Representantes da Xerox dizem que foram surpreendidos pela desistência da Cobra na licitação do Correio Híbrido

Da Redação | 22/02/2006, 00h00

Em depoimento à Sub-Relatoria de Contratos da CPI dos Correios, nesta quarta-feira (22), Olivier Stephne Marie Ferraton e Márcio Lassance, presidente e diretor de Recursos Humanos e Projetos da Xerox do Brasil, afirmaram que foram surpreendidos quando a Cobra Tecnologia, subsidiária do Banco do Brasil, lhes comunicou, a três dias da data de apresentação de propostas para a licitação do Projeto Correio Híbrido Postal, da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), em 2004, que não disputaria mais o certame.

- Nós ficamos perplexos. Chegamos a tentar recompor o grupo, mas a Cobra, além de ser a líder, era a integradora de informática. Não dava para substituí-la num prazo de três dias - disse Lassance.

A Cobra liderava um consórcio integrado por mais nove empresas, entre elas a Xerox e a Embratel. Com a desistência da subsidiária do BB, a proposta técnica de todo o grupo foi inviabilizada, o que garantiu a vitória do único concorrente, o consórcio BR Postal, que apresentou uma proposta de valor bem mais elevado.

Em depoimento anterior, o presidente da Cobra, Leandro Vergara Raimundi, havia declarado que os Correios não teriam fornecido às empresas participantes do grupo as informações técnicas necessárias. Ferraton e Lassance confirmaram que o edital era confuso e complexo, mas negaram que isso tenha feito com que a Xerox "sinalizasse com a desistência", como afirmou Raimundi.

- Se dependesse de nós, teríamos participado.Havia dificuldades, mas nada que não pudesse ser contornado - rebateu o diretor de RH.

A CPI dos Correios suspeita que esse processo licitatório tenha sido direcionado. O sub-relator, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), considera restritivas algumas cláusulas do edital.Há, por exemplo, um item relativo a certidões de competência técnica, que poderiam ser exigidas do somatório dos participantes do consórcio, mas são demandadas de um único participante.

Os representantes da Xerox disseram concordar com essa avaliação e apontaram ainda outros pontos do edital que poderiam ser considerados restritivos, como um certo "subjetivismo decisório no julgamento técnico". Certas exigências, segundo eles, tornariam inviável a participação de qualquer empresa brasileira no projeto.

Ferraton e Lassance disseram, no entanto, nada saber sobre pressões políticas que a Cobra, sendo ligada a uma estatal, teria sofrido para desistir da licitação e favorecer a BR Postal. Eles falaram apenas sobre boatos, que nem sequer levaram em consideração.

A Xerox tentou impugnar judicialmente a licitação do Correio Híbrido, mas o processo teve prosseguimento e o contrato foi assinado. Os representantes da empresa esclareceram, no entanto, que as ações que movem contra os Correios são diferentes das encabeçadas pela Associação Brasileira de Indústrias Gráficas (Abigraf), que questionam a própria legitimidade do projeto e tentam inviabilizar sua implantação.

Ferraton, no entanto, observou que as reflexões propostas pela Abigraf tem que ser levadas em consideração.

- O Correio Híbrido tem pontos positivos e pontos negativos. É uma maneira diferente de produção e distribuição, mas há um mercado enorme de empresas gráficas e de publicidade que corre o risco de desaparecer. Pode ser ruim para a economia local. Em alguns países, não deu certo, mas pode ser que funcione no Brasil - afirmou o presidente.

O Correio Híbrido Postal é uma tecnologia que permite transmitir dados por meio eletrônico e realizar a impressão da correspondência apenas na localidade de destino. Isso garantiria, segundo a ECT, uma redução significa de gastos.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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