Vínculo com Brasília é destaque em homenagem ao centenário de Athos Bulcão

Elina Rodrigues Pozzebom | 03/07/2018, 16h30

O centenário de nascimento do artista Athos Bulcão foi comemorado na terça-feira (3) em sessão solene do Congresso. O vínculo indissociável de Bulcão com Brasília, cidade a qual ele ajudou a dar identidade cultural e beleza, sobretudo com seus painéis de azulejos que integram arte e arquitetura, foi lembrado por todos os presentes.

— Alguns artistas têm o privilégio de ver suas obras integradas a uma cidade. Desses, poucos podem dizer que seu trabalho faz parte da identidade de uma metrópole. Mais raros ainda são aqueles cuja ausência de sua arte desfiguraria a paisagem urbana. Athos Bulcão pertence a essa última categoria e Brasília é o cenário que não pode prescindir da genialidade desse artista — afirmou o senador João Alberto Souza (PMDB-MA), que presidiu os trabalhos.

Bulcão trabalhou com Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Burle Marx e morreu em Brasília, em 31 de julho de 2008. Nascido em 2 de julho de 1918, no Rio de Janeiro, ele abandonou o curso de Medicina para dar vazão ao chamado artístico. Trabalhou com pintores e artistas consagrados, fazendo pinturas, ilustrações e desenhos até ser convidado a colaborar com o esforço de construção da nova capital, como artista plástico. Seus azulejos característicos e obras de arte enfeitam todos os cantos do Distrito Federal como o Congresso, a Igreja Nossa Senhora de Fátima, na 307 sul, a Torre de TV, o Teatro Nacional e o Aeroporto Juscelino Kubitschek, entre outros espaços.

Durante a homenagem, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) destacou que Brasília se tornou um museu de Bulcão.

— O talento do artista, o momento histórico em que viveu, propício ao desbravamento, as parcerias com gênios como Portinari, tudo contribuiu para dar-lhe grandeza e a dignidade de ser relembrado em seus 100 anos de nascimento, assim como ocorrerá aos 200 e aos 300 — ressaltou.

Para Cristovam, Bulcão rompeu com os conceitos vigentes e formulou uma estética nova.

— Ele deu um salto, e isso é raros nos artistas, que em sua maioria dão pequenas contribuições — observou.

Para o senador Hélio José (Pros-DF), “nenhuma outra arte moldou-se tão bem à arquitetura de Niemeyer como as obras de Bulcão”, permitindo que o mundo inteiro se encante com suas peças e painéis.

A deputada Erica Kokay (PT-DF) disse que a obra do artista está “tatuada em Brasília”, marcada com a estética da vida e do movimento.

Sui generis

Irônico, inteligente, elegante e simples foram algumas das características de Athos Bulcão exaltadas durante a homenagem no Congresso.

— Athos Bulcão foi um homem de grande sensibilidade, simplicidade elegância ímpares, tal como sua obra — disse Paulo Brum Ferreira, presidente da Fundação Athos Bulcão (Fundathos).

Ferreira ressaltou o “monumental e sui generis” trabalho de Bulcão na integração entre a arte e a arquitetura, com formas únicas que se confundem com a paisagem e os espaços urbanos de Brasília, cidade que ele escolheu para viver e onde morreu, em 2008, aos 90 anos.

O representante do Governo do Distrito Federal, Gustavo Pacheco, garantiu haver um esforço da administração para recuperar os espaços culturais da cidade, como o Teatro Nacional, cujos painel de blocos de concreto em seu exterior são uma das obras mais famosas de Bulcão. Além disso, há um esforço para catalogar e proteger as centenas de obras do artista plástico, tombadas pelo Decreto do Governo do Distrito Federal 31.067, de 2009.

Representante do Instituto dos Arquitetos do Brasil – DF, Sérgio Parada pediu a doação de um terreno para a Fundathos construir a sua sede. A fundação é a responsável pela promoção, documentação, pesquisa e difusão da obra do artista.

As sobrinhas-netas de Athos Bulcão Maria Antonieta Bulcão Ferrari e Maria Inês Di Rienzo Bulcão representaram a família do artista durante a homenagem e agradeceram pela acolhida que a cidade deu a ele.

— Entendo agora porque era tão difícil tirar Athos de Brasília, ele pertence a Brasília, cada vez mais, para nós, ele é Brasília. Em cada lugar que a gente olha, vê o Athos, o carinho com que ele tratou cada obra, a gente vê a mansidão dele aqui — detalhou Maria Antonieta.

Celebração

Outras atividades foram programadas para marcar o centenário do artista. Uma mostra com 15 quadros, que apresentam seus projetos originais, gravuras e parte dos azulejos de algumas de suas grandes obras, está na Senado Galeria. A exposição, em parceria com a Fundação Athos Bulcão, ficará aberta ao público até o dia 29 de julho.

A Visitação Institucional do Senado elaborou um roteiro que retrata a vida e obra de Athos Bulcão, por meio dos trabalhos presentes no Palácio do Congresso Nacional, abordando assuntos referentes à história da arte, arquitetura e história das personalidades de Brasília. A visita poderá ser agendada durante todo o mês de julho pelo site www.congressonacional.leg.br

Uma mostra com as releituras das obras de Athos Bulcão, feitas pelo servidor do Senado Fernando Ribeiro, também estará exposta no Espaço Ivandro Cunha Lima. Esta mostra inaugura o Projeto Artistas no Congresso, que convida artistas para compartilhar seus olhares sobre as obras de arte do Congresso.

A TV Senado também produziu vídeo institucional em homenagem à vida e às obras de Athos Bulcão, com a participação de personalidades que conviveram com o artista.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)