Trump pode ter impacto negativo na economia brasileira, avalia ex-embaixador

Sergio Vieira | 08/12/2016, 15h36

O comércio entre Brasil e  Estados Unidos tem despencado nos últimos anos, e a orientação econômica já adiantada pelo futuro presidente Donald Trump pode refrear a queda nos juros e instabilizar ainda mais as taxas cambiais em nosso país, além de possuir um claro viés protecionista. A avaliação é do ex-embaixador em Washington (1999 a 2004) e atual presidente do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Rubens Barbosa.

Ele participou nesta quinta-feira (8) de uma audiência na Comissão de Relações Exteriores (CRE) que discutiu os impactos para o Brasil e o mundo da eleição de Trump para a presidência dos Estados Unidos, cargo que assumirá no dia 20 de janeiro.

Rubens Barbosa citou dados oficiais demonstrando que o comércio bilateral entre Estados Unidos e Brasil tem caído bastante desde 2014, quando ultrapassou U$ 60 bilhões. Já em 2016 o fluxo deve ser pouco superior a U$ 40 bilhões.

- Só neste ano as exportações para os Estados Unidos caíram 25%, e as importações, 10% - disse o ex-embaixador, acrescentando ainda que o futuro presidente continuaria "em campanha", pois mantém sua posição de promover uma forte queda nos impostos, combinado com investimentos keynesianos em infraestrutura.

O objetivo dessa orientação de Trump é diminuir o desemprego, sua tônica durante a campanha eleitoral, e retomar o crescimento da economia. O desafio do novo governante é promover esta reorientação sem aprofundar o desequilíbrio já existente "em grande escala" nas contas públicas daquele país, como ressaltou Rubens Barbosa.

- No meio de tantas incertezas que cercam Trump, uma das poucas certezas é que ele promoverá um rápido aumento nas taxas de juros, aliás já sinalizado pelo Federal Reserve [o Banco Central dos EUA].

Este cenário afetará muito o Brasil, continuou ele, pois provocará um deslocamento considerável de capital financeiro hoje investido por aqui para aquele país.

E caso essa nova orientação até agora sinalizada por Trump provocar um descontrole nas contas públicas norte-americanas, as consequências seriam imprevisíveis não só para a economia brasileira, mas em toda a cena internacional. Rubens Barbosa ainda acrescenta que o aumento das taxas de juros dos Estados Unidos ainda trará como consequências uma maior instabilidade no câmbio brasileiro e déficits na balança de pagamentos.

Impeachment de Trump?

O outro participante da audiência foi o professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco, Gunther Rudzit. Ele citou o professor de História Política da American University, Allan Lichtman, respeitado naquele país como analista do cenário político.

Este professor, que foi o único a bancar desde o início da campanha eleitoral que Trump seria eleito, agora tem dado entrevistas em que não descarta que o novo mandatário tenha que lidar com um cenário de instabilidades, enfrentando até mesmo processos de impeachment no Congresso.

Rudzit lembra a "zona nebulosa" em que vive o tempo inteiro o novo presidente, controlador de empresas com negócios nas mais diversas partes do globo, o que gera desconfianças sobre como ele vai equilibrar seus negócios pessoais com os interesses de estado norte-americano.

Trump já avisou que o controle de suas empresas está agora com a filha Ivanka Trump e o genro Jared Kushner, que no entanto também têm atuado como seus assessores.

- A Ivanka inclusive participou do encontro do pai, já como presidente eleito, com o primeiro ministro Shinzo Abe [do Japão], onde com certeza assuntos de Estado foram tratados - disse Rudzit, para quem Trump deve contribuir com mais incertezas num cenário global já conturbado.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) informou que entre acadêmicos norte-americanos com quem manteve reuniões o clima é de expectativas e incertezas quanto aos rumos da gestão Trump, em que até mesmo processos de impeachment contra o futuro presidente não deixam de ser considerados.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)