Jornalista americano promete mais revelações sobre espionagem por parte dos EUA
Paola Lima | 06/08/2013, 18h05
O colunista Glenn Greenwald, do jornal britânico The Guardian, afirmou, em audiência pública no Senado Federal, nesta terça-feira (6), que, com certeza, haverá mais revelações sobre o esquema de espionagem feito pelo governo dos Estados Unidos e divulgado por ele no jornal no início de julho. Segundo Greenwald, ele recebeu para analisar entre 15 mil e 20 mil documentos do ex-técnico da agência de segurança americana (NSA) Edward Snowden, hoje asilado na Rússia, e apenas uma pequena porção dessas informações foi divulgada até agora.
– São documentos longos, complicados, demora para ler e entender tudo. Muitas vezes é preciso consultar peritos. Mas estamos trabalhando com muitas organizações no Brasil e no mundo para analisarmos tudo. Com certeza sairão mais revelações sobre o esquema de espionagem – disse.
Greenwald, que vive no Rio de Janeiro, foi a Brasília para participar de audiência conjunta das Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Parlamentares o convidaram para dar mais detalhes da espionagem americana, que monitorou inclusive o Brasil nos últimos anos.
O jornalista reafirmou que o governo dos Estados Unidos monitora comunicações eletrônicas dentro e fora do país, com a justificativa de combater o terrorismo e garantir a segurança nacional. Na realidade, entretanto, o objetivo seria obter informações privilegiadas sobre acordos econômicos, estratégias políticas e competitividade industrial de outros países.
Para Greenwald, um Estado que pode saber tudo o que as outras nações estão falando e fazendo torna-se “muito poderoso”. Um exemplo desse tipo de ação dos Estados Unidos foi a publicada no final de semana pela revista Época, em que um documento, divulgado por Greenwald, revela como os EUA espionaram oito países, entre eles o Brasil, para conseguir aprovar no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) sanções contra o Irã, em 2010. A reportagem traz uma carta da embaixada americana no Brasil comemorando a vantagem que a espionagem trouxe ao EUA nas negociações do caso.
Acesso irrestrito
Greenwald disse aos parlamentares que é verdade quando o governo americano diz que o volume de informações coletadas é tratado apenas como “metadados” – quando se monitora quem falou com quem, por qual meio, quanto tempo e em que lugar, mas não se viola o conteúdo da conversa. O jornalista explicou que, mensalmente, milhões de comunicações são monitoradas e, de forma geral, são somente metadados de fato.
Só isso, alertou, já representaria uma enorme invasão de privacidade, uma vez que, ao saber com quem uma pessoa fala, por qual meio, por quanto tempo e com quem as pessoas com quem ela falou falam em seguida já seria possível reunir bastantes informações sobre sua vida (ocupação, posições políticas, etc). No entanto, quando alguma dessas comunicações desperta o interesse do Estado, os EUA têm instrumentos para identificar, tendo apenas o endereço eletrônico ou o IP da pessoa, além dos emails trocados, quais sites ela visitou, quais documentos acessou, o que pesquisou no Google, entre outras dezenas de coisas.
– Esse sistema é muito mais poderoso do que as pessoas imaginam. E é muito fácil de usar, o que é assustador – reconheceu o jornalista, informando que cerca de 70 mil pessoas, entre empregados diretos e terceirizados, prestam serviço à agência de segurança americana, sendo que, uma porção dessas pessoas, que ele não sabe contabilizar, tem acesso ao sistema de espionagem.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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