Militância política e experiência no serviço público

Da Redação | 30/12/2010, 18h01

Pela primeira vez nos 121 anos de história republicana, o Brasil é governado por uma mulher. A mineira Dilma Vana Rousseff, 63 anos, eleita no dia 31 de outubro de 2010 pelo Partido dos Trabalhadores (PT), toma posse como presidente do país neste sábado, dia 1º de janeiro. O fato de uma mulher assumir o posto mais alto do país "ainda é surpreendente", disse Dilma, em entrevista concedida no dia 5 de dezembro ao Washington Post.

Escolhida candidata pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma fez parte do governo petista desde o primeiro momento, em 2003. Foi ministra das Minas e Energia e ministra-chefe da Casa Civil, cargo que assumiu no lugar de José Dirceu, demitido, em 2005, em meio às denúncias do esquema do mensalão.

Como ministra das Minas e Energia, Dilma defendeu nova política industrial, fazendo com que as compras de plataformas pela Petrobras tivessem conteúdo minimamente nacional, para que fossem gerados mais empregos no país. Na Casa Civil, foi a coordenadora das ações do governo, particularmente dos programas Luz para Todos, Minha Casa, Minha Vida e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Foi ainda presidente do Conselho de Administração da Petrobras e coordenadora da comissão interministerial encarregada de definir as regras para a exploração do pré-sal.

Eleita no segundo turno com 55.752.529 dos votos (56,05%), contra 43.711.388 (43,95%) recebidos pelo tucano José Serra, Dilma é a 42ª pessoa a ocupar a Presidência da República (veja os 41 presidentes do Brasil), tendo como vice-presidente o deputado paulista Michel Temer, do PMDB. A nova presidente foi escolhida num universo de 135.804.433 eleitores. Nas eleições, foram registrados 99.463.917 votos válidos, 29.197.152 abstenções, 4.689.428 votos nulos e 2.452.597 votos brancos.

Pouco conhecida pelo eleitorado e disputando contra um veterano em eleições, Dilma começou a campanha com pouco mais de 15% das intenções de voto, enquanto José Serra, do PSDB, ostentava índices superiores a 30%. Com o decorrer da campanha e o empenho cada vez maior do presidente Lula, Dilma conseguiu ampliar o percentual das intenções de votos e passou à frente de Serra, dando a impressão de que venceria já no primeiro turno. Mas as denúncias envolvendo sua substituta na Casa Civil, Erenice Guerra, somadas ao crescimento da candidatura da senadora Marina Silva (PV), provocaram o segundo turno das eleições.

Biografia

Filha do engenheiro búlgaro Pedro Rousseff (falecido em 1962) e da professora fluminense Dilma Jane Silva, a presidente nasceu em Belo Horizonte, no dia 14 de dezembro de 1947, numa família de classe média alta. Os pais de Dilma tiveram outros dois filhos: Igor e Zana Lúcia, falecida em 1976. Ainda em seu país natal, o pai da presidente - parente do famoso escritor búlgaro Ran Bosilek - teve um filho com a dona de casa Evdokia Yankova, chamado Luben, que morreu em 2007.

Ao separar-se da esposa búlgara, Pedro Rousseff mudou-se para o Brasil no final da década de 30, fixando-se em São Paulo. Numa viagem a Uberaba (MG), conheceu a mãe da presidente, criada no interior de Minas Gerais, onde seus pais eram pecuaristas. Ao se casarem, os pais de Dilma fixaram residência em Belo Horizonte.

Dilma estudou em escolas tradicionais da capital mineira. Ao ingressar por concurso no Colégio Estadual Central (atual Escola Estadual Governador Milton Campos), para cursar o final do ensino médio, conviveu com o movimento estudantil e iniciou sua militância política, aos 16 anos de idade, às vésperas do Golpe Militar de 1964. A presidente costuma dizer que foi nessa escola que aprendeu a ser "subversiva".

Ainda em 1964, ingressou numa organização denominada Política Operária (Polop), fundada em 1961, proveniente do então Partido Socialista Brasileiro, onde militou ao lado de José Anibal, seu colega de turma no curso de economia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - reeleito para deputado federal pelo PSDB de São Paulo.

Ao aderir ao grupo que defendia a luta armada para combater o regime militar, Dilma filiou-se à organização denominada Comando de Libertação Nacional (Colina). Posteriormente, ingressou na organização Var-Palmares, onde militou ao lado de Carlos Minc, um dos fundadores do Partido Verde (PV) e ex-ministro do Meio Ambiente do governo Lula.

Com o endurecimento da ditadura, Dilma foi presa em 1970, permanecendo três anos na cadeia, onde foi submetida a torturas. Atualmente divorciada, foi casada com o advogado gaúcho Carlos Franklin Paixão de Araújo, com quem teve sua única filha, Paula, nascida em 17 de março de 1976. O primeiro neto de Dilma nasceu em setembro de 2010, em Porto Alegre. Antes de Araújo, Dilma foi casada durante dois anos (1967-1968) com o jornalista Claudio Galeno, que também pertenceu à Polop.

Fora da prisão, Dilma retomou os estudos em 1973, formando-se em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Com a anistia e a volta do pluripartidarismo, filiou-se ao PDT, de Leonel Brizola, fazendo parte da gestão do governador gaucho Alceu Collares como secretária de Minas e Energia, cargo que manteve no governo seguinte, comandado por Olivio Dutra, do PT.

Em abril de 2009, revelou que estava se tratando de um câncer linfático. O tratamento, feito num hospital em São Paulo, incluindo sessões de quimioterapia e radioterapia, foi concluído em setembro daquele ano.

Desafio

Dilma posiciona-se contra as privatizações e o neoliberalismo, mas declarou ser favorável à concessão de subsídios à iniciativa privada para a construção de novas usinas hidrelétricas e rodovias, caso isso torne essas obras mais baratas. Numa entrevista postada em seu site, concedida no dia 5 de dezembro ao jornal norte-americano Washington Post, a presidente disse que vai dar continuidade às obras de infraestrutura iniciadas no governo Lula, particularmente às rodovias, malha ferroviária, portos e aeroportos do país.

Destacou que, com a descoberta do pré-sal, foi aprovado novo marco regulatório para a exploração do petróleo em águas profundas, incluindo a criação de um fundo social, que destinará parte dos recursos do pré-sal para investimentos em educação, saúde, ciência e tecnologia. Salientou, no entanto, que seu maior desafio no cargo será "acabar com a pobreza extrema no Brasil", situação na qual vivem 14 milhões de pessoas.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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