Controle de javalis selvagens requer articulação de governo e sociedade, dizem especialistas

Da Redação | 17/03/2016, 13h38

Espécie exótica introduzida no país para criação comercial, o javali se dispersou de forma rápida e hoje ameaça a diversidade biológica, destrói plantações e oferece riscos à saúde humana, alertaram especialistas em debate nesta quinta-feira (17) na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). O controle dos animais, disseram, requer a adoção de medidas articuladas entre sociedade e órgãos públicos federais, estaduais e municipais.

O javali é original da Europa, mas tem grande capacidade de adaptação a diferentes ecossistemas e alto potencial reprodutivo, como explicou Rafael Salerno, coordenador da Rede Aqui Tem Javali. Como exemplificou, em 1991, foi registrada a presença de javalis selvagens em apenas um município do Rio Grande do Sul e hoje, 25 anos depois, os animais estão em todo o estado.

Ugo Eichler Vercillo, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), explicou que o javali compete com espécies nativas, como queixada e cateto (também conhecido como caititu); altera nascentes e pequenos cursos de água; e é predador de anfíbios, répteis e pequenos mamíferos. Além dos impactos econômicos, pela destruição de lavouras, frisou, os animais atacam trabalhadores nas fazendas e transmitem doenças ao ser humano.

Atualmente, o javali selvagem está disseminado em 15 estados brasileiros e seu controle é feito por armadilhas e pela caça autorizada por instrução normativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama). A permissão se deve à “declarada nocividade da espécie exótica invasora”, disse João Riograndense, coordenador de Autorização de Uso e Gestão de Fauna e Recursos Pesqueiros do Ibama.

— Esse problema é de toda a sociedade brasileira. Precisamos conscientizar nossa população de que o Ibama autoriza [a caça] porque esse animal causa sérios prejuízos à saúde pública, ao ambiente e à economia — afirmou.

Para a presidente da CRA, senadora Ana Amélia (PP-RS), a situação é grave e exige a mobilização de todos, como ocorre hoje no combate ao mosquito Aedes aegypti. Como ressaltou, é preciso esclarecer a população sobre os riscos da disseminação do javali, de forma a reduzir as críticas por parte de grupos de defesa de animais.

— As ONGs protetoras dos animais são muito ativas, enquanto as pessoas que são vítimas dessa espécie exótica invasora não estão tendo a capacidade de usar igualmente os meios de comunicação e as redes sociais para mostrar a foto do estrago ambiental, a foto do estrago de sua lavoura, a foto de uma pessoa ferida ou morta por um animal desses. É preciso vencer também a guerra da comunicação nesse processo — disse.

Os senadores Waldemir Moka (PMDB-MS), Blairo Maggi (PR-MT) e Wellington Fagundes (PR-MT) relataram prejuízos em propriedades rurais de seus estados e apontaram a falta de predadores naturais como uma das dificuldades para o controle dos javalis. Eles também ressaltaram a importância da articulação de ações de órgãos federais com as secretarias estaduais e municipais de agricultura.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)