Cientista defende adoção de novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia

Marcos Magalhães | 08/12/2016, 15h01

Ameaçada de extinção na Amazônia, a ucuuba, árvore que chega a ter 60 metros de altura, foi apontada como exemplo do potencial econômico da biodiversidade brasileira, durante o seminário 1º Congresso do Futuro, que teve início nesta quinta-feira (8), no auditório Petrônio Portella. Até recentemente, a árvore era derrubada e usada apenas para a produção de cabos de vassoura. Agora ela permanece de pé e rende três vezes mais por meio da utilização de suas sementes para a produção de cosméticos.

— Precisamos valorizar os produtos da floresta e criar uma bioindústria na Amazônia, gerando bons empregos na região — recomendou o climatologista Carlos Nobre, membro do Conselho Científico sobre Sustentabilidade Global da Secretaria-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na abertura do seminário, presidido pelo senador Wellington Fagundes (PR-MT).

O cientista recorreu ao exemplo da Amazônia, maior ecossistema do Brasil, para abordar o tema do primeiro painel do seminário, o Desenvolvimento Sustentável da América Latina. Ele defendeu a adoção para a região de uma terceira via, além dos modelos puramente conservacionista e de expansão agropecuária. Em vez de olhar para as possibilidades de produção de carne, grãos e madeira, sugeriu, o país deveria privilegiar o potencial da biodiversidade da Amazônia, utilizando para isso os instrumentos da chamada Quarta Revolução Industrial.

— É um modelo disruptivo e revolucionário, onde a inovação é central — definiu.

Em língua indígena, ucuuba significa árvore da graxa, ou da manteiga. Por isso, tem sido usada pela empresa Natura para a produção de cremes hidratantes e sabonetes. A empresa pretende movimentar R$ 1 bilhão na região amazônica até 2020, segundo informou durante o seminário o diretor de Assuntos Corporativos da Natura, Marcelo Behar. Atualmente, observou, já são beneficiadas pela venda de frutos e sementes 2250 famílias de 30 comunidades.

Legislativo

Também presente ao seminário, o diretor do Centro Mundial do PNUD para o Desenvolvimento Sustentável (Centro Rio+), Rômulo Paes de Sousa, ressaltou a importância do Poder Legislativo na elaboração de marcos legais que estimulem a adoção de novos modelos de crescimento.

Ele recordou que, para a implantação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela ONU em 2015, será necessário combinar as dimensões ambiental, econômica e social. Essa agenda, recordou, confere grande importância ao debate sobre o tema no Congresso Nacional.

— A liderança do Legislativo brasileiro nesse tema é fundamental — afirmou Paes de Sousa.

Jovens

A implantação de um novo modelo mais sustentável também depende bastante dos jovens, segundo observou o pesquisador Alfredo Pena-Veja, do Centro Edgar Morin, Instituto Interdisciplinar de Antropologia Contemporânea, em Paris.

— Precisamos dedicar esforços a despertar a consciência dos jovens. Esta deve ser uma bandeira das novas gerações, e a via possível é a educação — disse Pena-Veja, coordenador do Pacto Mundial Jovens pelo Clima.

Também presente ao encontro, o fundador do think tank Democracy Lab, Alvaro Salas, ressaltou que a América Latina tem que desafiar o pensamento corrente de que a região só pode ser produtora de bens primários. Por sua vez, o presidente da General Electric do Brasil, Gilberto Peralta, informou que a empresa está investindo US$ 500 milhões no quinto centro global de pesquisa da multinacional, localizado no Rio de Janeiro.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)