Senado homenageia destaques da luta pelas pessoas com deficiência

Da Redação | 21/09/2016, 15h12

O Senado conferiu, nesta quarta-feira (21), a comenda Dorina Nowill a cinco pessoas reconhecidas pelo trabalho em prol das pessoas com deficiência. São eles o fundador da Rede Sarah de hospitais, Aloysio Campos da Paz Júnior (in memoriam); a presidente da Associação das Pioneiras Sociais (APS) da Rede Sarah de hospitais, Lúcia Willadino Braga; o servidor do Senado Federal, Fernando Gomide, presidente da Associação Brasiliense de Amparo ao Fibrocístico (ABRAFC); o ex-senador Flavio Arns e a arquiteta Helena Werneck.

O senador Helio José (PMDB-DF), que presidiu a sessão, lembrou que a solenidade comemora o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, celebrado em 21 de setembro. Ele ressaltou a importância do Legislativo para a causa das pessoas com deficiência.

— O parlamento é um lugar estratégico para que o movimento das pessoas desenvolva seu ativismo cívico e político e é exatamente por isso que, com muito orgulho, estamos todos aqui. Temos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal vários parlamentares e grupos de apoio comprometidos com a causa das pessoas com deficiência. A atuação parlamentar culminou na aprovação no Congresso Nacional do Estatuto da Pessoa com Deficiência — afirmou.

O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) utilizou o exemplo das Paralimpíadas de 2016 para demonstrar o quanto a deficiência pode se traduzir em superação, esperança e excelência. Os atletas, com diversos graus de deficiência, levaram o país à melhor posição já alcançada nos jogos Paralímpicos.

— Testemunhamos a força da superação, verdadeiros milagres, nos convencemos do real valor das pessoas com deficiência — disse.

Apesar de o Brasil ainda estar longe da inclusão completa, o trabalho de pessoas como Dorina Nowill foi e continua sendo crucial para dar autonomia aos cidadãos com deficiência, citou o senador. Ele também destacou a importância das Apaes nesse processo.

— A entrega da comenda marca o compromisso e o reconhecimento do Senado e de toda a sociedade brasileira, e a luta de todos os que se comprometeram a fazer a inclusão das pessoas com deficiência — afirmou.

Cristovam Buarque (PPS-DF) lembrou que o tratamento respeitoso aos portadores de deficiência física ou mental é uma característica do século 21 e pode ser visto durante a realização das Paralimpíadas, quando as crianças puderam ver que existem diferentes tipos de heróis. O parlamentar demonstrou encantamento ao ver o Senado dedicando tempo e recursos para prestigiar uma causa tão importante.

— Fico feliz de poder dizer que a diferença pode ser vista com normalidade. Os que têm deficiências são normais, e esse é um desafio que temos: garantir que ninguém seja anormal por falta de apoio para construir sua normalidade — destacou.

Alvaro Dias (PV-PR) destacou a importância de garantir às pessoas com deficiência o acesso aos bens da sociedade: educação, saúde, trabalho, remuneração digna e inclusão no mercado de trabalho. Para garantir essa inclusão e o pleno emprego, ressaltou o parlamentar, é preciso atualizar as leis referentes ao trabalho à luz da Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2016) e da Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, que foi referendada pelo Brasil no ano de 2009.

O senador Roberto Rocha (PSB-MA) exaltou o exemplo da Dra. Lúcia Braga, por ela trabalhar com a ideia de que não é a lesão que define o indivíduo, mas o que lhe resta de habilidade.

— Doutora Lúcia ensinou seus pacientes a se verem a partir de suas capacidades. O foco não é o que falta, mas o que está preservado.

Agraciados

Primeiro a receber a comenda, o ex-senador Flávio Arns exaltou a figura de Dorina Nowill como uma pessoa batalhadora e destacou o trabalho do Senado Federal a favor das pessoas com deficiência.

