Comissão de Relações Exteriores debate papel da China na economia global

Marcos Magalhães | 02/06/2017, 08h17

O papel da China na economia global será o tema do sexto painel do ciclo de debates O Brasil e a Ordem Internacional: Estender Pontes ou Erguer Barreiras?, promovido pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). Em um momento marcado pelo aumento do protecionismo e por crescentes divergências entre os Estados Unidos e os tradicionais parceiros da Europa, representantes dos meios empresarial e acadêmico debaterão nesta segunda-feira (5), a partir das 18h, o protagonismo da segunda maior potência econômica no atual cenário mundial.

Intitulado O século do dragão? A China e a nova globalização, o painel terá na pauta o avanço chinês na economia e na política mundiais, a situação do Mar do Sul da China, a questão de Taiwan, as consequências da nova prioridade concedida por Beijing ao mercado interno, os investimentos nos países em desenvolvimento e as relações comerciais com o Brasil. Foram convidados a participar do debate o embaixador Luiz Augusto Castro Neves, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, e os professores Henrique Altemani de Oliveira, da Universidade Estadual da Paraíba, e Oliver Stuenkel, da Fundação Getúlio Vargas.

Contraponto

Segundo o presidente da comissão, senador Fernando Collor (PTC-AL), é importante debater a participação chinesa no cenário global no momento em que o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adota posições contrárias ao livre comércio e favoráveis ao protecionismo, sob o argumento de preservar empregos em seu próprio país.

— Vamos fazer um contraponto. No momento em que um país como a China, que vivia isolado, se abre ao mundo, ingressa na Organização Mundial de Comércio e aceita as regras estabelecidas da concorrência mundial, vem um presidente dos Estados Unidos da América com um discurso que era seguido pela China em décadas passadas, ou seja, de erguer barreiras, tanto físicas quanto comerciais — comparou Collor.

Novo ‘normal’

Como observou o ex-presidente, existe muita curiosidade sobre o papel a ser desempenhado pela segunda potência mundial. O Produto Interno Bruto (PIB) da República Popular da China já alcançou US$ 13 trilhões. Em 2015, suas exportações para todo o mundo chegaram a US$ 2,3 trilhões e permitiram ao país obter um saldo comercial de US$ 600 bilhões. Os maiores clientes são os Estados Unidos, para onde se dirigiram 18% das exportações chinesas, Hong Kong (14,6%) e Japão (6%). No mesmo ano a China comprou do mundo US$ 1,7 trilhão – e o Brasil está entre seus 10 maiores fornecedores.

A importância do mercado chinês tem levado analistas em todo o mundo a analisar com especial atenção o novo cenário econômico da segunda potência mundial. Depois de duas décadas de forte crescimento, que se seguiram à abertura econômica promovida pelo antigo líder Deng Xiaoping, os números da economia chinesa estão se estabilizando em um “novo normal”, como informam as autoridades de Beijing. O crescimento chinês foi de 6,7% em 2016, o índice mais modesto desde 1990. O novo cenário levou a agência de risco Moody’s a reduzir a nota da China pela primeira vez desde 1989, de Aa3 para A1.

'Saudável'

Cada agência de risco tem seus próprios critérios, lembrou à Agência Senado o conselheiro Qu Yuhui, responsável por temas econômicos da embaixada da República Popular da China. Ele admite que seu país tem se preocupado com a saúde do sistema financeiro e enfrentado problemas, como o excesso de capacidade produtiva. Observa, porém, que o crescimento de 6,7% do ano passado foi calculado sobre uma base econômica muito maior do que a de vinte anos atrás. E informa que a meta para o período até 2020 é a de 6,5% de crescimento anual.

— A economia chinesa está muito saudável — afirmou Yuhui.

O conselheiro afirma que seu país tem sido bastante beneficiado pela globalização. Mas alerta que a economia global vive “momentos difíceis, com uma onda de dúvidas, protecionismo e isolacionismo”. Na opinião do diplomata, a questão central que se coloca no momento é sobre o tipo de globalização que se pretende construir, uma vez que o atual modelo “tem defeitos, não concede benefícios a todo o mundo e está aumentando as fissuras entre os países e até dentro dos países”.

— Somos defensores de uma globalização mais justa, inclusiva e transparente, com combate ao protecionismo e ao isolacionismo — disse Yuhui.

Segundo o conselheiro, a China não tem intenção de ser líder da globalização. “Isso é perigoso”, recordou. Mas pretende exercer um papel de articulador, especialmente entre países considerados emergentes. A seu ver, é necessário construir uma rede de países — entre os quais citou Brasil, Índia e Rússia — com “a mesma filosofia em relação à globalização”.

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