Debatedores defendem diversificação para país reduzir dependência do transporte rodoviário

Da Redação | 26/06/2018, 12h47

A greve dos caminhoneiros, que paralisou o país no fim do mês passado, evidenciou a dependência do modal rodoviário para transporte de cargas. Em audiência pública nesta terça-feira (26) na Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI), debatedores defenderam a diversificação de transportes para escoamento da produção, mas apontaram os desafios em um momento de restrição orçamentária.

Hoje, 65% do transporte de cargas é feito pelas rodovias contra 15% por ferrovias, 11% por cabotagem e 5% por hidrovias. O diretor do Departamento de Infraestrutura de Logística do Ministério do Planejamento, Otto Luiz Burlier, observou que o orçamento do setor - cerca de R$ 10 bilhões - é igualmente concentrado na manutenção e recuperação de rodovias. Diante da limitação orçamentária, Burlier avalia que é preciso buscar mais investimentos da iniciativa privada.

— Não temos condições de investir em todos setores, temos que priorizar – disse.

O diretor do Departamento de Gestão Estratégica do Ministério dos Transportes, Rodrigo Cruz, também defendeu a revisão do papel do Estado no setor. Segundo ele, é preciso avançar em uma rede de transportes que se complemente, diminuindo a dependência do modal rodoviário:

— Isso trará menor vulnerabilidade a paralisações como enfrentamos recentemente. Tão importante quanto diversificar nossa matriz de carga é fazer com que a matriz possa operar no que é mais adequado – disse.

A aposta do Ministério dos Transportes é de que, a partir de 2025, com as renovações de contratos de concessões e conclusão de obras, suba de 15% para 30% a participação do modal ferroviário no transporte de cargas:

— A gente aposta que tenha um ganho de 15% no montante de cargas transportadas pelo transporte ferroviário e a diminuição de 65% para 50% do modal rodoviário – estimou Cruz.

Segundo o gerente jurídico da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários, Regis  Dudena, a prorrogação dos contratos de cinco concessionárias, que está em análise no momento, vai representar investimentos da ordem de R$ 25 bilhões nos próximos cinco anos, o que vai ajudar a desafogar a logística.

— Esses 25 bilhões vão servir para a ampliação de capacidade das vias, tecnologia, construção de novos trechos e ramais e ampliação e modernização da frota – apontou.

Dudena e o diretor de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação e Infraestrutura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Fabiano Pompermayer, destacaram outras vantagens do transporte feito por ferrovias, como menor emissão de poluentes, maior segurança e frete mais barato em comparação ao modal rodoviário.

O senador Lasier Martins (PSD-RS), que requereu a realização da audiência, defendeu mais investimentos em ferrovias.

— Quando ocorreu a greve dos caminhoneiros, houve uma espécie de clamor nacional. As pessoas diziam a mesma coisa:  o país precisa de transporte ferroviário – disse Lasier.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)