BENEDITA PEDE QUE GOVERNO NÃO RECUE NA QUESTÃO DA TERRA DOS DESCENTES DE ESCRAVOS

Da Redação | 20/11/1997, 15h59

Durante homenagem do Senado ao Dia Nacional da Consciência Negra, a senadora Benedita da Silva (PT-RJ) defendeu hoje (dia 20) a necessidade de alterações na estrutura econômica e política do país, no sentido de definir prioridades governamentais em benefício da população negra. Preocupada com as últimas medidas anunciadas pelo Poder Executivo, a senadora pediu que os recursos destinados a garantir terras aos descendentes de escravos não sejam retirados do Orçamento da União.

-É a população negra a mais atingida pelo desmonte das políticas sociais e de saúde, pelos sistemas de controle populacional, pelo desemprego, pela fome, pela violência no campo e pelos grupos de extermínio. Os homens e mulheres negros estão em condições de maior desigualdade - afirmou a senadora enfatizando que a expectativa de vida do brasileiro, em geral, é de 65 anos, enquanto que a do negro cai para 59 anos.

Benedita resgatou a história do povo negro ao lembrar da aplicação de castigos e torturas, dos instrumentos de suplício e de todas as atrocidades que marcaram a situação de escravidão a que foram relegados durante anos. "Muitos ficam horrorizados com a crueldade praticada contra outros povos, como por exemplo o holocausto, mas não se recordam da barbárie praticada em nosso próprio território, como foi a escravidão negra", assinalou a senadora. Ela lamentou que os registros oficiais tenham omitido "deliberadamente" esses acontecimentos.

- E por falar em agressão, pintaram de branco, novamente, às vésperas do Dia da Consciência Negra, o monumento de Zumbi dos Palmares no Rio de Janeiro - denunciou a senadora, para quem, no Brasil, impera o "mito da democracia racial: sob a máscara da cordialidade existe uma sociedade racista".

Benedita constatou que têm crescido, no espaço público brasileiro, as reivindicações dos negros frente às desigualdades raciais e sociais, demonstrando que o povo negro contemporâneo, assim como seus antecedentes, ainda luta pelo fim do preconceito racial e pela realização da justiça social.

Em aparte, a senadora Júnia Marise (PDT-MG) defendeu a necessidade de a sociedade resgatar a cultura negra para que "possa tomar conhecimento da sua própria história". Segundo ela, a senadora Benedita da Silva serve de exemplo àqueles que buscam ocupar papel de destaque social.

O senador Bernardo Cabral (PFL-AM) fez referência ao dispositivo constitucional que trata do crime de racismo. Ele lembrou do esforço de Benedita na Assembléia Nacional Constituinte, para inserir na Carta de 1988 esse artigo. "Infeliz do povo que não tem um representante para vir à tribuna e defendê-lo", concluiu.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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