Arquivo resgata história relatada por constituintes de 1988

Da Comunicação Interna | 20/12/2018, 12h54

No ano em que a Constituição federal comemora o seu 30° aniversário, o site do Senado lançou a página História Oral, conjunto de depoimentos — registrados em texto, vídeo e áudio — de ex-constituintes que contam detalhes sobre a Assembleia Nacional Constituinte de 1987/1988.

Os relatos foram concedidos por senadores da atual legislatura, como Edson Lobão (MDB-MA), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), José Agripino (DEM-RN), Lídice da Mata (PSB-BA), José Serra (PSDB-SP), Paulo Paim (PT-RS), Raimundo Lira (MDB-PB) e Rose de Freitas (Pode-ES). O relator-geral da Constituinte, ex-deputado, ex-senador e ex-ministro Bernardo Cabral, pelo ex-relator-adjunto, também ex-deputado e ex-ministro Nelson Jobim, e pelo ex-presidente da República, que governou sob a nova Carta, senador Fernando Collor (PTC-AL).

— O programa 'História Oral' segue uma técnica de trabalho da arquivologia. É um acervo feito por meio da coleta de depoimentos orais ou multimídia e, esses relatos são um legado para o cidadão brasileiro — afirma a jornalista Virgínia Galvez, do Serviço de Arquivo Histórico do Senado.

Virgínia destaca que, além de muita informação, as entrevistas revelaram depoimentos entusiasmados e até mesmo emocionantes.

— Um ponto em comum entre os depoentes é que todos manifestaram muita alegria e orgulho por terem participado do processo da Constituinte. Sentir-se parte dessa história foi uma rica experiência para a vida de cada um deles — relata.

E não é para menos. A Constituição de 1988 não só foi um marco histórico na retomada da democracia, como resultou em um novo ordenamento jurídico na estrutura do Estado.

— Os constituintes pensavam o país de uma forma profunda. Aquele foi um momento em que o Brasil estava coroando seu processo de redemocratização, com novos direitos sociais, perspectivas para a economia, medidas de proteção ao meio ambiente e com a participação das mulheres. Imagine o que foi participar desse processo — observa Virgínia.

A jornalista do Arquivo Histórico Tânia Fusco, que também participou da construção do projeto “História Oral”, destaca alguns depoimentos inusitados.

— Nós perguntamos aos parlamentares o que eles faziam antes de se tornarem personalidades políticas. Um relato interessante foi o do senador Paulo Paim, que nos contou, como líder sindical, que a sua primeira campanha foi feita em papeis de pão. Ele escrevia à mão o número dele (como candidato) nesses papeis e os distribuía — cita.

Outro fato curioso diz respeito às frequentes "cenas de ciúmes" entre as duas figuras mais poderosas da época.

— De um lado, o senador, líder do partido de esquerda, Mario Covas, do outro, o presidente da Câmara dos Deputados e da Constituinte, Ulysses Guimarães. Sempre que o doutor Ulysses convocava os pares para as reuniões, este se denominava como doutor Ricardo. Esse foi um drible encontrado para que o senador Mario Covas não se sentisse aborrecido — diz Tânia.

Para Tânia Fusco o projeto “História Oral” também é uma forma de reviver o passado.

— Estar envolvida com o projeto me fez resgatar memórias e matérias antigas, belíssimas, produzidas pelos colegas da Casa no período da Constituinte. Foi comovente — afirma.

O acervo já esteja disponível no Portal do Senado. Porém, deve continuar crescendo, já que o Arquivo Histórico vai continuar a realizar entrevistas com mais constituintes.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)