Torcidas organizadas reclamam de processo de 'criminalização'

Sergio Vieira | 22/09/2016, 16h30

A Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) realizou nesta quinta-feira (22) uma audiência pública, por iniciativa do senador Hélio José (PMDB-DF), para discutir o Estatuto do Torcedor (Lei 10.671/2003). Na audiência, representantes de torcidas organizadas reclamaram que estariam sofrendo de uma "campanha de criminalização nunca antes vista", tanto por parte de setores da mídia como de órgãos do Estado, segundo o representante da Associação Nacional das Torcidas Organizadas (Anatorg), o sociólogo Alex Sandro Gomes.

A audiência contou com representantes do Ministério dos Esportes, do Ministério Público, de órgãos de segurança e das torcidas organizadas, como a Raça Rubro-Negra (Flamengo), Força Jovem (Vasco), Máfia Azul (Cruzeiro), Mancha Verde (Palmeiras) e Ira Jovem (Gama).

- Me choca muitas vezes o tratamento que recebemos da mídia, por parte de pessoas que não conhecem de fato o que fazemos. Nada sabem sobre a inserção positiva que temos em comunidades populares de norte a sul do país, em atividades culturais e de inserção de jovens - garantiu Alex Sandro, também conhecido pelo apelido de Minduim.

Ele não nega que membros de torcidas organizadas diversas vezes se envolvem em casos de violência nos estádios ou em trajetos de ida e volta dos jogos, mas pede aos órgãos estatais que nestes casos punam os indivíduos diretamente envolvidos, não a torcida organizada como um todo. Em diversos estados e cidades algumas dessas instituições foram fechadas por ações do Ministério Público ou proibidas de se manifestarem durante as partidas.

- Esses atos de violência não tem o apoio de nenhuma torcida. Temos que ser vistos como parceiros no combate a esse problema, nós somos parte da solução - disse Alex Sandro.

Ações sociais

Andre Brito, da Força Jovem (Vasco), convidou jornalistas, promotores e policiais, que na sua opinião prejulgam os membros das torcidas organizadas como "marginais", a acompanharem ações conjuntas de diversas torcidas a serem desenvolvidas em outubro em Brasília, ligadaa à doação de brinquedos para instituições sociais que abrigam crianças em situação de vulnerabilidade.

Informou ainda que outras ações estão sendo desenvolvidas, com a mesma filosofia, ligadas à doação de alimentos, roupas, mantimentos e produtos de limpeza, que culminarão no final do ano com um "Natal Solidário".

Wallace Mendonça, também da Força Jovem, reclamou do "processo de criminalização" que as torcidas estariam sofrendo, segundo ele em grande parte fruto de um preconceito "de quem só conhece essas instituições pelo que a Globo noticia". Ricardo Leal, da Mancha Verde (Palmeiras), também lembrou a responsabilidade que no seu entender o poder público e as entidades organizadoras tem nos distúrbios durante partidas de futebol.

- É muito comum não cumprirem os protocolos acertados em reuniões prévias com as próprias torcidas - afirmou.

Ministério do Esporte

O secretário nacional de Futebol, Gustavo Perrella, representando o Ministério do Esporte, garantiu que o governo vê as torcidas organizadas como "parceiras" na diminuição de episódios de violência envolvendo partidas oficiais, e que a entidade está "de portas abertas" para reuniões com os representantes das torcidas. Lembrou que desde 2014 o ministério vem realizando seminários em todas as regiões tratando sobre o tema, e que a iniciativa continuará.

- O ministro Leonardo Picciani é um entusiasta do esporte como um meio de melhorar a sociedade. E é do interesse das próprias torcidas expulsar quem pratica atos de vandalismo - disse.

Perrella também defendeu a criação do Cadastro Único dos Torcedores, garantindo que já vem tomando medidas visando sua implementação. A medida também teve o apoio do representante do Ministério Público do Distrito Federal presente à reunião, Bruno Freitas, que garantiu que a instituição "jamais teve a intenção ou agiu de forma a demonizar as torcidas".

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)