Renda básica é instrumento para acabar com práticas de trabalho escravo, afirma Suplicy

Da Redação | 07/03/2014, 14h10

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) repercutiu em Plenário, nesta sexta-feira (7), o tema da Campanha da Fraternidade de 2014, Fraternidade e Tráfico Humano. Para estimular a reflexão sobre o assunto, leu a íntegra de artigo do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Raymundo Damasceno Assis, publicado pelo jornal Folha de São Paulo na Quarta-feira de Cinzas (5). Nesse mesmo dia, a entidade lançou a campanha, que ainda propõe o lema É para a liberdade que Cristo nos libertou.

Na opinião do senador, um dos instrumentos que podem contribuir para acabar com as práticas da escravidão é a adoção da Renda Básica de Cidadania, nos termos da lei que teve origem em projeto de sua autoria, mas ainda não implantada. Segundo ele, ao dispor de uma renda básica, as pessoas vão poder recusar alternativas de sobrevivência que ferem sua dignidade ou colocam em risco sua vida ou saúde.

Artigo

Dom Damasceno, também cardeal de Aparecida, em São Paulo, destaca no artigo que a ONU já situou o tráfico humano como uma das atividades mais rentáveis. De acordo com a organização, o negócio criminoso chega a movimentar US$ 32 bilhões por ano em todo o mundo. “Como ficar indiferente a esse crime que atenta contra a vida e dignidade dos filhos e filhas de Deus?”, indaga ele no texto.

No artigo, o cardeal cita a existência de pelo menos quatro modalidades de tráfico, entre elas a exploração sexual, que atinge principalmente as mulheres, inclusive crianças e adolescentes. A segunda seria a exploração do trabalho escravo, em que as principais vítimas são homens. Ele registra ainda o tráfico humano para a extração de órgãos e o tráfico de crianças e adolescentes, tanto para fins de adoção ilegal como para exploração do trabalho.

Suplicy disse que a campanha dos “irmãos bispos” visa sensibilizar cristãos e pessoas de boa vontade contra essa “chaga social”. Ele salientou que pessoas em situação de fragilidade social são as potenciais vítimas. Depois, citou as falsas promessas de empregos, um problema comum no mundo rural, que resulta em trabalhadores isolados em fazendas distantes, sob ameaça de armas e a desculpa de que têm dívidas a pagar. Problemas de sobrevivência também levam moças à exploração sexual e jovens a se transformarem em “aviõezinhos do tráfico”, observou Suplicy.

Crime homofóbico

Suplicy destacou ainda o artigo escrito pelo deputado federal Jean Wyllys (PSol-RJ), em que expressa seus sentimentos em relação ao menino Alex André, morto a pancadas pelo próprio pai para que tomasse “jeito de homem”. O crime ocorreu no Rio de Janeiro, onde o garoto franzino, de apenas oito anos, tinha passado a residir recentemente.

No artigo, Jean Wyllys conta que, pressionada pelo Conselho Tutelar, pois não estava enviando o filho à escola, a mãe temeu perder a sua guarda. Por isso, enviou Alex André para viver com o pai, desempregado e que já cumpria pena por tráfico de drogas. Desde a chegada ao Rio, o menino passou a receber “corretivos” para aprender a "se portar como homem". Ele acabou morrendo depois de mais uma sessão de pancadas.

O senador leu integralmente o artigo em que o deputado, militante da causa gay, conta que também cresceu ouvindo apelidos grosseiros e arremedos porque, assim como o garoto morto, não “tinha jeito de homem”. Após longa trajetória, finalmente teve sua condição aceita pelos próprios pais. Por fim, no artigo Jean Wyllys lamenta não ter tido a chance de encontrar Alex André antes de sua morte, para livrá-lo da “miséria e das mãos de seu algoz”, e ainda o chamar de “filho”.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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