A grande vitória do Estado Islâmico foi na internet, diz especialista

Da Redação | 07/03/2018, 18h39

O Estado Islâmico perdeu força e está perdendo a guerra contra a coalizão de países árabes e Estados Unidos. É a opinião do jornalista e professor universitário português licenciado pela Universidade de Tel Aviv, Henrique Cymerman Benarroch. Ele foi o palestrante da audiência pública sobre o tema, promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), nesta quarta-feira (7). Para Cymerman, a grande vitória dessa organização terrorista foi o “califado digital”.

Por meio da internet, o estado islâmico conseguiu cooptar milhares de jovens do mundo inteiro e essa herança pode ser utilizada no futuro por outros grupos jihadistas, acredita o professor. Apesar da cooperação internacional que une esforços contra o terrorismo, parte dele já aponta inclusive em direção à América Latina, alertou.

– Temos que desenvolver uma contranarrativa para essa violência em nome de Deus. O Estado Islâmico utilizou tecnologias do século 21, sem dúvida as redes sociais, para impor um sistema de vida do século 7, dos princípios do Islã, com uma série de leis baseadas na Sharia, uma legislação que de alguma maneira pertence a outra época – disse.

Autor do livro O Terror Entre Nós - Ameaça do terrorismo islamista ao modo de vida ocidental, o jornalista lembra que 60% dos terroristas que cometeram atentados na Europa são filhos de imigrantes que não assimilaram a cultura local. Ainda assim, 98% das vítimas do Estado Islâmico são muçulmanos, ressaltou. Ele recomenda mais investigação sobre os não muçulmanos que se convertem o islã.

Novo mapa

As recentes revoluções no mundo árabe estão mudando a configuração do mapa da região, explicou Cymerman. Síria, Iraque, Iêmen e Líbia, além da Somália na África, “praticamente desapareceram”, afirmou.

– Eu suspeito que vamos ver uma espécie de balcanização, na qual vamos voltar um pouco à situação de 1916, quando havia zonas de influência e não só Estados. Segundo uma base étnica, religiosa, xiitas com xiitas, sunitas com sunitas. Talvez Curdistão independente, talvez Palestina independente.

Com esse novo cenário no Oriente Médio, cinco eixos deverão despontar: Egito, Arábia Saudita, Turquia, Irã e Israel. Na Arábia Saudita, as mudanças já podem ser vistas com o direito às mulheres de dirigir carros e de trabalhar, com as festas que já permitem a reunião de pessoas de ambos os sexos e com a criação de teatros, entre outras.

Irã

Cymerman chama a atenção para o Irã como o país que apoia o maior número de grupos terroristas no mundo, a exemplo do Hezbollah no Líbano e do Hamas na Faixa de Gaza. Considerado grande foco de instabilidade, o Irã também continua a desenvolver mísseis de longo alcance, que podem chegar a grande parte das capitais europeias e é sempre uma ameaça a Israel.

Palestina

O professor entende que chegou o momento de criar um Estado Palestino, provavelmente desmilitarizado, com todos os direitos e que viva em paz com Israel. E a condição prévia para isso é a segurança, “para que não aconteça na Cisjordânia o que aconteceu em Gaza” com o terrorismo. Ele destacou o chamado Deal of the Century, o projeto de paz oferecido pelo presidente americano Donald Trump, que prevê um acordo global no Oriente Médio incluindo a questão econômica.

– A paz bilateral hoje em dia é praticamente impossível. Se não conseguimos durante um quarto de século, não é por acaso. É porque as feridas são demasiado profundas. E, sobretudo, porque há uma desconfiança enorme de um lado em relação ao outro. Creio que devemos investir sem limites na educação das duas partes – observou.

Papa Francisco

O papel do Papa Francisco frente à crise no Oriente Médio, e em especial na Síria, foi questionado pelos senadores Jorge Viana (PT-AC), que é vice-presidente da CRE, e pela senadora Ana Amélia (PP-RS), autora do requerimento para a audiência pública.

– O mundo tem que fazer alguma coisa muito mais séria do que o que está fazendo. E se há alguém que possa fazer, esse é o Papa Francisco. Ele é hoje em dia, em minha opinião, o líder mais global, de mais autoridade moral no mundo. E não é só um líder católico ou cristão – respondeu o jornalista famoso pelas entrevistas com o Papa.

Cymerman também adiantou que ele e outras pessoas ajudam o papa Francisco em projetos que ainda serão anunciados para ajudar a resolver parcialmente estes problemas. São projetos que passam por educação, por redes sociais, e pela mídia – contou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)