Diagnóstico precoce viabiliza a cura, ressaltam especialistas de medicina

Aline Guedes | 25/09/2018, 09h31

Ele acabou de completar um ano de vida e daqui a pouco não se lembrará, mas Gabriel Avelar teve que utilizar órtese craniana por sete meses. Nascido com insuficiência respiratória, ficou cinco dias na UTI quando saiu da sala de parto. Embora as enfermeiras sejam orientadas a mudar o recém-nascido de posição a cada duas horas, não havia muito a ser feito com Gabriel devido aos aparelhos respiratórios. Resultado: ele sofreu plagiocefalia — alterações na forma do crânio geralmente devido à posição constante.

Assim que percebeu alterações no formato da cabeça, a mãe, Raquel Avelar, procurou o pediatra, que constatou a plagiocefalia. Ela ressaltou que o diagnóstico precoce foi fundamental para a rápida correção do problema.

— Foi um susto, porque a gente desconhecia esse tipo de problema — disse.

Segundo o neurocirurgião Luiz Márcio Marinho, quando não corrigida a tempo, a plagiocefalia pode trazer consequências funcionais, estéticas e neurológicas definitivas.

O diagnóstico precoce, como o que salvou Gabriel, ainda é um desafio no Brasil. Muitos problemas são detectados em fase avançada, impedindo ou atrapalhando o tratamento, como ressalta a geneticista Lavínia Schüler-Faccini, do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

— Quanto mais cedo se identificar qualquer tipo de doença, menos difícil será a implementação de medidas para uma cura rápida e efetiva.

Além de um estilo de vida mais saudável, identificar problemas cedo é importante para garantir tratamento adequado, conforme destacou o senador Eduardo Amorim (PSDB-SE), que é médico, em sessão especial para marcar o Dia Mundial do Rim, em março. Ele lamentou a falta de atenção do governo federal e a dificuldade para os pacientes encontrarem serviços como a diálise, por exemplo.

— Existe um verdadeiro descompasso. Em muitas localidades, há um vazio assistencial e pacientes precisam viajar horas e horas para ter atendimento — disse.

Programas de detecção de doenças durante os primeiros meses e anos de vida evitam males irreversíveis que podem custar caro às vítimas, às suas famílias e ao Estado. O Ministério da Saúde, no entanto, ainda não dispõe de ação específica com esse fim, ficando a cargo da população buscar atendimento e fazer exames periodicamente.

Check-up para adultos e exames ainda na maternidade são fundamentais

Para muitos homens, a bateria de exames de check-up é sinônimo de desperdício de tempo e dinheiro, mas os médicos recomendam que todas as etapas sejam cumpridas anualmente também pelas mulheres. A maioria dos fatores de risco para doenças metabólicas, cardiovasculares e os estágios iniciais do câncer, por exemplo, não apresentam sintomas, segundo o cardiologista Ivan Pereira Penna.

— Historicamente o homem tem mais tendência a ignorar sintomas, mas ele precisa de acompanhamento mais cedo do que a mulher, por questões hormonais — explicou.

Para bebês, exames como o teste do pezinho e da orelhinha devem ser feitos logo no berçário. O da orelhinha deve ser feito até o terceiro dia de vida para detectar deficiências auditivas. Já o do pezinho detecta várias doenças e deve ser feito até o quinto dia. A frequência cardíaca e os reflexos visuais também são avaliados ainda na maternidade.

Bebês prematuros ou com baixo peso precisam passar por mais de uma coleta. Segundo a pediatra Eridan Stefanelli, da Neonatologia dos Hospitais Regionais de Taguatinga e de Ceilândia (DF), todos os exames de triagem nos bebês estão disponíveis gratuitamente e previnem doenças que podem se desenvolver ao longo da vida, como sífilis e toxoplasmose.

Práticas integrativas ajudam a identificar problemas de saúde

Na busca de detectar possíveis problemas de saúde, há quem procure saídas fora da medicina tradicional. Uma dela é a iridologia. Seus praticantes acreditam que é possível identificar desequilíbrios com base em alterações nos padrões da íris, como explica o iridólogo Massao Honda. O especialista esclarece, porém, que essa análise não determina se uma pessoa sofre de uma doença intestinal, por exemplo, mas alerta para instabilidade ou inflamação nesse órgão.

— É uma técnica de diagnóstico precoce e de prevenção, revelando a origem do mal-estar físico, psíquico ou emocional. A partir daí, a gente aconselha o paciente a procurar o especialista médico tradicional — afirmou.

As práticas integrativas têm se intensificado nos últimos anos e hoje admitem a possibilidade de incorporar características da medicina tradicional. Tanto que o governo do Distrito Federal dispõe de um programa de práticas integrativas que tem como missão o desenvolvimento, a gestão e a produção de conhecimento na área, no âmbito do SUS. Entre as ferramentas do programa, estão a acupuntura, a arteterapia, a pintura e a música, para promover e facilitar a recuperação da saúde nos aspectos físico, emocional, mental e social.

Senado tem campanhas de conscientização e projetos de lei

O Senado tem atuado para conscientizar sobre a importância do diagnóstico precoce. Movimentos como a campanha Outubro Rosa, que estimula a prevenção do câncer de mama, e a Novembro Azul, que alerta para patologias masculinas, aumentam a discussão sobre o impacto do rastreamento, segundo a ginecologista e coordenadora-geral de Saúde do Senado, Daniele Calvano Mendes.

Este ano, o Senado participou até agora de 15 campanhas relacionadas à prevenção de doenças. Há sessões especiais como a que marcou o Dia Mundial do Rim, em 8 de março, e propostas como a que inclui no calendário oficial do país o Dia Nacional de Conscientização sobre a Síndrome de Edwards, que resulta em malformações congênitas que afetam cérebro, coração, rins e aparelho gastrointestinal.

Também se destacam projetos como o PLS 148/2016, que pretende assegurar o rastreamento de doenças no Sistema Único de Saúde (SUS). O texto, de Cristovam Buarque (PPS-DF), aguarda votação na Comissão de Assuntos Sociais (CAS). Na Câmara, aguarda votação o PL 6.575/2016, que torna obrigatória a coleta de dados e informações sobre pessoas com espectro autista nos censos demográficos do IBGE, a partir de 2020. Se aprovada, a proposta será encaminhada ao Senado. Estima-se que 70 milhões de pessoas no mundo tenham autismo, sendo 2 milhões no Brasil, mas até hoje nenhum levantamento foi feito no país para identificar essa população.

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Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)