Parcerias entre empresas e universidades devem ajudar pesquisas, apontam especialistas

Anderson Vieira | 31/10/2017, 14h57

Parcerias com o setor privado são uma das alternativas para o país driblar a escassez de recursos para investimento em pesquisa e tecnologia no setor agropecuário. A análise foi apresentada por convidados que participaram de audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) nesta terça-feira (31).

O diretor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), Luiz Gustavo Nussio, lembrou que a França é um bom exemplo a ser seguido, visto que boa parte da riqueza no campo naquele país foi obtida com trabalho de parceria.

- Lá, colocaram empresas juntamente com o Estado francês. Mas, com um detalhe: com uma alternativa tributária. Quando se investe em inovação no campo, temos que ter um tratamento tributário diferente do tradicional - avaliou.

O representante da Esalq lembrou ainda que o Brasil é respeitado no mundo inteiro quando o assunto é  tecnologia na agricultura. Ele alertou, entretanto, para o fato de não haver geração de tecnologia se ela for desvinculada de formação de pessoal:

- Há estudo recente dizendo que todo o conhecimento de agricultura existente no mundo estará obsoleto em 15 anos. O jovem treinado hoje terá que se reinventar na próxima década e isso não acontecerá se não houver investimos de forma eficiente - avisou.

Apelo

A reitora da Universidade Federal de Viçosa, Nilda Soares, informou que, apesar das dificuldades, as pesquisas nos institutos e universidades não parou. Ela fez um apelo para que o orçamento das instituições, principalmente na área de pesquisa, seja mantido. Segundo a reitora, num país com agronegócio tão forte, inovar é preciso e isso não é possível sem um trabalho de pesquisa intenso.

- Nós precisamos produzir mais, mas precisamos pensar na sustentabilidade. As instituições têm pensado nesses grandes temas [...] O crescimento do agronegócio, que bate recordes, com 60 milhões de hectares plantados, é resultado de pesquisas feitas nos institutos e universidades - afirmou.

Diferenças

Para o coordenador do Núcleo de Economia Agrícola e do Meio Ambiente da Universidade de Campinas (Unicamp), Rodrigo Lanna, a proximidade com a iniciativa privada vai permitir a divisão dos custos e dos benefícios, ajudando a todos. Todavia, ele chamou atenção para a heterogeneidade do setor.

- Temos cinco milhões de estabelecimentos rurais, sendo 84% de agricultura familiar. No centro-sul do Brasil, mais de 50% dos agricultores familiares têm acesso a algum tipo de orientação técnica; no Nordeste, esse índice cai para 10% - informou.

Avaliação anual

Todos os anos, as comissões do Senado escolhem uma política pública desenvolvida pelo Poder Executivo para avaliar. Em 2017, a CRA escolheu o setor de pesquisa agropecuária, atendendo a sugestão do senador Ivo Cassol (PP-RO), presidente da comissão.

A senadora Ana Amélia (PP-RS) deve apresentar seu relatório sobre o assunto até o fim de novembro.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)