Parlamentares dizem que Senado não pode parar por causa da Lava-Jato

Guilherme Oliveira | 09/03/2015, 17h45

As repercussões da Operação Lava Jato da Polícia Federal, que investiga corrupção na Petrobras, não podem imobilizar o Senado. É isso que têm cobrado senadores de diversas legendas desde a semana passada, quando o meio político ainda vivia a expectativa da divulgação dos nomes investigados pelo Ministério Público. O mote voltou a ser repetido nesta segunda-feira (9), após a publicação da lista.

O vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), afirmou na quinta-feira (5) que a prioridade da Casa será a de seguir votando sua pauta.

— A questão da Lava-Jato está na mão da Justiça. Isso não pode e não vai interferir no dia a dia da Casa. Nós temos que tratar de questões de interesse do país, e são dois grandes temas: os ajustes econômicos e a reforma política. Isso está bem claro — garante.

O senador José Agripino (DEM-RN) concordou que as reformas estruturais, encabeçadas pela reforma política, devem continuar no topo das preocupações do Senado. Ele entende que a Lava-Jato não pode ser ignorada, mas também não pode monopolizar as discussões.

— A Lava-Jato é uma das questões, mas as reformas são a cabeceira das nossas responsabilidades, o que precisamos dedicar mais atenção. O Senado tem obrigações constitucionais e vai cumpri-las todas.

Momento difícil

Com a lista de nomes investigados na Lava-Jato tendo sido trazida a público, os senadores reagiram nesta segunda conclamando o Congresso a não cair na paralisia. O líder do Bloco da Oposição, Alvaro Dias (PSDB-PR), disse ser ser inevitável que a Operação Lava-Jato seja assunto entre os parlamentares, mas espera que, justamente por isso, o Senado consiga manter-se propositivo.

— Temos que trabalhar para reduzir as consequências do impacto desse novo momento que o Congresso vai viver. É um momento difícil da história do país e nós temos que deliberar aqui em questões cruciais para superar essa crise.

O líder do PT, senador Humberto Costa (PE) — um dos mencionados na lista de pedidos de abertura de inquérito do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a partir da Operação Lava-Jato — disse que o Congresso deve seguir sua rotina de votações normalmente e aguardar a Justiça tomar decisões antes de se envolver com o caso.

— A postura do Congresso tem que ser, acima de tudo, de sobriedade. Cumprir sua responsabilidade, continuar votando matérias importantes e, no momento adequado, se manifestar sobre as decisões que a Justiça tomar.

A senadora Ana Amélia (PP-RS) discursou no Plenário e disse que o Senado recebe as informações sobre a Lava-Jato com “perplexidade” e que elas terão impacto na Casa, mas que não pode perder o “senso de responsabilidade”.

— Isso seguramente contaminará o processo do trabalho legislativo, que já está muito atrasado. Precisamos tratar dessa questão com a excepcionalidade que ela merece, não para beneficiar ninguém, mas para que esta Casa não se paralise e para que o Congresso não sangre em mais uma crise, que é de todas as ordens: política, econômica e moral — avaliou ela.

Reflexos sobre reforma política

A Lava-Jato e seus desdobramentos também podem afetar o andamento da reforma política no Senado — que, segundo alguns senadores, já não é dos melhores. Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) vê isso como uma possibilidade, mas disse esperar que não seja o caminho seguido.

— Eu torço para que não tenha essa interferência. Isso depende muito das opções a serem feitas pelo presidente do Senado. Eu quero acreditar que esses acontecimentos não podem ser objeto de paralisia da nossa pauta e da nossa agenda. O Congresso precisa funcionar independentmente disso.

Por outro lado, Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) acha que o cenário político turbulento gerado pela operação da Polícia Federal pode ajudar provocar transformações estruturais. Assim, a Lava-Jato poderia ser “aliada da reforma política”.

— Quanto mais a situação ferve, maior a possibilidade de a gente transformar o debate da reforma política em decisões do Congresso — confia ela.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)