Pagamento de propina prejudicou setor de carnes, diz ex-presidente de frigorífico

Da Redação | 22/11/2017, 17h08

O aporte bilionário injetado pelo governo no setor de frigoríficos na verdade prejudicou o setor, disse nesta quarta-feira (22) o ex-presidente do Frigorífico Independência, Roberto Graziano Russo, em depoimento na CPI mista que apura irregularidades nas operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

— Um setor inteiro quebrou sob pretexto da criação da política dos 'campeões nacionais', para quem nunca faltou dinheiro. Mas hoje sabemos que a liberação dos recursos estava vinculada ao pagamento de propinas — disse Grazziano, referindo-se às empresas escolhidas pelo governo para receber recursos públicos, como a JBS.

Graziano relatou que o abate de bovinos pelo Frigorífico Independência teve início em 1992, no Mato Grosso do Sul. Nos anos seguintes, a empresa fez emissões no mercado de ações visando sua expansão e consolidação no setor. Em 2012, porém, as fábricas passaram a ser operadas pelo Grupo JBS, dos irmãos Batista, depois de o Independência não ter conseguido a renovação de um empréstimo junto ao BNDES.

Graziano declarou que o Independência habilitou-se junto ao BNDES para participar da “política dos campeões nacionais”, instituída pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. As conversas evoluíram e o banco entrou como sócio com R$ 400 milhões, ou 13,9% de participação acionaria. Em 2008, a crise econômica acentuou-se, com drástica redução das exportações, levando os bancos a quebrar, impedindo a renovação das operações que solicitavam pagamento das linhas de capitalização.

— A empresa, que sempre teve crédito, tinha dificuldade de conseguir a liberação dos valores acordados com o BNDES, que nunca aportou a segunda etapa. Não conseguimos a renovação do empréstimo do BNDES, e o Independência entra com pedido de recuperação judicial — afirmou.

Após a fala de Graziano, o depoimento foi suspenso pelo senador Sérgio Petecão (PSD-AC). Ele explicou que a reunião não poderia prosseguir sem a participação da maioria dos membros do colegiado, que naquele momento estavam em reunião deliberativa na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO). A reunião da CPMI do BNDES deverá ser retomada nesta quinta (23), quando deverá ser votado, entre outros, requerimento para a realização de diligência no BNDES, no Rio de Janeiro.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)