Estudo da Consultoria do Senado revela base governista dispersa no governo Dilma

Guilherme Oliveira | 22/01/2015, 18h33

Um estudo realizado pela Consultoria Legislativa do Senado demonstra que, no primeiro mandato, a presidente Dilma Rousseff teve que lidar com falta de coesão de sua base de apoio na Casa.

Os consultores Pedro Fernando Nery e Rafael Silveira e Silva analisaram as votações nominais do Senado entre fevereiro de 2011 e dezembro de 2014 para avaliar o comportamento dos partidos e blocos nos processos decisórios.

A pesquisa mostra que a base de apoio de Dilma apresentou variações durante a legislatura, principalmente quanto ao espectro ideológico das votações. O bloco de sustentação do governo abrangeu posições tanto à direita quanto à esquerda.

O caso mais emblemático é o do PMDB, maior partido do Senado e o mais heterogêneo quanto ao posicionamento político de seus parlamentares. O líder da legenda, senador Eunício Oliveira (CE), explica que abraçar múltiplas vertentes é uma característica histórica.

— O PMDB sempre foi o guarda-chuva da democracia. É um partido de centro. Não tem fechamento de questão, é encaminhamento pelo convencimento — explica.

Eunício faz questão de ressaltar que, apesar da pluralidade ideológica, o partido sustentou a aprovação de projetos de interesse do governo.

— Todas as matérias importantes para o Brasil foram aprovadas pelos membros do PMDB. Graças a nós o governo obteve a aprovação delas.

Outros partidos que integram a base da presidente tiveram desempenho mais próximo da neutralidade do que do governismo, segundo avaliou o estudo da Consultoria. Foram os casos de PP e PR, que também se mostraram dispersos no espectro ideológico.

Além do PT, partido de Dilma, as siglas que se mantiveram mais firme no apoio ao governo entre 2011 e 2014 foram o PDT, o PCdoB e o PSB, que por fim deixou a base, lançou candidatura própria à Presidência da República nas eleições de 2014 e não apoiou a reeleição de Dilma no segundo turno.

Por outro lado, o estudo da Consultoria demonstra que a oposição manteve-se coesa no primeiro mandato de Dilma. Com exceção do PSOL, que manteve postura mais independente, mas predominantemente oposicionista, os partidos de viés contrário ao governo (PSDB e DEM) não registraram muita variação do comportamento de seus parlamentares nas votações.

Resultado esperado

Segundo  Pedro Fernandes Nery, as conclusões registradas são próximas do que os pesquisadores esperavam obter quando iniciaram a pesquisa e a coleta de dados. Ao mesmo tempo, podem servir para modificar a percepção que a opinião pública tem do comportamento dos parlamentares.

— Fica muito claro que existe uma divisão [ideológica], que corresponde ao que a gente observa na prática. Vai de encontro ao que a sociedade imagina, que são todos 'farinha do mesmo saco'.

O estudo foi feito com base em uma metodologia de análise política do Legislativo muito difundida nos Estados Unidos. Veículos da imprensa como o New York Times e o Washington Post publicam análises embasadas pelo modelo. Um entusiasta da metodologia é o estatístico Nate Silver, famoso por ter previsto corretamente o resultado das últimas eleições presidenciais americanas em todos os 50 estados.

Os consultores responsáveis esperam poder dar início a uma maior aplicação desse método em trabalhos futuros no Brasil, conforme relata Pedro Fernandes Nery.

— Pretendemos ampliar esse processo de pesquisa. É um instrumento bom e, dentro do Senado, estamos em posição privilegiada para coletar dados. Podemos analisar também comportamento de comissões, dos Plenários da Câmara e do Congresso... É um desafio interessante.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)