A convite de duas comissões, ministro defende qualidade da carne brasileira

Da Redação | 22/03/2017, 18h34

Em audiência pública sobre a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, promovida nesta quarta-feira (22) pelas Comissões de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) e de Assuntos Econômicos (CAE), o ministro da Agricultura Blairo Maggi defendeu o processo de industrialização de carnes no Brasil e o serviço de inspeção que atesta a sanidade dos frigoríficos e granjas. O encontro foi marcado após a aprovação, nesta terça (21), de requerimentos nas duas comissões convidando o ministro para esclarecer as medidas tomadas pelo governo diante da ação da PF. Para Maggi, é hora de recuperar a confiança do mercado internacional ao mostrar que o problema detectado na operação é “pontual e localizado”, relacionado ao “desvio de conduta de servidores” e não à qualidade do produto.

— Nós apoiamos a investigação da Polícia Federal desde que feita dentro dos critérios que deve ser feita, com técnicos que conheçam os regulamentos — ressaltou.

O ministro disse também que não tem como defender quem cometeu irregularidades. Três frigoríficos foram interditados e outros 18 tiveram as exportações suspensas até que as fiscalizações sejam concluídas. Segundo ele, os países que receberam mercadorias dessas empresas já foram avisados. Também houve conversas com Argentina, Chile Uruguai.

Depois de o Japão declarar que vai suspender temporariamente apenas a importação das 21 unidades investigadas, a maior preocupação do governo agora é com a China e Hong Kong, responsáveis por cerca de 40% das exportações e receitas.

— Na exportação, se houver embargo, nós vamos levar de três a cinco anos para reconquistar esses mercados. Estamos trabalhando muito para que o problema fique restrito a essas 21 empresas, em um enfrentamento claro, direto, transparente, rápido e eficiente — disse o ministro.

Imagem

A audiência teve a cobertura da imprensa chinesa. Os senadores lamentaram a repercussão na imagem do país como exportador de carne. O ministro negou as notícias sobre a mistura com papelão, o uso de ácido e a venda de carne podre. Em resposta ao vice-presidente da CAE, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), Blairo Maggi afirmou que uma das primeiras medidas do Ministério da Agricultura foi declarar um autoembargo.

— A imagem do Brasil está arranhada, os prejuízos são grandes — afirmou o ministro ao informar que houve uma oscilação no mercado desse setor de aproximadamente 10% após a divulgação da investigação federal.

Blairo Maggi registrou também que o setor de carnes gera 6,7 milhões de empregos no país, além de envolver mais de 300 mil famílias no campo.

Dalírio Beber (PSDB-SC) descreveu a Operação Carne Fraca como desastrosa para o país e afirmou que a economia do estado dele, Santa Catarina, que é dependente do agronegócio ficou combalida. Ele cobrou informações para a retomada do ritmo de exportações e recuperação do setor.

— Todo a cadeia do setor de proteína animal está preocupada com o presente e o seu futuro. O que precisamos é de informações para que rapidamente possamos agir junto aos mercados compradores e tentar retomar o embarque de carnes no mesmo ritmo que vínhamos fazendo — disse Beber.

O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) lamentou a redução no abate e na comercialização de animais em Rondônia, estado que não aparece nas investigações, mas que está sendo afetado pelos resultados da Operação Carne Fraca.

Cidinho Santos (PR- MT) também citou prejuízos dos criadores de aves. Ele avaliou que houve “desconhecimento” do processo industrial de carnes, pois foram apontadas irregularidades em situações consideradas normais.

— Ano passado nós tivemos 852 mil embarques internacionais e só houve 180 notificações, ou seja, de não conformidade — informou.

Ajuda

O ministro Blairo Maggi ressaltou que espera também a ajuda do Senado para reverter a situação no cenário internacional e que o Brasil possa manter os 7% do mercado mundial de alimentos.

— É um choque muito grande que esse setor não merecia sofrer. O grande trabalho que nós temos daqui para frente é de recuperar, de reorganizar as nossas forças, de correr atrás, viajar o mundo, tentar explicar o que aconteceu aqui, que foi desvio de algumas pessoas e não do sistema e não de uma indústria forte que nós temos — completou.

Fiscalização

O senador Wellington Fagundes (PR-MT) lembrou que o Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura existe há mais de 100 anos e é um dos mais respeitados do mundo. Ele também alertou para o fato de, nos últimos anos, o número de servidores, como auditores e veterinários, vem diminuindo.

A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), ex-ministra da Agricultura, destacou a competência, seriedade e rigor da Secretaria de Defesa Agropecuária. Ela disse que 2.000 fiscais agropecuários vigiam o abate de carnes no país de maneira permanente.

— A corrupção nos frustra, o que essas pessoas fizeram conosco não tem tamanho, é um crime de lesa pátria. Não existe risco zero na produção de alimentos em nenhum país. Vamos prender a bandidagem e absolver a carne brasileira — afirmou Kátia Abreu.

