CPI do HSBC pode desvendar formas de operação de paraísos fiscais, dizem jornalistas

Iara Guimarães Altafin | 26/03/2015, 13h34

Em depoimentos nesta quinta-feira (26) à CPI do HSBC, os jornalistas Fernando Rodrigues, do Uol, e Chico Otávio, do jornal O Globo, afirmaram que as investigações sobre os dados vazados de correntistas da agência do banco em Genebra, incluindo 8.677 brasileiros, permitirão à comissão de inquérito desvendar a forma de operação dos paraísos fiscais.

— O nome das pessoas que aparecem no banco é a parte mais visível. Mas estamos diante do maior vazamento de dados de um banco internacional e que releva a forma como operam os paraísos fiscais, os bancos internacionais, para facilitar a ocultação de recursos, a evasão de divisas e quem sabe quais outros crimes — afirmou Rodrigues.

A oitiva é a primeira realizada pela CPI, instalada esta semana para investigar as implicações no Brasil da divulgação de dados sigilosos vazados por um ex-funcionário do HSBC na Suíça, no escândalo conhecido como Swissleaks. Os dados são de 2006 e 2007, sobre correntistas de mais de 200 países.

Os jornalistas convidados a falar à CPI integram o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos e são os responsáveis pelas reportagens no Brasil sobre as apurações feitas a partir dos dados vazados.

Na apresentação aos senadores, Fernando Rodrigues e Chico Otávio ressaltaram que o Brasil é o nono país com o maior valor depositado, cerca de US$ 7 bilhões. Conforme informaram, a Bélgica já recuperou US$ 490 milhões, a Espanha US$ 298 milhões, a França, 286 milhões, e Reino Unido, US$ 205 milhões, seja pela repatriação dos valores evadidos ou por multas cobradas ao HSBC, por falhas de controle que permitiram operações ilegais.

Para o senador Blairo Maggi (PR-MT), o acesso ao banco de dados permitirá à CPI identificar a forma de movimentação de recursos de grandes empresas importadoras e exportadoras.

— Existem várias maneiras de deixar dinheiro lá fora. Alguns importadores e exportadores grandes devem deixar parte dos lucros fora do país. Uns declaram e outros não declaram. Isso ajudará a iniciativa privada e o Brasil a depurar as suas operações e a estabelecer como as coisas devem ser feitas na realidade — disse Blairo.

Demora

Os jornalistas disseram ter repassado parte dos dados ao Conselho de Controle das Atividades Financeira (Coafi), em setembro de 2014, mas afirmaram que as autoridades brasileiras não tomaram as medidas necessárias para a recuperação de valores que saíram ilegalmente do país.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), vice-presidente da CPI, condenou a morosidade das autoridades brasileiras.

— Há uma omissão e há um atraso na investigação por parte do Brasil. Quatro países já conseguiram recuperar recursos que, somados, passam de US$1 bilhão. Então, há indícios concretos de que muitos dos que usaram o HSBC na Suíça não o fizeram com a melhor das intenções e fica patente que estamos atrasados nessa investigação — disse.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)