Deputados bolivianos criticam ‘desrespeito’ de Evo Morales a decisão brasileira de dar asilo a senador oposicionista

Marcos Magalhães e Milena Galdino | 22/08/2012, 17h08

Ao mesmo tempo em que condena o Reino Unido por não garantir salvo conduto ao criador do Wikileaks, Julian Assange, a quem o Equador concedeu asilo político, o presidente da Bolívia, Evo Morales, não permite que deixe seu país o senador Roger Pinto Molina, que há 87 dias encontra-se na embaixada brasileira em La Paz. A crítica foi feita por deputados bolivianos de oposição que visitaram nesta quarta-feira (22) o Congresso Nacional a convite do senador Sérgio Petecão (PSD-AC).

– O governo boliviano diz ao Reino Unido para respeitar a soberania do Equador e garantir salvo-conduto a Assange, que está na embaixada equatoriana, mas não respeita a soberania do Brasil e nem garante salvo-conduto a Pinto Molina, que recebeu asilo político do Brasil – disse o deputado Adrián Oliva Alcazar, acompanhado dos colegas Luis Felipe Dorado e Alex Orozco Rosas.

Segundo Oliva Alcazar, há 18 meses o senador Pinto Molina entregou a Morales documentos que comprovariam a ligação de altos funcionários do governo boliviano com o narcotráfico. No entanto, somente há poucos dias, após intensa pressão internacional, Morales enviou os documentos à Justiça, assegurou o deputado. Durante mais de um ano, relatou, Pinto Molina foi vítima de acusações e de perseguição política por parte do governo boliviano.

Os três deputados que estiveram no Congresso brasileiro integram o Partido da Convergência Nacional, de centro, que detém a segunda maior bancada da Assembleia Nacional da Bolívia, com 37 parlamentares. Dos 130 integrantes da assembleia, 84 são do Movimento ao Socialismo (MAS), que apoia o presidente Evo Morales. Existem ainda três deputados da Unidade Nacional e dois da Aliança Social.

Relações Brasil-Bolívia

Na opinião de Oliva Alcazar, a tensão que se verifica entre Bolívia e Brasil depois da concessão do asilo político a Pinto Molina apenas torna mais claros os problemas do relacionamento bilateral, que incluem, como observou, a situação de estudantes e empresários brasileiros que se encontram no país vizinho.

– O Brasil é o principal sócio da Bolívia, que manda para o país vizinho 30% de suas exportações. Mas o governo boliviano não privilegia essas relações – criticou.

A crítica à postura do governo boliviano é partilhada pelo senador Petecão. Em entrevista à Agência Senado, ele disse que o Brasil “faz muito pela Bolívia sem contrapartida” e denunciou a hostilidade do país vizinho quanto aos brasileiros residentes na fronteira, confirmando os riscos aos que estudam em solo boliviano.

– Há uma insegurança enorme na fronteira do Acre. A polícia boliviana colocou fogo em dois brasileiros acusados de assalto. As casas de brasileiros na fronteira, onde o clima é extremamente ruim, foram incendiadas. A Petrobrás foi expulsa, pecuaristas e plantadores de soja ficaram sem suas terras. Temo pelos milhares de estudantes que estão na Bolívia. Está na hora de o Brasil reagir – disse.

Petecão criticou o posicionamento do Executivo brasileiro dizendo que o governo virou as costas para o problema e que “a diplomacia já passou dos limites”.

– Tá na hora de o governo brasileiro ser mais rígido em relação à Bolívia, que, junto ao Peru, é responsável por 90% da droga consumida no Brasil. – reclamou.

De acordo com Petecão, a recusa do governo boliviano em entregar o senador Molina “mais uma vez afronta o Brasil”. Ele lembrou que a decisão de um país de dar asilo a um parlamentar ou a qualquer cidadão estrangeiro decorre de uma ampla investigação sobre a necessidade de tal medida.

– O presidente Evo Morales mais uma vez distrata e afronta o Brasil. Sem querer interferir na questão política interna, eu registro que os senadores bolivianos de oposição correm risco de morte e temem voltar para seu país.

Agradecimento

O líder da bancada do Partido da Convergência Nacional na Assembleia Nacional boliviana, Luis Felipe Dorado, disse que o principal objetivo da viagem do grupo a Brasília é agradecer à presidente Dilma Rousseff e ao Brasil por haver concedido asilo político a Pinto Molina.

Dorado informou que pretendia se reunir com parlamentares brasileiros para discutir as relações comerciais entre os dois países e as possibilidades de cooperação no combate ao narcotráfico. Ele defendeu uma atuação conjunta em relação ao tema dos governos de Bolívia, Brasil e Estados Unidos.

– É preciso que todos saibam que há deputados na Bolívia lutando contra o narcotráfico. É uma luta férrea em nosso país, onde somos submetidos a processos e perseguições políticas – denunciou Dorado.

Narcotráfico

Pouco antes da entrevista dos deputados, o jornalista e pesquisador americano Douglas Farah, ex-correspondente do Washington Post, denunciou as ligações de altos integrantes de governos dos países que se intitulam bolivarianos – Bolívia, Venezuela, Equador e Nicarágua – com o narcotráfico.

Ele disse ter identificado uma mudança no comportamento dos traficantes ao longo dos últimos anos. Se antes eles apenas corrompiam alguns funcionários e juízes, para garantir o funcionamento livre do tráfico, agora contariam com o apoio de importantes componentes de governos de países bolivarianos.

– Altas esferas desses governos estão patrocinando o crime, em vez de combatê-lo – acusou Farah.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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