— O Senado tem compromisso para que a cidadania, os direitos humanos, as oportunidades aconteçam — disse.

Fernando Gomide, diretor da Associação Brasileira de Apoio ao Fibrocístico, lembrou as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com doenças raras para obter medicamentos e tratamento, tanto do sistema público quanto dos hospitais privados e planos de saúde. As empresas de seguro e de medicamentos não podem adotar a mão do mercado e a busca pelo lucro como timoneiras nas relações com seus segurados, afirmou.

Ele também criticou a demonização da chamada “judicialização” da saúde. A imprensa, segundo acusou, se fixa em exemplos extremos, destacando pedidos absurdos em vez de acompanhar de perto o sofrimento de quase 50 milhões de pessoas com deficiência que não conseguem, muitas vezes, obter remédios de fornecimento obrigatório.

— Somos obrigados a entrar na Justiça para obter o que é nosso direito, porque doentes são joguetes nas mãos dos laboratórios — acusou.

Gomide agradeceu especialmente ao espaço obtido em comissões do Senado, como a de Educação (CE) e de Direitos Humanos (CDH), para denúncias e debates sobre os variados tipos de deficiências, em especial às limitações ocasionadas pelas doenças raras, como fibrose cística.

Na mesma linha, Lúcia Braga, diretora da Rede Sarah, agradeceu o apoio dos senadores pelos ganhos que asseguram ao hospital ano após ano, com emendas que aumentam os repasses direcionados à instituição.

— É uma honra enorme receber a comenda Dorina Nowill. Ela mudou a visão de atenção e cuidado da pessoa com deficiência no Brasil — destacou.

A viúva do homenageado Aloysio Campos da Paz Júnior, Elsita Lorlai Coelho Campos da Paz, afirmou que seu esposo foi um “combatente enérgico” ao implantar a rede Sarah do Brasil. Ela relatou que, na semana que antecedeu sua morte, ele manifestou só querer pensar no Sarah.

— Na semana que antecedeu sua morte, comprei para ele um DVD sobre um assunto de sua predileção. Ele me disse: “Elsita, obrigado, mas não assistirei ao filme. Eu só quero pensar no Sarah”. E foi assim até o último minuto de vida — contou.

A arquiteta Helena Werneck, mãe de uma menina com síndrome de Down, e desenvolvedora de campanhas na mídia em prol da inclusão social, agradeceu a postura do Senado de apoio às pessoas com deficiência.

— Sem essa postura da Casa com olhar positivo em cima das pessoas com deficiência, a gente não conseguiria dar esses passos — disse.

A Comenda

Criada em 2013, a comenda é concedida pelo Senado a personalidades que tenham oferecido contribuição relevante à defesa das pessoas com deficiência no Brasil. A primeira entrega da honraria só ocorreu em 2015.

As primeiras homenageadas foram Aracy Lêdo, Maria Luiza Câmera, Rosinha da Adefal, Mara Gabrilli, Loni Mânica e Solange Calmon. Além de uma homenagem in memoriam à própria Dorina, criadora de uma fundação que leva seu nome e auxilia deficientes visuais, com serviços de reabilitação e edição de livros em braile.

Dorina Nowill

A educadora Dorina de Gouvêa Nowill (1919-2010), nascida em São Paulo, perdeu a visão aos 17 anos. Mesmo cega, estudou em uma escola normal regular e tornou-se professora primária. Criou a Fundação Dorina Nowill, uma entidade voltada para auxílio aos deficientes visuais e reconhecida pela qualidade de seus livros acessíveis e serviços de reabilitação.

Em 1948, trouxe para o país um maquinário completo para impressão em braile, e hoje sua fundação conta com a maior imprensa braile da América Latina. Durante sua carreira acadêmica, especializou-se em educação de cegos na Escola de Pedagogia, em Nova York. Foi presidente do então Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos, hoje União Mundial dos Cegos. Morreu aos 91 anos idade.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)