Caminhoneiros em greve pedem revogação do aumento de combustível

Patrícia Oliveira | 09/08/2017, 18h07

Representantes de caminhoneiros de vários estados reunidos em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), nesta quarta-feira (9), pediram a revogação imediata do decreto 9.101/2017, que aumentou impostos incidentes sobre o preço dos combustíveis.

O líder dos cegonheiros do Paraná, Wanderlei Alves, informou que, desde o aumento, já são 32 pontos de bloqueio dos caminhoneiros autônomos nas rodovias brasileiras. Eles dizem que estão parados por falta de dinheiro para o abastecimento e manutenção dos veículos.

— A cada 1,5 km, um caminhão gasta um litro de óleo diesel e lá se vão R$ 4. Tem o desgaste do caminhão e do pneu, tem a alimentação na estrada, que não é barata. E aí o governo vem com aumento de combustível e atinge bem na raiz a nossa categoria. A conta não fecha, não bate, não tem como trabalhar, não tem como transportar — reclamou.

Rogério Alberto Reame, líder dos caminhoneiros do estado de São Paulo, alertou para a possibilidade de faltarem artigos de primeira necessidade no mercado, como alimentos, remédios e o próprio combustível transportado nos caminhões.

— O aumento dos combustíveis inviabilizou o trabalho dos caminhoneiros. Não queremos ficar parados, mas é menos prejuízo agora do que rodar. Eu quero dignidade, porque levanto cedo e trabalho o dia inteiro e tenho o direito de pagar minhas contas. Nós estamos pedindo socorro aqui — disse.

Para Odilon Pereira da Fonseca, líder dos caminhoneiros do Mato Grosso do Sul, os impostos cobrados não são revertidos em benefícios para a população. Como exemplo, ele relatou que precisou de um médico recentemente, depois de se acidentar com o caminhão, mas não conseguiu atendimento pelo SUS.

— Se o brasileiro não tivesse se acomodado, a situação seria outra. Eu não vou pagar a conta de corrupção. O governo que corte na própria carne para cobrir o rombo, mas não venham tirar dos caminhoneiros — afirmou.

Apoio

Mesmo ameaçada de multas no valor de R$ 5 mil por hora parada, a categoria em greve há nove dias promete seguir com os bloqueios e a participação cada vez maior de caminhoneiros. Eles já angariaram o apoio de diversas outras entidades de trabalhadores, como a da Federação Nacional dos Policias Federais, representada pelo vice-presidente Flávio Werneck.

— A população se sente inerte e impotente e é o que está dando força a situações como o aumento do PIS e da Cofins. Na matemática, estão aumentando o preço do arroz e do feijão, o custo de vida da população brasileira. Então, vamos louvar o movimento dos caminhoneiros, que estão saindo da inércia. Espremem a categoria deles, mas se reflete em todos nós, com a desculpa que o governo precisa aumentar a arrecadação — avaliou.

A União em Defesa da Cidadania e Combate à Corrupção (UDCCC) também está ao lado dos caminhoneiros. A coordenadora nacional da entidade, Giselle Sousa, convocou a população a apoiar a paralisação.

Esse é o imposto da morte. A gasolina para levar o filho na escola fica mais cara, tudo o que você come fica mais caro. Não é mais só uma causa dos caminhoneiros, é uma pauta de todo mundo agora — afirmou.

Na audiência, o senador Alvaro Dias (Pode-PR) declarou apoio à mobilização dos caminhoneiros e disse que o governo deveria tornar a categoria prioritária para promover desenvolvimento do país no setor de transporte.

Aumentar impostos em uma hora como essa? No momento em que a crise se aprofundou, a recessão e o desemprego são crescentes e atingem várias famílias brasileiras? – questionou.

Carta

Ao final da reunião, o vice-presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS) redigiu uma carta em conjunto com os representantes dos caminhoneiros para ser encaminhada ao presidente da República, Michel Temer. No documento, a principal demanda é a revogação imediata do aumento do preço do combustível. A categoria ainda pede melhoria das estradas, mais segurança e aposentadoria especial.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)