Senado presta homenagem a arcebispo do Rio Grande do Norte

Da Redação | 16/04/2018, 16h35

O Senado comemorou nesta segunda-feira (16), em sessão especial, o centenário de nascimento de dom Nivaldo Monte. Arcebispo de Natal entre 1967 e 1988, dom Nivaldo, como era mais conhecido, faleceu em 2006 aos 88 anos de idade.

O Plenário ficou lotado de representantes da Igreja Católica, da sociedade e do meio acadêmico do Rio Grande do Norte. Para a senadora Fátima Bezerra (PT-RN), que presidiu a sessão especial, a atuação de dom Nivaldo "transcendeu de longe o âmbito eclesiástico, traduzindo o espírito cristão na vida diária".

Fátima Bezerra lembrou a atuação de dom Nivaldo na resistência ao regime militar (1964-1985), quando não hesitou em dar guarida a perseguidos pelo aparato repressivo. Ela também destacou o caráter popular do arcebispo, que "gostava demais do povo potiguar".

— Ele gostava de ter contato direto com a vida real, fazia questão de ir pessoalmente às comunidades rurais e urbanas em ações da Igreja. Atuou no apoio a flagelados das secas, de enchentes, na alfabetização rural, de prevenção à saúde, no combate à prostituição juvenil, na capacitação profissional e na educação política — disse.

Entre os oradores esteve o sobrinho de dom Nivaldo, o economista Roberto Monte, para quem a obra e ação do arcebispo continuam atuais.

- A alma e sabedoria de dom Nivaldo continuam vívidas quando, por exemplo, o papa Francisco afirma que um cristão jamais pode ser hipócrita. Nosso sacerdote potiguar comungava desta linha, encarnava a doutrina social da Igreja, era um crítico da situação política. E infelizmente vivemos tempos em que o 'sim' deixou de ser 'sim' e o 'não' deixou de ser 'não"'. A informação manipulada e a mentira se sobrepõem. Nunca se mentiu tanto em nosso país como nos dias atuais — disse.

Precursor da UFRN

O senador José Agripino (DEM-RN) lembrou a longa amizade que teve com dom Nivaldo. Reforçou que a ação social do arcebispo o tornou na prática um conselheiro e parceiro de suas gestões, tanto na prefeitura de Natal (entre 1979 e 1982) quanto no governo do Rio Grande do Norte (entre 1983 e 1986). Uma relação nascida anos antes, disse o senador, porque o religioso era próximo de seu pai, o também ex-governador Tarcísio Maia (entre 1975 e 1979).

— Enquanto estive no Executivo, meu gabinete sempre esteve aberto para dom Nivaldo. Dialogávamos muito buscando desenvolver políticas públicas para os mais pobres. Seu foco sempre era esse, tentando somar forças — afirmou.

Agrinino destacou ainda que o sacerdote foi o precursor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Isto porque a Escola de Serviços Sociais, criada por ele em 1945, entrou para a história por ser a primeira instituição de ensino superior no Rio Grande do Norte. A Escola de Serviços Sociais foi depois encampada pela UFRN em 1958, quando de sua fundação.

O papel do sacerdote no ensino superior também foi destacado pela atual reitora da UFRN, Angela Paiva. Ressaltou que o bispo era conhecido por ser um grande intelectual, autor de 27 livros em áreas como Psicologia, Biologia e Botânica, além das obras de cunho filosófico-religioso.

Cristão verdadeiro

O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) também relembrou a amizade pessoal que teve com dom Nivaldo, a quem definiu como "um homem do bem, um verdadeiro cristão".

— O Cristo dele era o Cristo que trouxe a espada, porque na sua vida diária buscou amor e conciliação, mas sem perder a visão social. Acredito ser esta a contradição do cristão verdadeiro, uma vez que a espada que divide, extirpa o mal, buscando a permanência do justo. Eu o via assim, como um semeador da paz — definiu.

Representando a arquidiocese de Natal, o cônego José Mário de Medeiros afirmou crer que dom Nivaldo, se vivo fosse, estaria muito apreensivo com a atual situação social do país.

— Ele sentia uma dor pessoal quando percebia que o povo estava perdendo até a esperança no futuro. Acredito que dom Nivaldo lá do alto está pedindo por nosso país, para que sobretudo o Poder Judiciário avalie melhor o que vem fazendo, porque o povo está perdendo o norte e a esperança.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)