Comissão defende acesso a remédios contra Parkinson para todas as idades

Anderson Vieira | 12/03/2018, 17h54

A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) vai pedir ao Ministério da Saúde a revisão da norma que criou limite mínimo de idade para que os doentes de Parkinson comprem ou recebam medicamentos do Programa Farmácia Popular. A reivindicação partiu de especialistas, ativistas e parkinsonianos que participaram de uma audiência pública no Senado nesta segunda-feira (12).

Atualmente, apenas maiores de 50 anos têm acesso facilitado aos remédios. Pacientes mais jovens enfrentam burocracia e precisam de pedidos especiais. O ministério alega que a restrição foi uma tentativa de inibir fraudes e que ela também vale para outras enfermidades. Para osteoporose, por exemplo, a idade mínima é de 40 anos e para hipertensão, 20.

A coordenadora do projeto Vibrar com Parkinson, Danielle Ianzer, lembrou que a doença não é exclusividade de idosos e lamentou a falta de informação sobre a enfermidade, reconhecida popularmente apenas pelos tremores dos pacientes.

— A percepção da população é de que há só tremor. Mas são mais de 30 sintomas, inclusive não motores.  As pessoas não têm culpa de não saber. Não há uma politica de conscientização da doença — afirmou a cientista, que tem Parkinson e relatou com emoção sua luta de seis anos até conseguir diagnosticar com certeza o problema.

Estudos

Atendendo a outro pedido dos convidados da audiência, o vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), senador Paulo Paim (PT), informou que o colegiado vai pedir ao Ministério da Ciência e Tecnologia que analise a possibilidade de criação de uma instituição nacional de pesquisa para a doença de Parkinson.

A professora da USP-Ribeirão Preto Elaine Del-Bel relatou as dificuldades dos pesquisadores com a falta de verbas e disse que a ciência no Brasil "precisa desesperadamente de financiamento". Ela também lembrou a situação difícil enfrentada pelo Conselho Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com a falta de recursos.

— O corte do governo para o Ministério da Ciência e Tecnologia é uma infelicidade, para não dizer absurdo. Em relação a 2010, o diminuição foi de 52%. O CNPq, por exemplo, sempre foi a grande entidade de financiamento para todo o Brasil, mas os pesquisadores não estão recebendo, e as bolsas estão caindo muito — afirmou a especialista, que também relatou a experiência bem-sucedida da USP com estudos envolvendo o antibiótico doxiciclina.

Multidisciplinar

Outro problema relatado na reunião foi a dificuldade dos pacientes para receber tratamento com equipes multidisciplinares. Segundo os especialistas, o doente de Parkinson precisa do acompanhamento não só de neurologista, mas também de fisioterapeuta, fonoaudiólogo, educador físico e nutricionista.

— Se fosse só a questão motora, talvez fosse mais fácil tratar. Mas o Parkinson envolve muito mais. Mesmo no início da doença, há quem apresente declínio cognitivo ainda que leve. A depressão também é muito prevalente. Constipação intestinal, sialorreia [salivação excessiva], dificuldade de deglutição e transtorno da marcha também acometem os pacientes. A atividade física, por exemplo, é fundamental para vida dos parkinsonianos. E de modo geral, os pacientes não têm esse suporte — disse o médico neurologista Nasser Allam.

Parkinson em números
* Segunda doença neurodegenerativa mais comum em todo o mundo, atrás do mal de Alzheimer.
* Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), acomete 0,3% da população mundial, cerca de 5 milhões de pessoas.
* No Brasil no há números atualizados, mas considerando a população de 207 milhões de habitantes, é possível estimar cerca de 600 mil doentes, tendo como base o parâmetro da OMS.
* Entre todos casos, estima-se que de 3% a 6% sejam diagnósticos de Parkinson precoce, ou seja, aquele que atinge pessoas entre 21 e 40 anos.

* Fonte: Projeto Vibrar com Parkinson

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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