Debatedores demonstram preocupação com violência na fronteira com a Venezuela

Da Redação | 06/05/2019, 16h56

A Subcomissão Temporária sobre a Venezuela promoveu, na tarde desta segunda-feira (6), uma audiência pública para debater a crise no país vizinho e seus reflexos no Brasil, principalmente no estado de Roraima. Os debatedores apontaram dificuldades em áreas como educação e saúde e demonstraram preocupação com o crescimento da violência na região de fronteira.

O prefeito de Pacaraima (RR), Juliano Torquato, afirmou que a situação do município é “muito séria”. Pacaraima é um município localizado no norte do estado de Roraima, na fronteira com a Venezuela. O prefeito disse que há cerca de 400 a 500 venezuelanos vivendo em situação de rua na cidade. Outros são acolhidos em abrigos e alguns já invadiram áreas de preservação ambiental. Segundo o prefeito, o município tem enfrentado vários problemas em relação à segurança pública e à saúde. Torquato pediu ajuda das autoridades, principalmente em relação à segurança, na fronteira com a Venezuela.

— Nossa cidade tem um arsenal de armas, muitas drogas e uma fronteira desguarnecida. Os índices de criminalidade são alarmantes. Eu comparo nossa cidade à uma favela do Rio de Janeiro — declarou o prefeito.

O vice-presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Roraima, deputado Jefferson Alves, disse que há cerca de 150 mil venezuelanos no estado. Ele cobrou uma maior ajuda do governo federal para que o estado saia “dessa situação”. Jefferson lembrou que o governo brasileiro já enviou ajuda para venezuelanos no território do país vizinho. No entanto, apontou o deputado, há venezuelanos em Roraima que precisam de ajuda. Ele disse que a violência é um dado preocupante e há muitos casos de homicídios.

— Roraima está praticamente só nesta luta. Estamos pedindo socorro em nome do povo do estado. Não podemos ver a violência tomando conta, a educação e a saúde nessa condição. Hoje, infelizmente, nosso estado vive no fundo do poço — lamentou o deputado.

Ausência

O senador Telmário Mota (Pros-RR), presidente do colegiado, coordenou o debate. Telmário destacou a relação de Roraima com a Venezuela. Segundo o senador, o estado hoje tem cerca de 500 mil habitantes. Esse número pode subir para mais de 600 mil, com a presença dos venezuelanos. Ele também registrou que cerca de 53% das exportações do estado têm a Venezuela como destino.

De acordo com o senador, o estado enfrenta uma crise econômica e social, com crise na educação, na segurança e na saúde. Telmário acrescentou que a grande presença de venezuelanos aumenta ainda mais as dificuldades de Roraima. Ele lamentou a ausência do governador do estado, Antonio Denarium, que foi convidado para a audiência pública, mas não compareceu.

— Ou ele acha que esta Casa não pode ajudar, ou ele não tem amor pelo estado. Que o povo de Roraima possa julgar — criticou o senador.

A senadora Soraya Thronicke (PSL-MS), no entanto, disse que entrou em contato com o governo de Roraima. Ela registrou que foi informada que o governador havia pedido a um outro membro do governo para comparecer à audiência, mas houve um problema e essa pessoa não conseguiu comparecer. Segundo a senadora, o governador Denarium virá a Brasília na próxima quarta-feira (8) e deve comparecer ao Senado.

A audiência foi acompanhada pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), senador Nelsinho Trad (PSD-MS). Na visão de Nelsinho Trad, a situação de Pacaraima demanda uma intervenção mais rápida por parte das autoridades federais. Os senadores Mecias de Jesus (PRB-RR) e Marcio Bittar (MDB-AC) também participaram do debate. Bittar é o relator e foi quem apresentou o requerimento para a criação da subcomissão. Os senadores sugeriram uma agenda com o governo federal, para direcionar recursos para Roraima e tentar encontrar uma solução para a crise no estado.

Requerimentos

A subcomissão também aprovou dois requerimentos. Um deles, de iniciativa do senador Mecias de Jesus, pede a inclusão de dois convidados para uma audiência pública. O outro, do senador Telmário Mota, pede informações ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sobre a crise diplomática com a Venezuela. Telmário quer saber, por exemplo, quais os motivos que levaram o Brasil a reconhecer a legitimidade de Juan Guaidó como presidente interino do país, “quebrando a tradição diplomática brasileira de não-intervenção”.

A subcomissão foi criada no âmbito da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), para acompanhar a crise econômica, política e social na Venezuela. O colegiado tem seis membros titulares e outros seis suplentes.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)