Aécio Neves promete oposição 'incansável e intransigente'

Guilherme Oliveira | 05/11/2014, 19h32

Em seu primeiro discurso após a derrota nas eleições presidenciais de outubro, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) prometeu, nesta quarta-feira (5), fazer oposição “incansável e intransigente” ao governo da presidente reeleita Dilma Rousseff (PT). O senador afirmou acreditar que, ao fazer isso, respeita a vontade de todos os eleitores – não apenas dos seus.

— Ainda que por uma pequena margem, o desejo da maioria dos brasileiros foi que nos mantivéssemos na oposição, e é isso que faremos. Faremos uma oposição incansável, inquebrantável e intransigente na defesa dos interesses dos brasileiros. Vamos fiscalizar, cobrar, denunciar — assegurou.

Ao retomar seu mandato, Aécio também frisou que levará adiante, como parlamentar, a defesa de propostas que seu grupo político apresentou ao longo da campanha.

— Retorno com convicções ainda mais sólidas. É nosso desejo contribuir para que o país avance através das reformas que os brasileiros esperam, como a política e a tributária, transformar o Bolsa-Família e a segurança pública em políticas de Estado, melhorar a educação básica, recuperar o investimento em saúde, restaurar a federação. Nosso projeto para o Brasil continua mais vivo do que nunca.

O senador mineiro falou por 30 minutos para um plenário e galerias lotados. Além da maioria dos 81 senadores, faziam parte da audiência os governadores Tarso Genro (PT), do Rio Grande do Sul; Luiz Fernando Pezão (PMDB), do Rio de Janeiro; e Teotônio Vilela Filho (PSDB) de Alagoas, e os prefeitos Fernando Haddad (PT), de São Paulo; Eduardo Paes (PMDB), do Rio de Janeiro; e Arthur Virgílio Neto (PSDB), de Manaus, que aguardavam a votação de projeto que reduz a cobrança de juros em dívidas de estados e municípios.

Aécio Neves fez críticas ao PT, tanto no âmbito do governo quanto da campanha eleitoral. Para ele, a disputa pelos votos foi desigual. Ele mencionou uma frase dita pela presidente Dilma em março de 2013, em que ela fazia referência à postura a se adotar entre adversários políticos.

- Nossos adversários cumpriram o aviso dado ao país: “Podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição”, e fizeram. Os detentores do poder usaram despudoradamente o aparato estatal para se perpetuarem no comando. A má-fé com que travaram a disputa chegou às raias do impensável. Espalharam o medo entre pessoas humildes, manipularam o sentimento de milhares de famílias — observou.

Economia e corrupção

Em relação à administração de Dilma e do PT, Aécio criticou a política econômica e acusou o governo de ocultar a realidade e não se preparar para lidar com os problemas.

— O Brasil escondido pelo governo na campanha eleitoral está se revelando. A presidente insistiu em negar o problema da inflação. Apenas três dias após as eleições, o Banco Central elevou os juros, e [Dilma] sabia que iria fazer isso. O governo escondeu o rombo das contas públicas, a necessidade de ajustes [de tarifas]. Ao adiar essas medidas, a conta aumenta. A triste realidade é que o governo não se preparou e não tem plano algum que tenha sido trazido ao conhecimento da sociedade brasileira — afirmou o senador.

Em relação à proposta de diálogo e união nacional aventada por Dilma Rousseff em seu primeiro discurso após a divulgação do resultado das urnas, Aécio colocou-se a favor, desde que tal diálogo venha atrelado a compromissos do governo. O senador exigiu ainda punições exemplares aos envolvidos no esquema de corrupção que envolve a Petrobras.

— Qualquer diálogo estará condicionado ao envio de propostas que atendam aos interesses dos brasileiros. E, principalmente, ao aprofundamento das investigações e exemplares punições àqueles que protagonizaram o maior escândalo de corrupção da história deste país, conhecido como “Petrolão”. A missão da presidente é unir o país. Para isso, é preciso falar a verdade e encarar nos olhos todos os brasileiros.

Assim como em sua manifestação anterior, na última terça-feira (4), quando esteve no Senado e falou brevemente à imprensa, Aécio voltou a celebrar o que chamou de “novo Brasil que surgiu das urnas”. Para ele, sua candidatura foi além de partidos e coligações.

— Assistimos ao despertar de um país sem medo, crítico, mobilizado, com voz e convicções, que não aceita mais o discurso e a propaganda. Os brasileiros descobriram que podem ser protagonistas do seu destino, e tomaram posse do seu próprio país. Ocuparam as ruas não apenas para apoiar um nome, mas para defender uma causa. Não se trata mais de contar votos.

O tucano concluiu sua fala retomando a ênfase no peso da oposição, que ele prefere personificar não apenas nos parlamentares eleitos e líderes partidários, mas em todos os seus eleitores.

— A oposição não terá a voz de um único líder. Ao olharem para as oposições no Congresso Nacional, não contabilizem apenas o número de cadeiras. Enxerguem através de cada gesto, voto, manifestação a voz estridente de mais de 51 milhões de brasileiros que não aceitam mais ver o Brasil capturado por um partido e por um projeto de poder — concluiu.

Na presidência da sessão, o senador Renan Calheiros elogiou a campanha “marcante, histórica e patriótica” de Aécio Neves.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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