22/11/2011

Cultura no Brasil

Para brasileiros, cultura recebe menos atenção e incentivo do que devia

A mobilidade histórica da sociedade brasileira e o fenômeno recente do surgimento de uma nova classe média parece que já estão mexendo com as expectativas de boa parte da população. Pesquisa nacional recém-concluída pelo DataSenado revela que a maioria dos brasileiros já quer mais que a tradicional prioridade para as questões de saúde, educação e segurança. Se 91% dos entrevistados atribuíram importância máxima às áreas de saúde e educação (nota 10, em uma escala de 1 a 10), nada menos que 56% deram essa mesma nota à cultura. Saúde, educação e segurança são prioridades, na avaliação da esmagadora maioria dos brasileiros. Mas o investimento em cultura não é dispensável e deve ser colocado, relativamente, à frente de gastos com esporte e turismo.

Realizada durante a primeira quinzena de novembro (de 31/10 a 14/11), a pesquisa sobre cultura no Brasil entrevistou 1.306 cidadãos, de todas as regiões do país. O nível de confiança dos resultados é de 95% e a margem de erro ficou em 3%. O levantamento descobriu, ainda, que 78% são contrários ao contingenciamento de recursos para o setor. A falta de equipamentos e opções culturais em muitas cidades, principalmente no interior, foram apontados como obstáculos a um maior desenvolvimento do setor. O efeito multiplicador dos investimentos em cultura, seja na geração de empregos, seja no estímulo a diversas atividades econômicas, também foram citados pelos entrevistados.

Maior apoio do governo é fundamental
Na opinião de 83% dos entrevistados, investir em cultura pode contribuir muito para o desenvolvimento econômico do país, enquanto apenas 3% disseram que esse tipo de incentivo não contribuiria. A percepção de que o fomento à área de cultura pode ser muito importante para o desenvolvimento da economia aumenta à medida que crescem os índices de escolaridade e de renda, alcançando 93% entre os cidadãos com diploma universitário e entre aqueles que recebem mais de 10 salários mínimos por mês.

Além disso, também existe a opinião de que o setor de cultura poderia gerar mais empregos e, consequentemente, movimentar mais recursos e renda: para 55%, a área de cultura gera pouco emprego; porém 70% afirmaram que o setor, com mais apoio do governo, poderia gerar muito mais postos de trabalho.

Quando perguntados sobre o principal problema para o desenvolvimento da área de cultura, 38% apontaram o pouco incentivo do governo, seguidos por 31% que disseram tratar-se de má gestão dos recursos. Entre os entrevistados com maior escolaridade e aqueles com maior renda, a opinião de que o dinheiro precisa ser melhor administrado é ainda maior: 46% para quem concluiu o Ensino Superior e 49% para quem recebe mais de 10 salários mínimos mensais. Enquanto isso, nas regiões Norte e Nordeste, a maior parte destacou o pouco apoio do governo – 52% e 40%, respectivamente.

Também foi lembrada como importante contribuição a diminuição da burocracia no setor. Mais de 20% dos cidadãos disseram que essa medida contribuiria para o desenvolvimento da área de cultura, número que atingiu 31% na Região Sul.

Mais da metade da população está fora do circuito cultural
O levantamento do DataSenado procurou conhecer os principais hábitos do brasileiro em relação à cultura e constatou que mais da metade da população esteve completamente fora do circuito convencional nos últimos 6 meses: 72% não foram ao teatro, 66% não visitaram exposição de arte, 54% não assistiram a um filme no cinema e 50% não foram a show ou concerto de música. Por outro lado, quando se trata de comparecimento a festas populares, esse número cai para 37%. E 35% disseram ter ido entre 2 e 5 vezes a essas manifestações culturais no último semestre.

É sabido que brasileiros com maior renda e mais escolaridade têm mais acesso a esses espaços e mais facilidade para frequentá-los. No entanto, os resultados da pesquisa revelam diferenças regionais que merecem atenção. Enquanto 43% dos que moram na região Sudeste disseram não ter ido ao cinema nos últimos 6 meses, essa porcentagem sobe para 68% no Norte. Contudo, quando se considera a participação em festas populares, 41% não frequentaram no Sudeste, caindo para 33% no Norte.

E quais seriam os motivos para essa ausência? As respostas mais comuns foram “não tem na cidade” e “falta de tempo”. Na Região Norte, 48% não foram ao cinema porque não há salas de exibição onde moram. Na Sudeste, apenas 14% indicaram esse motivo. E 35% responderam não ter tempo para assistir aos filmes em cartaz.

Mais uma vez, é preciso ressaltar os dados referentes a festas populares: 16% das pessoas disseram não ter ido por falta de opções na sua cidade. Para todos os demais espaços e eventos culturais, esse número fica sempre acima de 30%. Esses dados podem ajudar a explicar a opinião bastante difundida, compartilhada por 90% dos cidadãos, de que realizar eventos culturais em escolas, praças e espaços públicos é muito importante.

Direito autoral divide opiniões
Outro assunto recorrente quando se discute a produção cultural brasileira diz respeito aos direitos autorais dos produtores e às garantias oferecidas pela legislação. Os resultados evidenciam que esse tema demanda realmente discussão e debate, pois a opinião da população está dividida.

Mais de 50% disseram achar que uma pessoa não deve pagar direito autoral quando assiste a filmes, ouve músicas ou lê livros pela internet. Entre os participantes mais jovens essa opinião é a da maioria, com 66% das respostas para quem tem entre 16 e 19 anos.

Do mesmo modo, o pagamento de direito autoral por parte dos organizadores de eventos religiosos não é consensual. Por um lado, 49% disseram que eventos religiosos devem pagar direito autoral; por outro, 48% discordaram disso.

Por fim, a pesquisa buscou investigar o consumo de produtos piratas pelos brasileiros. Mais de 80% afirmaram conhecer alguém que comprou um filme, CD ou jogo pirata nos últimos 6 meses. O motivo que leva as pessoas a optarem por esses produtos não deixa dúvidas: para 96%, as pessoas compram produtos piratas porque são mais baratos do que os originais.