O senador Waldemir Moka (PMDB-MS) elogiou e reforçou sugestão da senadora Kátia para que seja criada comissão externa para acompanhar o processo de resgate da confiança do setor. Para ele, no entanto, o grupo deve ser formado também por especialistas.

— Gostaria que pudéssemos acompanhar isso internacionalmente para que a gente possa dar explicações e levar o testemunho, além dos ministros, de técnicos, peritos, e também com representação do Congresso brasileiro. Temos que estancar isso, mostrar que aconteceu, que as providências já foram tomadas e que queremos continuar vendendo para o mercado externo.

Moka lembrou aos senadores e aos ministros que está na pauta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) projeto de sua autoria que torna crime hediondo qualquer tipo de adulteração ou falsificação de alimentos. O texto (PLS 228/2013) tem como relator o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG).

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), por sua vez, afirmou que as consequências da operação Carne Fraca serviram para mostrar a todos que os quadros técnicos dos ministérios e outros órgãos públicos têm de ser preenchidos por merecimento e competência, não por indicações políticas.

Caiado também disse que as irregularidades foram encontradas em poucos estabelecimentos, “focos isolados” que já foram identificados, e que o governo está agindo rapidamente.

Máfia

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse que, dos 21 frigoríficos investigados, 18 são do Paraná, mas 14 deles não exportaram no ano passado. Ela disse que a população paranaense ouve há anos boatos sobre a possível existência de um grupo de pessoas envolvido em irregularidades em frigoríficos do estado. Para a senadora, “essa máfia” ocasionou um “abalo sem precedentes na cadeia produtiva da carne brasileira”.

Ela cobrou do governo a demissão do ministro da Justiça, Osmar Serraglio, devido a indícios de que ele teria envolvimento com alguns dos investigados.

Embora reconhecendo a importância do trabalho da Polícia Federal, Gleisi Hoffmann condenou o que ela classificou de “desnecessária espetacularização” e “ação espetaculosa” da corporação na divulgação dos resultados das investigações.

Já o senador Lasier Martins (PSD-RS) quis saber se Blairo Maggi teria ouvido falar sobre irregularidades em frigoríficos nos dez meses em que está à frente da pasta da Agricultura. Para ele, a operação da PF só flagrou três frigoríficos cometendo irregularidade, mas levantou suspeitas sobre os outros 18 que foram investigados, mas não foram flagrados.

Em respostas a Gleisi e Lasier, Blairo Maggi disse que ouviu alguns boatos desde que assumiu o Ministério da Agricultura, mas nada com indícios ou provas convincentes. O ministro afirmou que é comum haver disputas internas entre grupos de funcionários das superintendências estaduais do ministério, o que acaba gerando muitas acusações e denúncias internas, mas todas elas são avaliadas.

— Boatos sempre existem e sempre existiram — afirmou.

Blairo Maggi informou que o ministério fará intervenção em frigoríficos do Paraná e de Goiás, levando técnicos e especialistas para avaliar essas empresas e promover as mudanças necessárias. Como exemplo dos prejuízos que o país já está sofrendo, o ministro disse que a média de embarque diário de carnes brasileiras exportadas gira em torno de US$ 63 milhões.

— Ontem foram apenas US$ 74 mil embarcados. Vejam o tamanho da pancada que nós recebemos e quanto tempo vamos levar para nos restabelecer. São números estratosféricos e ainda não sabemos o tamanho do prejuízo. Estou muito preocupado, mas confiante — disse.

Comércio exterior

O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, também participou da audiência. Ele informou que o Brasil é o maior exportador mundial de carnes bovina e de frango e o segundo maior país produtor dessas carnes, atrás apenas dos Estados Unidos. Já em relação à carne suína, o Brasil é o quarto maior país exportador e o quarto maior produtor mundial.

O ministro Marcos Pereira acrescentou que as exportações brasileiras de carnes somaram 6,3 milhões de toneladas, o que totalizou US$ 13,5 bilhões. Esse montante, disse o ministro, equivale a 7,3% das exportações totais do Brasil em 2016, que foram de US$ 185 bilhões.

Ele frisou que a carne é o quarto principal produto das exportações brasileiras, ficando atrás da soja (25,4 bilhões exportados em 2016), material de transporte e componentes e minérios e metalurgia.

A carne de aves, segundo o ministério, é a mais exportada: 4,5 milhões de toneladas em 2016, totalizando US$ 7,1 bilhões. Já a carne bovina teve US$ 5 bilhões (1,3 milhão de toneladas) e a suína US$ 1,3 bilhão, com 620 mil toneladas.

Ainda segundo a Secretaria de Comércio Exterior, disse Marcos Pereira, 21 estados brasileiros exportaram carnes em 2016, sendo os maiores participantes Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Outro dado é que 205 empresas brasileiras exportaram carne em 2016 e apenas quatro dos 21 frigoríficos que constam das investigações da Polícia Federal promoveram exportações no ano passado, o que representou 0,9% do total de carnes brasileiras exportadas.

As carnes nacionais foram vendidas para 165 países no ano passado, continuou o ministro, sendo os maiores compradores os Estados Unidos, a China, Hong Kong e Arábia Saudita.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)