CMA discute ação da Funai de proteção a índios isolados

Iara Guimarães Altafin | 06/08/2014, 15h10

Recente contato de índios isolados com técnicos da Fundação Nacional do Índio na terra indígena Kampa, no Acre, motivou audiência pública nesta quarta-feira (6) na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA).

A presidente da Funai, Maria Augusta Assirati, e Leonardo Santos, coordenador de Proteção e Localização de Índios Isolados, explicaram aos senadores as estratégias da fundação para proteção a comunidades indígenas isoladas. Ao final do debate, o senador Jorge Viana (PT-AC) sugeriu que a CMA se mobilize para garantir recursos orçamentários para o trabalho feito pela Funai.

Conforme relataram, há registros de 104 grupos indígenas vivendo de forma isolada, dos quais 26 já foram confirmados e estão sendo monitorados, seja por imagens de satélite, sobrevoos ou expedições na região.

A fundação identifica e monitora esses grupos isolados, mas sem buscar o contato, diferentemente do que era feito no passado. De forma geral, o contato só é feito por iniciativa dos indígenas e, quando isso ocorre, a política da Funai é de garantir autonomia dos índios, que poderão inclusive decidir por continuar isolados.

– É um trabalho sensível e muito delicado. Temos equipes muito capacitadas, que puderam aprender com indigenistas que dedicaram uma vida ao trabalho na floresta – disse Assirati.

No Acre, Leonardo Santos informou que o local onde houve o contato é uma área protegida, numa região de terras indígenas regulamentadas ou unidades de conservação. No entanto, explicou, é uma área de fronteira com o Peru e a Funai avalia que os indígenas estejam sofrendo pressão de narcotraficantes e de comerciantes ilegais de madeira.

Ele contou que um grupo de sete índios jovens fez contato com outros indígenas, da etnia Ashaninka, em uma aldeia supervisionada pela Funai. As imagens desse contato, feitas por técnicos da fundação, foram divulgadas pela imprensa e preocuparam Jorge Viana.

O parlamentar teme pela saúde dos índios isolados, que não têm resistência a inúmeras doenças, como gripe, sarampo e muitas outras. Como observou, experiências anteriores resultaram na morte de até 70% dos indígenas contatados, tendo sido preciso três gerações para que a população indígena se tornasse resistente às doenças.

– O contato já está feito, a dúvida é se farão aldeamento e qual o tamanho do grupo – observou Jorge Viana, sobre o grupo contatado no Acre.

Leonardo Santos apontou dificuldades logísticas para atendimento preventivo aos indígenas, uma vez que o acesso à área é feito por barco, em viagem que pode levar até seis dias. A Funai não tem aeronaves para o trabalho e tem contado com apoio dado pelo Exército.

– É uma política de Estado eficiente, mas precisamos de melhor condição de trabalho para não repetir a história  - disse Santos, ao se referir ao grande número de mortes por doenças no contato com índios isolados.

Em resposta ao presidente da CMA, senador Blairo Maggi (PR-MT), Maria Augusta Assirati explicou que a comunicação com os índios isolados que buscam contato é possível por conta das informações reunidas pelos especialistas da Funai em anos de monitoramento, quando identificam hábitos, costumes e também o tronco linguístico do grupo.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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