal; cremos que Deus é bom; cremos na pluralidade da vida, e não numa condenação ao fogo eterno. Não somos inocentes de pensar que estamos sozinhos no universo e que haveria vida apenas no globo terrestre. Há vida em outros planos e comunicabilidade dos espíritos — sintetizou.

Para Nazareno Feitosa, da Comunhão Espírita de Brasília, o Dia do Espiritismo vai registrar a gratidão do povo brasileiro pela caridade, promover a paz, devolver fé e esperança, incentivar o ecumenismo, promover a vida evitando aborto e suicídio e levando consolo aos que sofrem. Também da Comunhão, a jornalista Daniela Migliari comentou que o espiritismo se coloca como filosofia, ciência e religião expressos numa única caminhada “que convida a ter contato com o novo, com o diferente, num movimento de ideias que nos enriquece desde que respeitemos o outro como queremos ser respeitados”.

Divulgação

Diretor da Federação Espírita Brasileira, João Pinto Rabelo afirmou que a data pode ajudar a divulgar melhor a doutrina e a vinda de Jesus.

— O espiritismo trabalha no silêncio, faz curas no espírito das pessoas, faz milagres imensos, cura as feridas da alma, reconstrói o homem na busca de uma nova fase que a humanidade vai viver e é disso o que as pessoas precisam.

Os participantes da audiência avaliaram como positivo o alcance de filmes que têm difundido os ideais espíritas. De acordo com Bellomo, a obra Bezerra de Menezes — o diário de um espírito teve mais de 500 mil espectadores no cinema. Nosso Lar, sobre Chico Xavier, teve quase 4 milhões, e Kardec, lançado em maio, já teve mais de 650 mil espectadores nas salas brasileiras.

Histórico

O presidente da Federação Espírita Brasileira, Jorge Godinho Nery, contou como o espiritismo surgiu, no século 19. Segundo ele, naquele momento a humanidade atingiu o auge do materialismo, em que não se reconhecia mais a existência de Deus para justificar fatos.

— Houve então uma invasão organizada do plano espiritual para dizer aos homens que nos universos não existe só matéria.

A partir daí houve registro de pessoas no mundo inteiro interessadas em reconhecer, entender fenômenos espirituais e até experimentá-los. Nery contou que, em 1840, dois médicos homeopatas que estiveram no Brasil e usaram o que hoje é conhecido como “passe” (a transmissão fluidomagnética de um ser ao outro) como complemento às curas da homeopatia.

— Ainda não existia a obra de Allan Kardec. O lema deles era “Deus, Cristo, Caridade”, e esses princípios ficaram no Brasil.

Nery contou que o contato dos espíritos com o mundo material se intensificou em 1948, quando uma família dos Estados Unidos alugou uma casa e as duas filhas adolescentes começaram a presenciar e conversar com um espírito que lá vivia.

— Eram fenômenos estranhos, barulhos intensos. Então uma delas elaborou uma forma de comunicação com o espírito e, mesmo rudimentar, ela descobriu que ele era um viajante, havia sido assassinado e o corpo estava enterrado embaixo da casa. Foram buscar e realmente ele estava. Era a prova da vida após a morte.

Depois desses fatos, segundo Nery, a Europa começou a registrar os eventos de mesas girantes, ou mesas falantes. Nesse contexto, os fenômenos foram estudados, catalogados dentro de metodologia e deu-se origem ao Livro dos Espíritos, cuja edição definitiva é composta de quatro partes: Deus, os espíritos, leis morais e, por fim, esperanças e consolações.

— Ele veio dizer que somos imortais com várias existências, com o amor sendo Deus, o criador; Jesus, o exemplo maior da lei; e a caridade sendo a lei em ação. Entendemos que, como espíritos imortais, devemos usar a fraternidade e a solidariedade para construir um mundo de paz e melhor para o futuro.

Experiências

Os senadores participaram da audiência por vezes contando experiências pessoais que tiveram no espiritismo. Girão destacou a importância da religião quando esteve numa crise de pânico e de certeza da morte iminente, por volta dos 30 anos de idade. Já o senador Jayme Campos (DEM-MT) relatou que foi no espiritismo que ele e a família encontraram consolo após a perda de um filho.

Experiência semelhante contou a senadora Juíza Selma (PSL-MT). Em lágrimas, ela falou da morte da filha e do pai, e de como o espírito do pai a levou a salvar uma irmã em situação de perigo.

Já o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), apesar de católico, disse que recorreu a uma cirurgia espiritual de uma úlcera. Soraya Thronicke (PSL-MS) relembrou os tempos de criança, em que o espiritismo sofria grande preconceito e a avó tinha o Livro dos Espíritos como “um livro secreto”.

Styvenson Valentim (Pode-RN) criticou a polarização religiosa e o preconceito religioso. Ele contou que a mãe é evangélica, que tem um bom trânsito entre os católicos e que acompanha a mulher em eventos espíritas. Na mesma linha falou o senador Flávio Arns (Rede-PR), que professa a fé católica.

— Respeito a diversidade e as obras sociais extraordinárias que dão apoio ao ser humano e valorizam a vida.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)