Inconsistências nos resultados são problemas no diagnóstico do mormo, conclui audiência na CRA

Da Redação | 07/07/2016, 14h49

Apesar da garantia de que o Brasil possui capacidade técnica para diagnosticar o mormo, doença que vem afetando o plantel de cavalos, burros e mulas no país, os laboratórios nacionais enfrentam dificuldades para lidar com uma peculiaridade: a sororeversão, o desaparecimento, em novas amostras, dos anticorpos que indicavam a infecção em animais antes positivados para a enfermidade bacteriana, mas sem haver uma cura. Essa inconsistência de resultados positivos e negativos tem gerado desconfiança e indignação em produtores.

Este foi o teor da exposição dos representantes dos criadores, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e dos Laboratórios Nacionais Agropecuários (Lanagro), vinculados ao Ministério, durante a segunda audiência pública da Comissão de Agricultura (CRA) para discutir o tema, nesta quinta-feira (7).

Atualmente, os Lanagro de Pernambuco e Pará são os mais capacitados para realizar o diagnóstico do mormo, explicou Leandro Barbieri, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa. O governo vem trabalhando para expandir essa rede, que conta com seis Lanagros e 28 laboratórios particulares credenciados nacionalmente, disse ainda. Do resultado desses exames, depende a decisão de suspender ou não as atividades de um haras e de sacrificar animais contaminados.

A pesquisadora Fabiola Correa, do Lanagro-PE, garantiu que as técnicas em uso no Brasil são as mesmas adotadas por laboratórios em países com os quais a instituição tem estreita colaboração.

— Estamos em treinamento, estamos trabalhando em conjunto. A perspectiva é boa, mantemos contato constante com o pessoal de referência de Alemanha, França, Dubai. Trabalhamos em conjunto, a gente trabalha com as técnicas disponíveis, com o que existe no momento, mas claro que podemos melhorar —, afirmou.

Porém, esses exames às vezes têm dado resultados falsos. Negativo, apesar de haver contaminação, ou positivo e o animal não estar realmente doente, ou, ainda, apresentar os sintomas, mas não possuir a bactéria. Para que os diagnósticos sejam seguros, o presidente da Associação Brasileira dos Médicos Veterinários de Equídeos, Rui Vincenzi, defendeu a padronização dos procedimentos para evitar o que chamou de “dança de resultados”. Problemas com o envio de amostras, o acondicionamento e a temperatura, por exemplo, em sua opinião, afetam os resultados.

— O ideal seria termos reagentes iguais, tanto na rede credenciada particular como na rede oficial, tanto do reagente, dos antígenos, das técnicas, se é a frio ou a quente. Talvez a padronização seja um dos fatores que vai eliminar esse problema do positivo-negativo —, disse.

Segundo Fernando dos Santos, médico veterinário do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), um dos problemas está na sensibilidade dos testes disponíveis. Um dos desafios para o futuro é adotar uma combinação de exames que possibilitem mais sensibilidade e mais especificidade, com baixo custo e disponíveis no comércio.

Dois pesos

Autor do requerimento de audiência, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) acusou o governo de atuar com dois pesos e duas medidas nas interdições dos haras. A Coudelaria Souza Leão, em Pernambuco, onde já foram sacrificados mais de 200 cavalos, está interditada desde 2009. Com o Complexo Militar de Deodoro, no Rio de Janeiro, onde serão realizadas as provas de hipismo nas Olimpíadas e houve o diagnóstico de um cavalo com mormo, a situação foi diferente.

— É muito difícil para nós entendermos dois pesos e duas medidas na análise. O Complexo Deodoro ele foi liberado em pouco mais de trinta dias. E as outras propriedades rurais estão sendo interditadas há anos. Nós temos aqui proprietários de haras que quebraram, estão falidos —, lamentou.

Leandro Barbieri, do Mapa, explicou que a desinterdição das propriedades obedece a um processo e a demora depende de cada caso, e revelou que o processo em Deodoro levou cinco meses e não um, como afirmou Caiado.

Ronaldo Caiado e o senador Waldemir Moka (PMDB-MS) sugeriram uma parceria entre produtores, órgãos técnicos e o Ministério da Agricultura para dar adotar uma padronização nos exames e melhorar o diagnóstico e, assim, dar celeridade à liberação das propriedades.

— Estamos diante de uma doença complexa, com diagnóstico complicado. Nunca tinha ouvido falar que você pode ter, na sorologia, positivo, depois negativo e o animal ainda ser considerado doente. É uma coisa complexa, e a base dessa confusão toda é essa, dá uma insegurança muito grande —, lamentou Moka.

Mormo

O mormo é uma doença bacteriana grave e contagiosa que ataca equinos, mas pode também ser transmitida ao homem e a outros animais. Os sintomas são corrimento nas narinas e nódulos nas mucosas nasais e nos pulmões do animal, sendo também frequentes casos assintomáticos. Constatada a doença, o cavalo é geralmente sacrificado para evitar a contaminação de outros animais.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)