Debate na CRE destaca riscos da proliferação nuclear na Ásia

carlos-penna-brescianini | 25/06/2018, 21h38

A transmissão de tecnologia nuclear, o terrorismo internacional e as possibilidades de novos conflitos armados na fronteira da Índia com a China foram assuntos que provocaram polêmicas durante o 8º Painel do Ciclo de Debates da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), nesta segunda-feira (25). Ao relatar as tensões nucleares entre a China, Índia e o Paquistão, a professora Layla Abdallah Dawood, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), citou suspeitas de agências de inteligência ocidentais de que o Paquistão tenha repassado tecnologia nuclear a grupos terroristas. O embaixador do Paquistão no Brasil, Najm us Saqib, questionou a informação, afirmando que não houve esse repasse e criticou o uso de somente fontes ocidentais para um debate que envolve vários lados:

— Que fontes afirmam haver essa transmissão de tecnologia nuclear a terroristas?

O presidente da CRE, senador Fernando Collor de Mello (PTC-AL) apaziguou os ânimos, relatando que realmente tem-se de examinar todas as informações com muito cuidado. E citou os fatos que levaram a invasão do Iraque pelos Estados Unidos como um exemplo:

— Eu possuía profundo respeito ao general Colin Powell, que representando o governo dos EUA, foi ao congresso americano e às Nações Unidas afirmar com fotos, que o Iraque possuía armas de destruição em massa, possivelmente nucleares. E isso justificaria uma invasão. O Iraque foi invadido, destruído e as armas não foram encontradas. Temos de ter todo cuidado com informações divulgadas.

Além da professora Layla Dawood, outro especialista em relações exteriores com foco na Ásia, o professor Eugênio Pacelli Costa, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), compareceu à CRE para analisar situações de tensão naquele continente. Eles falaram da situação que envolve China, Índia e Paquistão, em que os três países possuem armas nucleares e já entraram em conflitos armados em diversas ocasiões no século 20. E também trataram do caso entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, que envolve os interesse dos EUA e do Japão.

Pacelli Costa destacou que da recente reunião entre o presidente americano Donald Trump e o líder norte coreano Kim Jon-un não resultou um acordo com pontos a serem cumpridos:

— Quais as etapas da desnuclearização? Quem vai fiscalizar? Quais os prazos? O que cada lado vai cumprir? Isso está em aberto e sem respostas.

Segundo os acadêmicos, as escaladas nucleares entre a China e a Índia, e entre a Índia e o Paquistão são fontes de tensão desde as independências indiana e paquistanesa em 1947. A China é a grande superpotência da região e por isso, a Índia, que também tem uma fronteira disputada com o Paquistão, optou por desenvolver um programa nuclear para sua defesa, explicaram.

O dois professores também abordaram a questão do Irã, que assinou um acordo com os Estados Unidos, Alemanha e França se comprometendo a usar a energia nuclear apenas para fins pacíficos. Esse acordo entrou em crise a partir do instante que o presidente norte-americano Donald Trump o abandonou. O senador Fernando Collor criticou a atitude de Trump, que, segundo ele, tem criado crises após crises no cenário internacional:

— Trump abandona o acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, abandona o acordo de controle nuclear com o Irã. Depois, abandona a Unesco, que é uma entidade cultural. Sai do Conselho de Direitos Humanos da ONU e retira sua assinatura do acordo do G-7. E tudo fica por isso, como se não houvesse consequências.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)