Em Brasília, respeito à faixa de pedestres foi resultado de campanha popular

Da Redação | 22/04/2010, 21h52

Em 1996, Brasília protagonizou uma forte campanha pela Paz no Trânsito, liderada pelo jornal Correio Braziliense. O movimento foi marcado por uma passeata de 25 mil pessoas pelas ruas da cidade. Depois desse evento, o então governador, e hoje senador, Cristovam Buarque (PDT-DF), instalou os pardais, radares de velocidade eletrônicos, e iniciou um programa de respeito à faixa de pedestres, segundo informa a página do parlamentar na internet.

A campanha e o programa tornaram-se modelos para o país. Toda a capital federal se envolveu no movimento pela Paz no Trânsito, cujo símbolo era uma mão espalmada, criação da equipe gráfica do Correio. Os motoristas e pedestres brasilienses começaram a aprender duas noções básicas: os primeiros a pararem os carros e os últimos, a atravessarem na faixa com tranquilidade - exatamente como mostravam os Beatles na capa do célebre disco Abbey Road, de 1969, outro símbolo utilizado pelo jornal na época.

O ato de motoristas pararem na faixa para permitir a travessia de pedestres faz parte do cotidiano na maior parte dos países europeus, incluindo Portugal. Nos Estados Unidos, inclusive em metrópoles movimentadas como Nova York, motoristas param nas faixas mesmo sem a necessidade de o pedestre dar sinal com a mão - a prioridade é sempre de quem está a pé. Nos países desenvolvidos, o respeito à faixa é indicativo de civilidade, mas no Brasil, 41 anos depois da foto que Ian MacMillan fez dos Beatles, ainda é um grande risco confiar nos motoristas - mesmo em Brasília.

Na opinião do economista e sociólogo José Nivaldino Rodrigues , o programa de segurança implantado por Cristovam interferiu não somente na infraestrutura ou na regulação de veículos, mas no comportamento das pessoas. É o que ele afirma em sua dissertação de mestrado pela Universidade de Brasília (UnB), instituição na qual obteve um certificado de especialista em educação para o trânsito.

Utopias e canções

O governo Cristovam colocou em perspectiva uma ideia que parecia utópica, mas que na verdade tratava-se de um elemento básico de cidadania: o direito de o habitante do Distrito Federal circular pelas ruas sem um risco muito grande de morrer atropelado. Em 1996, ano anterior ao início do respeito à faixa, 652 pedestres morreram atropelados no DF. No ano seguinte, morreram 465. Em 2009, registraram-se 424 mortes, uma redução de 35%, em relação a 1996. O número se torna mais significativo se for levado em conta o aumento da população: de 1,8 milhão de brasilienses em 1996, contra os 2,6 milhões em 2009.

Já na década de 1980, a situação dos pedestres em Brasília era tão difícil que o poeta Nicolas Behr e o músico Nonato Veras compuseram Travessia do Eixão, canção na qual um pedestre pede a proteção de "Nossa Senhora do Cerrado" para atravessar as seis pistas daquela via e chegar "são e salvo" ao encontro com a namorada:

Nossa Senhora do Cerrado,
Protetora dos pedestres
Que atravessam o eixão
Às seis horas da tarde,
Fazei com que eu chegue são e salvo
Na casa da Noélia

Nonô Nonô Nonô Nonônô ...

Nelson Oliveira, Silvia Del Valle Gomide e Mariuza Vaz / Agência Senado

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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