Presidente da CRE defende continuidade da política externa conduzida pelo Itamaraty

Da Redação | 05/12/2018, 17h41

A política externa da futura gestão de Jair Bolsonaro na Presidência da República provoca preocupações, pois pode significar inflexões importantes em trabalhos bem-sucedidos e historicamente bem conduzidos pelo Itamaraty, afirmou nesta quarta-feira (5) o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), senador Fernando Collor (PTC-AL). Ele concordou com as opiniões expressas pelos senadores Cristovam Buarque (PPS-DF) e Lindbergh Farias (PT-RJ) durante a reunião.

Prejuízos econômicos

Collor disse que más conduções nas relações com outros países "levam uma geração para serem plenamente superados" e por isso cada decisão precisa ser muito refletida. Ele mencionou a possível mudança da Embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, por exemplo, como tem prometido o presidente eleito. Para o senador, a decisão pode custar caro para o país, diante dos grandes superávits comerciais do Brasil com países árabes, adversários de Israel, que defendem as resoluções da ONU em torno deste assunto.

— Já estive na Presidência da República. Posso afirmar que na diplomacia nenhuma ação fica sem reação. Mudar a embaixada provocará um enorme desconforto com nações árabes amigas, com as quais temos enormes superávits. Outros países [como o Brasil] também vendem proteínas animais, minérios e soja, é só mudar de fornecedor. E tudo isto a troco de quê? De um eventual alinhamento com um governo específico e temporário nos EUA, marcado por decisões erráticas? — questionou Collor.

O presidente da CRE ressaltou que a condução histórica do Itamaraty possibilitou ao Brasil tornar-se relevante mundialmente, no exercício do seu soft power. Por isso o Brasil ocupa hoje as presidências da Organização Mundial do Comércio (OMC), da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a chefia de gabinete da ONU, por conseguir ter um bom diálogo com a ampla maioria das nações, um capital que a seu ver não pode ser desprezado.

— O processo de globalização atingiu um ponto em que alinhamentos automáticos simplesmente não fazem sentido. Mudar a embaixada em Israel contraria frontalmente as resoluções da ONU, e estão de acordo com nossa posição histórica, defendendo que os conflitos com a Palestina devam ser resolvidos em comum acordo. O mais interessante é que Israel nunca pediu, sequer pressionou que mudemos nossa embaixada — ressaltou.

Mais Médicos

O senador disse também que a "intempestividade" do novo governo já tem causado problemas para a população mais pobre, devido ao rompimento unilateral da participação de Cuba no convênio Mais Médicos. Collor também afirmou não ver mais sentido em se adotar uma postura hostil contra Cuba, muito menos quando proveniente de uma outra nação latino-americana. Além disso, continuou, os médicos cubanos cumpriam uma função de enorme impacto social.

— Se quer acabar com o convênio, que se estabeleça uma condução planejada. Não algo intempestivo, com ameaças às relações diplomáticas. Fui prefeito e governador também, e conheci bem as enormes dificuldades em se estabelecer médicos em regiões marcadas por enormes carências sócio-econômicas. Fiz vários concursos, e em poucos meses já vinham pressões de deputados e vereadores solicitando transferências para os médicos concursados — disse.

Coreia do Norte

Por outro lado, o presidente da CRE mencionou que o presidente dos EUA, Donald Trump, tem buscado uma aproximação maior com a Coreia do Norte, por isso também seria equivocado o Brasil cortar relações com esta nação asiática, como teria sinalizado Bolsonaro. Collor acrescentou que a Coreia do Sul também vem se aproximando dos norte-coreanos, e que o Brasil pode cumprir um papel relevante neste processo.

— Os coreanos estão se reaproximando de forma independente em relação aos EUA. Em algum momento o Brasil será um dos chamados para intermediar estes entendimentos entre Coreia do Norte, Coreia do Sul e EUA, pois é a única nação das Américas que possui representação nas duas Coreias — concluiu o senador.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)