Comissão Senado do Futuro debate democratização dos meios de comunicação

Da Redação | 10/09/2018, 21h04

As estratégias usadas pela grande mídia para se legitimar como único modelo possível de comunicação foram um dos problemas apontadas pelos especialistas que participaram de debate nesta segunda-feira (10). A audiência pública da Comissão Senado do Futuro (CSF) tinha como tema a democratização dos meios de comunicação.

O professor José Salomão David Amorim, da Universidade de Brasília (UnB), citou como um dos requisitos para essa democratização o acesso da população às estruturas de produção e transmissão. Esse acesso, na visão do professor, esbarra no “gigantismo” do formato comercial da comunicação.

— Esse formato acaba determinando não só o assunto, mas também quem fala e como se fala — criticou.

Ele apontou o oligopólio na comunicação como uma “muralha impenetrável” formada por empresários, políticos e democracia estatal. Apesar de algumas novas experiências de jornalismo cidadão terem surgido na internet, a mídia corporativa continua restringindo a participação do público a situações em que há como controlar a palavra. Para ele, até a intensificação da campanha contra as fake news por parte dos grandes meios, como se tudo o que se produz fora não tivesse credibilidade, faz parte dessa estratégia.

Poder

Para Venício Lima, professor emérito da UnB, há a existência de uma estratégia para manter o poder nas mãos das grandes empresas. Ele ressaltou que essas artimanhas, por enquanto, têm sido bem sucedidas.

— Em geral, os grandes grupos de mídia no Brasil se apropriam de uma causa que tem amplo apoio na sociedade, se identificam com ela, viram seus defensores e atribuem a seus adversários o papel de opositores dessa causa. Isso tem acontecido com frequência — lamentou o professor, que citou como exemplo a democracia, o combate à corrupção e a liberdade de expressão.

Para ele, o fato de a grande mídia de se colocar em um local de fala de defensora da liberdade de expressão tem, na verdade, impedido a democratização. Isso ocorre, de acordo com o professor, porque as grandes empresas taxam de censores todos aqueles que defendem a regulamentação da mídia, o cumprimento do que já está na Constituição e a discussão de questões como a propriedade cruzada dos meios de comunicação, quando um mesmo grupo controla diferentes tipos de veículos.

Congresso

Willon Wander Lopes, vice-presidente da União Planetária, lembrou que é a partir da democratização dos meios de comunicação que a sociedade pode dizer o que pensa. Ele disse acreditar que o Congresso pode abrir portas para para que o povo possa não só falar, mas ser ouvido.

Isaac Róitman, também professor emérito da Universidade de Brasília, destacou as intervenções feitas na audiência por cidadãos que usaram o Portal e-Cidadania. Para ele, o canal é um meio para que os cidadãos se expressem e participem do debate.

Diretor da TV Comunitária de Brasília, Paulo Miranda defendeu a municipalização da comunicação por meio dos canais da cidadania. Ele lembrou que esses canais, disponíveis no sistema de TV digital, podem levar informações importantes para os cidadãos de cada município do Brasil, especialmente em termos de serviços públicos.

— É importante que os novos parlamentares que serão eleitos atentem para isso, para que nós possamos realmente democratizar a comunicação pela municipalização sem bater de frente com os canais comerciais que já existem —disse o jornalista.

A Comissão Senado do Futuro é presidida pelo senador Hélio José (Pros-DF).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)