Delegado da PF diz que ação na Lunus não visava atingir Roseana Sarney

Da Redação | 20/03/2002, 00h00

Em depoimento à Comissão de Fiscalização e Controle (CFC), o delegado da Polícia Federal Paulo Tarso, que comandou a ação de busca e apreensão na Lunus Serviços e Participações, empresa de Roseana Sarney e do marido dela, Jorge Murad, negou que o alvo da operação fosse a governadora do Maranhão. "Não tinha nenhum objetivo de atingir a governadora", garantiu.

Também participou do depoimento, que se seguiu ao do diretor-geral da Polícia Federal, Agílio Monteiro Filho, o delegado Helbio Dias Leite, que investiga as fraudes na extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Os dois delegados, que ficaram incomunicáveis durante o depoimento de Agílio, insistiram no caráter puramente técnico da operação policial.

O delegado Paulo Tarso afirmou que desconhecia de antemão a existência do R$ 1,34 milhão no escritório da Lunus. "O dinheiro foi nossa maior surpresa. Não tinha a mínima idéia", disse. "Em princípio até hesitei em apreender o dinheiro, que estava ali sem nenhum registro", complementou. Segundo o delegado, ele decidiu apreender o R$ 1,34 milhão após consulta telefônica ao juiz responsável pelo mandado de busca. "O juiz aceitou o meu ponto de vista", afirmou.

A legalidade da apreensão do dinheiro foi questionada por senadores do PFL, já que não estava prevista no mandado judicial. O senador Moreira Mendes (PFL-RO) acusou, dirigindo-se ao delegado: "O senhor extrapolou o limite da sentença judicial. A sentença judicial tem de ser respeitada, cumprida em seus limites. Esse é um princípio comezinho de direito". Paulo Tarso respondeu: "Eu estava autorizado a apreender qualquer coisa relacionada ao caso da Sudam. Como estamos investigando crime de natureza financeira, o dinheiro poderia perfeitamente fazer parte das fraudes da Sudam".

Os senadores do PFL também indagaram sobre a razão da ida de um delegado de Brasília a São Luís apenas para cumprir esse mandado judicial. Tarso explicou que ele havia se proposto a ir porque tinha estado no Maranhão em janeiro investigando o caso da Sudam e, portanto, estava inteirado do caso. Mas admitiu que, das 74 buscas já feitas no Maranhão para investigar as fraudes na Sudam, a realizada na Lunus foi a única de que participou.

Sobre a fotografia do R$ 1,34 milhão publicada na imprensa, Tarso afirmou que foi tirada a pedido dele, por outro policial. Já a divulgação teria sido feita pelo Ministério Público Federal. O delegado negou ainda que tivesse enviado fax ao presidente da República com a frase "missão cumprida com êxito". "Isso não ocorreu de forma alguma", disse.

O outro delegado presente, Helbio Leite, respondendo a pergunta do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sobre as fraudes da Sudam, afirmou que a corrupção no órgão era generalizada. "É pouco provável que exista qualquer projeto da Sudam em que não tenha havido qualquer tipo de desvio de verbas", disse, sem, contudo, estabelecer relação imediata de participação da Lunus nas fraudes.

Na opinião do líder do PFL, senador José Agripino (RN), ficaram "lacunas" nos depoimentos dos delegados, como o fato de a Lunus ter sido investigada por policiais de Brasília, procedimento diferente do adotado em relação a outra empresa maranhense sob investigação no caso da Sudam. Segundo ele também não ficou esclarecida a questão do vazamento da fotografia. "Há fatos que não estão batendo", afirmou.

Já para o vice-líder do governo, Romero Jucá (PSDB-RR), os depoimentos dos delegados deixaram clara a isenção do governo no episódio da Lunus. "Ficou comprovado cabalmente que o governo não armou, não participou, não decidiu a operação. A Polícia Federal cumpriu uma determinação de acordo com a legislação vigente no país", disse.

A CFC aprovou requerimento do senador Jucá para que o ministro da Saúde, Barjas Negri, preste informações sobre o contrato com a Fence, empresa que presta assessoria ao ministério sobre escutas telefônicas.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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