Debate na CRE aponta resistência em todo o mundo ao avanço da globalização

Da Redação | 27/03/2017, 21h21

O aprofundamento da globalização nos últimos anos vem gerando resistência em diversos seguimentos em todo o planeta, o que se reflete em fatos como a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, a saída do Reino Unido da União Europeia e o crescimento de movimentos nacionalistas em várias nações. Essa foi uma das análises apresentadas na noite desta segunda-feira (27) pelos participantes de audiência pública interativa promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).

O encontro foi comandado pelo presidente da comissão, o senador Fernando Collor (PTC-AL), que comentou as grandes transformações ocorridas nos últimos anos. O senador observou que acontecimentos como a presidência de Trump, o chamado Brexit e o afloramento de nacionalismos em todo o mundo estão colocando incertezas no destino da União Europeia, por exemplo, e diversos outros países e organizações internacionais.

Collor pediu aos convidados que analisassem essas e outras questões, como a continuidade da crise econômica internacional, as alianças regionais, como o Mercosul, o papel dos grandes organismos internacionais, como ONU, OMC, OEA e Otan. Além disso, Collor apontou para problemas como o crescimento do desemprego, a queda da renda, conflitos étnicos, a crise da legitimidade da classe política, migrações, meio ambiente e segurança e defesa nacional.

O embaixador Gelson Fonseca Júnior destacou a grande interdependência econômica entre os países atualmente que, em sua interpretação, não é sinônimo de facilidade de consenso entre as nações. Para ele, os movimentos nacionalistas que estão em crescimento têm interesse na perda de poder da ONU e de outros organismos supranacionais, pois a defesa da indústria e dos empregos nacionais estaria em primeiro plano.

O professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Eduardo Viola afirmou que duas grandes forças estão em embate atualmente: a força do aprofundamento da globalização (hiperglobalização) e as forças contrárias, de reação e resistência, algumas com o intuito de diminuir a velocidade da globalização e outras claramente antiglobalizantes.

Ele chamou atenção também para a aceleração da revolução tecnológica, principalmente o rápido avanço da inteligência artificial e o aumento da capacidade de cooperação entre os países. Para ele, essas transformações cada vez mais rápidas e a produção e compartilhamento constante de dados, informações e conhecimento e a circulação de bens, pessoas e serviços está impactando de maneira profunda a vida cotidiana das sociedades.

Eduardo Viola lembrou que os três grandes polos de poder mundiais hoje são os Estados Unidos, a União Europeia e a China. Esta última interessada no aprofundamento da globalização econômica, mas tentando frear o aumento do compartilhamento de informações dentro de seu território, por exemplo. Já a Rússia, desejando retornar a esse grupo de grandes potências, mas tentando resistir à hiperglobalização.

Por sua vez, o embaixador Rubens Barbosa disse que a nova ordem internacional é incerta nas áreas política, econômica, comercial e de segurança e defesa. Essas incertezas estariam mudando de maneira significativa a geopolítica global.

Sobre o Brasil, Rubens Barbosa afirmou que o país tem sérios desafios, como a continuidade da crise econômica, as crises política e ética, a necessidade de austeridade para bancar o crescimento econômico, a desindustrialização e a perda de competitividade no comércio internacional. Também há desafios para todo o planeta, como o terrorismo, a questão Israel/Palestina, os refugiados, a segurança cibernética, a crise do multilateralismo, a volatilidade dos preços das commodities e o reordenamento do sistema produtivo global. Isso tudo gera grandes incertezas no comércio internacional, enfraquecimento da OMC e crescimento de protecionismos nos países.

Para Rubens Barbosa, o Brasil não vem reagindo adequadamente a todas essas mudanças e tem o grande desafio de retomar a liderança na América do Sul e reinserir-se como uma das grandes economias mundiais, reaproximando-se das grandes nações.

Também participaram dos debates os senadores Cristovam Buarque (PPS-DF), Jorge Viana (PT-AC), Hélio José (PMDB-DF) e Thieres Pinto (PTB-RR). Algumas perguntas e observações enviadas por internautas pelo portal e-Cidadania foram lidas pelo presidente Collor e comentadas pelos debatedores.

Este foi o primeiro painel do ciclo de debates planejado pela CRE para este ano. O ciclo se intitula “O Brasil e a Ordem Internacional: Estender pontes ou erguer barreiras?”. O tema desta segunda-feira (27) foi “Tempestade ou Calmaria? A configuração da ordem internacional contemporânea e a atuação do Brasil”. O segundo painel ocorrerá no dia 10 de abril.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)